O Amor que Fingiu Ser Outro
img img O Amor que Fingiu Ser Outro img Capítulo 5 O Peso das Mentiras
5
Capítulo 6 A Humilhação Diante de Todos img
Capítulo 7 Vozes Atrás da Porta img
Capítulo 8 O Primeiro Passo img
Capítulo 9 Entre Provas e Desafios img
Capítulo 10 Entre Dois Mundos img
Capítulo 11 Vozes Que se Cruzam img
Capítulo 12 Entre Sussurros e Armadilhas img
Capítulo 13 Entre Olhares e Armadilhas img
Capítulo 14 O Baile das Máscaras img
Capítulo 15 Entre Desejo e Obsessão img
Capítulo 16 O Início da Tempestade img
Capítulo 17 A Viagem img
Capítulo 18 O Beijo e a Sombra img
Capítulo 19 O Escudo e a Sombra img
Capítulo 20 Entre o Fogo e a Sombra img
Capítulo 21 O Escândalo img
Capítulo 22 O Primeiro Ataque img
Capítulo 23 Entre a Luz e a Escuridão img
Capítulo 24 O Cerco img
Capítulo 25 O Alvo Errado img
Capítulo 26 O Baile das Máscaras img
Capítulo 27 Entre a Justiça e o Abismo img
Capítulo 28 Caça às Sombras img
Capítulo 29 As Provas e a Ferida img
Capítulo 30 A Tentativa de Silêncio img
Capítulo 31 O Desmoronar da Máscara img
Capítulo 32 Vozes Silenciadas img
Capítulo 33 O Embate img
Capítulo 34 As Cinzas da Farsa img
Capítulo 35 Entre o Amor e a Sombra img
Capítulo 36 Refúgio no Meio da Tempestade img
Capítulo 37 À Luz dos Olhos Alheios img
Capítulo 38 Ecos de Ameaça img
Capítulo 39 O Contra-Ataque img
Capítulo 40 O Tribunal das Sombras img
Capítulo 41 Vozes e Máscaras img
img
  /  1
img

Capítulo 5 O Peso das Mentiras

O vento daquela tarde de domingo balançava as cortinas da sala como se trouxesse recados de um mundo distante. Eu estava sentada no sofá, observando os móveis que antes pertenciam a uma vida feliz, agora transformados em lembranças sufocantes. Rafael caminhava pelo cômodo, falando de trivialidades, como se fosse natural estar ali, como se o espaço lhe pertencesse tanto quanto a mim.

Foi então que ele fez aquilo.

Ao se aproximar da estante, seus dedos tocaram uma pequena escultura de porcelana - um anjo que Daniel me dera no nosso primeiro aniversário de casamento. Rafael sorriu de canto, inclinando a cabeça de forma idêntica ao gesto que Daniel fazia sempre que zombava da minha mania de colecionar coisas frágeis.

- Você ainda guarda isso - disse ele, sem pensar.

A frase me atravessou como uma adaga. "Ainda guarda." Como alguém que nunca viveu comigo poderia saber que aquele objeto tinha resistido a tantas mudanças, a tantas brigas e reconciliações?

Fiquei em silêncio, mas meu coração disparava. Talvez fosse coincidência. Talvez tivesse ouvido a história em alguma ocasião com a família. Mas quando ele se virou, sorrindo, percebi nos seus olhos a mesma malícia cúmplice de Daniel. Era íntimo demais. Preciso demais.

Nos dias seguintes, outras pequenas fissuras começaram a se abrir na máscara que ele usava. À noite, ao fechar a janela, cantava baixinho uma música antiga que Daniel costumava entoar para me acalmar quando eu tinha insônia. No jantar, pediu exatamente a mesma sobremesa que o meu marido sempre escolhera em nossos encontros. E quando segurou minha mão para me ajudar a atravessar a rua, apertou de um jeito tão familiar que meus joelhos quase cederam.

Era como se Daniel estivesse ali, escondido sob um disfarce mal ensaiado. E ainda assim, quando eu ousava encarar essa possibilidade, me sentia louca. A família o aceitava como Rafael, o irmão gêmeo secreto. E eu? Eu era a única a tropeçar em contradições.

Foi nesse turbilhão que Laura começou a mostrar sua verdadeira face.

No início, havia uma gentileza ensaiada, cumprimentos cordiais, sorrisos delicados. Mas bastaram alguns encontros para que suas palavras se tornassem afiadas como navalhas, escondidas atrás de uma voz doce.

- Helena, querida - disse ela certa noite, durante o jantar de família. - Você realmente deveria mudar esse corte de cabelo. Parece... antiquado. Daniel sempre dizia que você tinha potencial para brilhar mais.

O nome dele nos seus lábios fez meu estômago revirar. Olhei ao redor da mesa, esperando alguma reação, algum protesto. Mas não. Dona Amélia sorriu constrangida, o sogro baixou os olhos para o prato, e os demais continuaram a conversa como se nada tivesse acontecido.

Era como se a minha dor fosse invisível. Como se todos estivessem dispostos a me oferecer em sacrifício para que aquela mentira seguisse respirando.

Na semana seguinte, Laura me humilhou outra vez. Estávamos escolhendo flores para a cerimônia de noivado dela com Rafael. Enquanto eu tocava distraída em um buquê de lírios, ela se inclinou para mim e sussurrou:

- Engraçado, não é? Você de luto e eu de noiva... com o mesmo homem.

Meu coração parou. Não sei como consegui me manter de pé. O mais cruel foi olhar para o lado e ver Rafael - ou Daniel, ou seja lá quem fosse - nos observando em silêncio, sem mover um músculo para me defender.

Naquele instante, entendi. Não era apenas Laura contra mim. Era toda uma família, todo um círculo de cumplicidade que me queria calada, submissa, esmagada. Eles sabiam. Todos sabiam. E eu era a única que ainda se permitia acreditar em uma versão da história que não passava de um teatro maldito.

Naquela noite, trancada em meu quarto, chorei até não restar mais lágrimas. Não era apenas a ausência de Daniel que me destruía, mas a presença sufocante de sua farsa. O homem que me prometera amor eterno agora se escondia atrás do nome de um irmão inventado, trazendo para dentro da minha casa a mulher que sempre amara.

E eu? Eu estava sozinha, sem aliados, sem voz.

Foi então que algo em mim começou a mudar. A dor, tão afiada até então, começou a se transformar em outra coisa. Em algo silencioso, mas firme. Eu não gritava mais, não implorava mais. Apenas observava, com olhos que finalmente aprendiam a ver além das aparências.

Laura podia sorrir, a família podia rir às minhas costas, Rafael podia sustentar sua máscara. Mas eu começava a preparar meu coração para o inevitável.

A mentira podia ser perfeita. Mas um dia, ela cairia.

E quando caísse, eu estaria pronta.

                         

COPYRIGHT(©) 2022