Quando ela alcançou um pedaço particularmente afiado, soltou um pequeno grito teatral. Uma única gota de sangue brotou na ponta de seu dedo.
"Ai."
"Lila!" Caio estava ao seu lado em um instante, seu rosto uma máscara de preocupação frenética. Ele pegou a mão dela gentilmente, examinando o minúsculo corte como se fosse uma ferida mortal. "Você está bem? Dói?"
Ele tirou um lenço e limpou cuidadosamente o sangue, seu toque infinitamente terno. Ele nem sequer olhou para mim, ou para as ruínas da minha honra espalhadas pelo chão. Minha dor era invisível para ele. A performance dela era tudo o que ele conseguia ver.
Uma onda de fúria incandescente queimou através da minha dor. Eu a vi como ela era - uma predadora em pele de cordeiro.
"Você fez isso de propósito", eu disse, minha voz baixa e trêmula.
Os olhos de Lila se arregalaram, enchendo-se de lágrimas de crocodilo.
"O quê? Não, eu nunca..."
"Eu quero ver a gravação de segurança", exigi, minha voz ficando mais forte. "O saguão tem um cristal de monitoramento mágico. Ele vai mostrar tudo."
A cabeça de Caio se ergueu bruscamente, seus olhos ardendo de fúria. Ele se ergueu em toda a sua altura, a força pura de sua presença Alfa pressionando-me, tornando o ar denso e difícil de respirar.
"Chega", ele rosnou, o som vibrando em meu peito. Não era um Comando de Alfa completo, mas estava perto, um aviso que fez meu lobo interior choramingar e abaixar as orelhas. "Peça desculpas à Lila. Agora."
"Eu não tenho nada pelo que me desculpar", retruquei, minha própria ousadia me surpreendendo.
"Ela é sua futura Luna! E você a acusa de ser maliciosa por causa de um lixo inútil?", ele gesticulou com desdém para o cristal quebrado. "Você sempre foi uma Ômega invejosa e rancorosa, Seraphina."
Ele se virou para Lila, sua expressão suavizando instantaneamente. Ele segurou o rosto dela, seu polegar acariciando sua bochecha.
"Não chore, meu amor. Não vou deixar que ela te aborreça."
Então ele olhou para mim, seu rosto se contorcendo de raiva. Ele levantou a mão, e por um segundo aterrorizante, pensei que ele ia me bater.
Ele se conteve, sua mão tremendo levemente, mas a intenção pairava no ar entre nós, tão feia e afiada quanto o vidro quebrado no chão.
"Saia", ele rosnou, sua voz um comando baixo e perigoso. "Saia do meu prédio. Saia do meu território. E nunca mais me deixe ver seu rosto."
A finalidade de suas palavras foi um golpe físico. O laço invisível que eu pensei que compartilhávamos, aquele que eu nutri por anos, se partiu. Uma dor lancinante, pior do que qualquer ferimento físico, rasgou minha alma.
Virei-me e fui embora, sem me preocupar em pegar um único pedaço do meu passado quebrado. Empurrei as pesadas portas de vidro e saí para a chuva torrencial, as gotas frias se misturando com as lágrimas quentes que escorriam pelo meu rosto.
Enquanto eu caminhava, as luzes da cidade se transformando em uma aquarela sem sentido, uma memória surgiu. Quatorze anos. Guerreiros mais velhos zombando de mim, quebrando uma pequena escultura de treinamento de madeira que eu havia esculpido. Caio, já irradiando autoridade, me encontrou chorando. Ele os afugentou, depois ficou acordado por horas, colando meticulosamente os pedaços quebrados do meu pequeno lobo de madeira.
Ele havia consertado o que estava quebrado então. Agora, era ele quem estava quebrando.
Finalmente cheguei à minha pequena casa designada para Ômegas na borda das terras da alcateia, encharcada até os ossos e tremendo incontrolavelmente. A dor da rejeição, a chuva fria, a pura exaustão emocional - tudo desabou sobre mim. Uma febre tomou conta, meu corpo queimando em um momento e congelando no outro.
Perdi a noção do tempo, flutuando em uma névoa de doença e miséria. Poderia ter sido dois dias depois quando minha porta foi arrombada com um estrondo ensurdecedor.
Eu me sentei na cama, minha cabeça girando.
O Alfa Caio estava na porta, sua figura preenchendo-a completamente. A chuva pingava de seu cabelo, seus olhos estavam selvagens com uma fúria aterrorizante, e sua aura Alfa era uma onda sufocante de pura ameaça.
Ele marchou até minha cama, me agarrou pela garganta e me ergueu dos travesseiros. Seu aperto era como ferro, cortando meu ar.
Ele se inclinou, sua voz um rosnado baixo e aterrorizante que era puro Comando de Alfa, compelindo uma resposta, arrancando a verdade da minha própria alma.
"Onde você a levou?", ele rosnou, seu hálito quente em meu rosto. "Onde você escondeu a Lila?"
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