Meus dedos roçaram em tecido molhado. Agarrei, puxando com toda a minha força, lutando contra a lama sugadora e o peso morto de seu corpo inconsciente. Finalmente a arrastei para a margem, seu rosto com uma tonalidade azul aterrorizante, seu peito imóvel.
"Curandeiros!", gritei através do Elo Mental, derramando cada grama da minha vontade no chamado. "Ajudem-me! No Pântano das Águas Negras! Por favor, ajudem minha mãe!"
Pareceu uma vida inteira antes que os Curandeiros da alcateia chegassem. Eles trabalharam incansavelmente por três horas, usando ervas antigas e canalizando a fraca luz da lua através das nuvens de tempestade para extrair o veneno do pântano de seus pulmões. Finalmente, uma respiração fraca e ruidosa escapou de seus lábios. Ela estava viva. Mas os Curandeiros me avisaram que a água tóxica havia agravado severamente sua antiga lesão pulmonar. Ela nunca mais seria a mesma.
Quando ela acordou no quarto branco e estéril da enfermaria da alcateia, sua primeira palavra sussurrada foi meu nome.
"Sinto muito, mãe", engasguei, lágrimas que pensei não ter mais escorrendo pelo meu rosto. "Isso tudo é culpa minha. Fui tão estúpida em pensar que ele algum dia se importou comigo."
Ela apertou minha mão, seu toque frágil, mas firme.
"Ele não tentou apenas me afogar, minha filha", ela sussurrou, sua voz um arranhão, mas seus olhos eram como aço. "Ele tentou afogar nosso espírito. Nós nunca o deixaremos."
A porta rangeu e Caio entrou. Ele não olhou para mim. Ele se dirigiu à minha mãe, seu tom sem remorso e frio.
"Fico feliz em ver que você está se recuperando. É lamentável que isso tenha acontecido, mas sua filha não me deu escolha. Ela sequestrou minha futura Luna."
Ele saiu tão rápido quanto chegou, deixando um rastro de fúria gelada em seu rastro.
No dia seguinte, buscando um momento de paz, desci ao pátio da enfermaria, onde uma fonte dedicada à Deusa da Lua borbulhava suavemente. Foi quando vi Lila, acompanhada por sua avó idosa em uma cadeira de rodas. Um jovem enfermeiro Ômega estava passando, e vi seus olhos se arregalarem por um segundo com a cena antes que ele rapidamente desviasse o olhar e apressasse o passo. Eles não tinham me visto.
"...e você deveria ter visto o rosto dele!", Lila estava dizendo, sua voz um sussurro triunfante. "Ele era como uma marionete em uma corda. Um Alfa poderoso, e tudo que eu tenho que fazer é chorar um pouco, e ele queimará o mundo por mim. Ele é tão fácil de treinar."
Meu sangue gelou.
Lila então se virou e me viu. Seus olhos se arregalaram, mas ela se recuperou instantaneamente, colocando uma expressão preocupada no rosto.
"Seraphina! Fico tão feliz em te ver. Quero me desculpar por todo o problema com o... sequestro. Eu sei que você não quis dizer isso."
Seus olhos piscaram em direção à ala da enfermaria onde minha mãe estava.
"Espero que sua mãe se recupere. Seria uma pena para uma Ômega tão... frágil... sofrer por causa dos erros de sua filha."
A ameaça velada, o insulto à minha mãe, me fez ver vermelho. Antes que eu pudesse falar, ela deu um passo mais perto, seus olhos brilhando com malícia.
"Sabe", ela sussurrou, "ele é meu agora. Completamente."
Então, ela fez o impensável. Enquanto eu dava um passo furioso em sua direção, ela agarrou minha mão estendida e a puxou para frente, empurrando violentamente minha própria mão contra a cadeira de rodas de sua avó.
A cadeira tombou de lado com um rangido doentio de metal na pedra. A velha senhora caiu, aterrissando com um respingo na água rasa da fonte da Deusa da Lua.
"Vovó!", Lila gritou, sua voz cheia de angústia.
Passos ecoaram pelo corredor. Caio invadiu o pátio, seus olhos captando a cena: eu parada com a mão estendida, Lila ajoelhada e soluçando perto da fonte, e sua avó engasgando na água.
"O que você fez?", ele rugiu, seu olhar fixo em mim.
Lila olhou para ele, lágrimas escorrendo por seu rosto perfeito.
"Ela a empurrou, Caio! Seraphina empurrou minha avó! Ela disse... ela disse que estava se vingando por sua mãe!"
O rosto de Caio era uma nuvem de pura fúria. Ele caminhou em minha direção, ignorando minhas negações gaguejadas.
"Você é um monstro", ele sibilou.
Ele não hesitou. Sua mão voou pelo ar, o estalo dela conectando com minha bochecha ecoando no pátio silencioso. A força do golpe virou minha cabeça para o lado, minha pele ardendo, meu orgulho se quebrando.
Ele não tinha terminado. Ele me esbofeteou novamente, na outra bochecha, com a mesma força.
"Ajoelhe-se", ele ordenou, sua voz atada com o poder inegável do Comando do Alfa. Meu corpo me traiu, minhas pernas cedendo enquanto a ordem inundava meus sentidos. "Ajoelhe-se e peça desculpas à Lila e à avó dela."
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