Abandonar a Traição Mortal, Abraçar uma Nova Vida
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Capítulo 2

O rosto de Fernando era uma máscara de terror. "A Helena está no hospital. Ela começou a ter uma hemorragia. Eles precisam de sangue. Muito sangue."

Ele desligou e agarrou o braço de Clara, seu aperto como um torno. "Temos que ir. Agora."

"O quê? Por que eu?" Clara tentou se livrar do braço dele, a violência súbita de seu aperto a chocando. Este não era o homem de luto e arrependido de um momento atrás; era alguém desesperado e implacável.

"O tipo sanguíneo dela," ele disse, arrastando-a em direção à porta. "É raro. AB negativo. Igual ao seu. O banco de sangue do hospital está baixo. Você é a única que pode doar a tempo. Você tem que salvá-la, Clara."

A audácia de sua exigência era estonteante. Ele queria que ela salvasse a mulher que acabara de destruir sua vida. Ele não estava pedindo; estava ordenando.

"Não," disse Clara, fincando os pés no chão. "Me solta, Fernando. Eu não vou a lugar nenhum."

"Deixa de ser egoísta!" ele rugiu, o rosto contorcido de fúria. "Estamos falando da vida de uma pessoa! O que quer que tenha acontecido entre nós, você não pode deixá-la morrer!"

Ele a estava arrastando para fora de casa agora, seus dedos cravando dolorosamente em sua pele. A pesada aliança em seu dedo, aquela que deveria simbolizar seu amor eterno por ela, pressionava sua carne.

"Ela é uma mulher morrendo, Clara! Você é tão sem coração a ponto de ver alguém morrer por despeito?" ele gritou enquanto a empurrava e puxava para dentro de seu carro.

As palavras eram uma forma brutal de chantagem moral. Ele estava transformando a compaixão dela em uma arma contra ela. No turbilhão caótico de dor e confusão, uma pequena e exausta parte dela cedeu. Uma vida era uma vida. Mesmo a de Helena.

O hospital era um borrão de luzes fluorescentes e o cheiro antisséptico de medo. Fernando não soltou seu braço por um segundo, puxando-a pelos corredores até chegarem ao centro de transfusão.

"Ela precisa de sangue, agora!" ele gritou para uma enfermeira assustada. "O nome dela é Helena Corrêa. Esta é a doadora."

Uma enfermeira rapidamente preparou o braço de Clara. Enquanto ela se sentava na cadeira fria, a mente de Clara estava em parafuso. Ela estava prestes a dar seu próprio sangue, sua força vital, para a mulher que roubou seu noivo e a humilhou na frente de todos que ela conhecia. O absurdo era tão profundo que beirava a loucura.

Ela tentou puxar o braço de volta uma última vez. "Fernando, eu não consigo fazer isso."

"Você vai," ele disse, sua voz baixa e ameaçadora. Ele se moveu para trás da cadeira dela, colocando as mãos firmemente em seus ombros, prendendo-a no lugar. "Faça," ele ordenou à enfermeira.

A agulha foi uma picada fria e aguda. Clara se encolheu, uma lágrima de pura e absoluta humilhação escorrendo por sua bochecha. Ela observou, entorpecida, enquanto seu sangue vermelho escuro fluía pelo tubo transparente, deixando seu corpo para ir salvar sua rival. As mãos de Fernando nunca deixaram seus ombros, um peso pesado e possessivo que parecia mais uma jaula do que um conforto.

O mundo começou a girar enquanto a bolsa enchia. 450 mililitros. Uma doação padrão, mas após a devastação emocional do dia, seu corpo se sentia esgotado, esvaziado. Pontos pretos dançavam diante de seus olhos.

"Pronto," disse a enfermeira, colando um algodão em seu braço.

No segundo em que a agulha saiu, Fernando a soltou. "Graças a Deus," ele suspirou, seu alívio palpável. Nesse momento, um médico saiu correndo de uma sala de cirurgia próxima.

"Sr. Ferraz! Nós a estabilizamos, mas ela está perguntando por você."

Fernando não hesitou. Ele nem mesmo olhou para trás, para Clara. Ele correu em direção à sala de cirurgia, seu foco inteiramente em Helena.

Enquanto ele corria, Clara tentou se levantar. Suas pernas fraquejaram. O mundo inclinou-se para o lado, e ela desabou, sua cabeça batendo com força na quina de um carrinho de suprimentos médicos de metal.

O carrinho balançou, e uma pesada bandeja de instrumentos de aço inoxidável caiu, atingindo-a na cabeça e nos ombros. Uma dor aguda e ofuscante explodiu atrás de seus olhos, e então, tudo ficou preto.

A última coisa que ela viu foi as costas de Fernando enquanto ele desaparecia pelas portas da sala de cirurgia, um ato final e definitivo de abandono.

...

Quando Clara acordou, a primeira coisa que registrou foi a dor surda e latejante em sua cabeça. Ela estava em um quarto de hospital particular. Fernando estava sentado em uma cadeira ao lado de sua cama, a cabeça entre as mãos. Ele olhou para cima quando ela se mexeu, seus olhos vermelhos e cheios de uma espécie de culpa cansada.

"Clara, você acordou," ele disse, sua voz rouca. "Me desculpe. Eu não vi você cair. Eu estava tão preocupado com a Helena..."

Ela apenas o encarou, seus olhos vazios. O pedido de desculpas parecia um eco oco no quarto estéril. Desculpe por não tê-la visto se machucar, não por ser a causa disso.

"Não fale," ela disse, sua voz um sussurro seco. Sua garganta estava dolorida.

"Eu fui tão estúpido e rude com você," ele continuou, ignorando-a. Ele estendeu a mão para pegar a dela, mas ela a puxou para longe. "Eu prometo, Clara. Eu nunca, nunca mais vou te tratar assim. Assim que a Helena... se for... tudo vai voltar a ser como era. Você e eu. Eu prometo."

Uma risada fria e amarga ameaçou borbulhar de seu peito. Voltar a ser como era? Ele havia estilhaçado o mundo deles e agora estava prometendo colar os pedaços com palavras vazias. Ele estava tão consumido por seu papel de nobre salvador de Helena que não conseguia ver a destruição que deixara para trás.

Ele tentou cuidar dela. Trazia suas refeições, afofava seus travesseiros e falava com ela em um tom suave e apaziguador. Mas sua atenção estava fraturada. Seu celular vibrava constantemente com atualizações do quarto de Helena. Ele estaria no meio de dar a Clara uma colherada de sopa, então seus olhos se desviavam para a tela, sua expressão se suavizando com uma ternura que não era mais para ela.

Uma tarde, enquanto tentava ajudá-la a se sentar, o celular dele tocou. Ele atendeu, seu foco mudando imediatamente. "Ela acordou? Está pedindo alguma coisa?"

Distraído, ele soltou o braço de Clara cedo demais. Ela escorregou de forma desajeitada, seu ombro machucado torcendo ao bater na grade da cama. Um grito agudo de dor escapou de seus lábios.

Fernando encerrou a ligação abruptamente, seu rosto uma confusão de culpa e frustração. "Me desculpe, me desculpe mesmo, Clara."

"Saia," ela disse, sua voz perigosamente quieta. "Apenas saia, Fernando. Vá ficar com ela. Você não me serve para nada aqui."

"Clara, eu posso te compensar," ele implorou, sua voz falhando. "Vou passar o resto da minha vida te compensando."

Mas as promessas dele eram como cinzas em sua boca. Ela fechou os olhos, excluindo-o. Não havia mais nada a dizer. Ele era um estranho agora, um homem cujo coração batia por outra pessoa. O futuro deles, aquele que ela havia projetado com tanto cuidado, fora demolido, e ele estava de pé nos escombros, pedindo a ela para admirar a vista.

            
            

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