Ela empurrou Helena para longe do gato aterrorizado, fazendo-a cambalear para trás. Clara pegou Marmelada, que estava tremendo e choramingando, uma mancha de sangue em suas patas brancas.
"Sua monstra," Clara sussurrou, sua voz tremendo de fúria. Ela olhou para o animal choramingando em seus braços, seu coração se partindo.
Helena, recuperando-se do empurrão, soltou uma risada fria e zombeteira. "Ele é meu agora. Fernando me deu. Posso fazer o que eu quiser com ele."
"Você é doente," Clara sussurrou, segurando seu gato protetoramente.
Foi quando ela perdeu o controle. As semanas de dor, humilhação e luto se uniram em uma única explosão cinética de fúria. Ela balançou a mão e deu um tapa forte no rosto de Helena. O som ecoou no quarto silencioso.
Nesse momento, a porta do banheiro se abriu e Fernando saiu, uma toalha enrolada na cintura. Ele viu a cena em um instante: Clara de pé sobre uma Helena chorando, que segurava a bochecha, uma marca de mão vermelha já florescendo em sua pele.
"Clara!" Helena soluçou, correndo para ele. "Ela me atacou! E o gato... o gato me mordeu de novo! Olha!" Ela mostrou o pulso, onde marcas de dentes claras agora sangravam livremente.
"Ela estava machucando ele!" Clara gritou, sua voz rouca. "Eu vi! Ela o bateu contra a parede!"
"Isso é mentira!" Helena lamentou. "Eu estava tentando alimentá-lo, e ele simplesmente enlouqueceu! Então ela entrou e me bateu!"
O rosto de Fernando era de pedra. Ele olhou para a ferida sangrando no pulso de Helena, depois para a expressão furiosa de Clara. Ele não precisou deliberar. Sua escolha já estava feita.
"Já chega disso, Clara," ele disse, sua voz desprovida de qualquer calor. Ele se aproximou de Helena, envolvendo-a com um braço protetor. "Este animal é uma ameaça." Ele se virou para um segurança que aparecera na porta, atraído pelo barulho. "Leve o gato. Tire-o desta casa."
"O que você vai fazer?" Clara perguntou, seu sangue virando gelo.
"Ele é um perigo para a Helena. Precisa ser sacrificado," Fernando disse, sua voz monótona e final. "Uma injeção rápida e indolor. É mais humano assim."
"Não!" Clara gritou, um som de puro desespero animal. Ela apertou Marmelada contra o peito. "Você não pode! Ele é meu gato! É tudo o que me resta!"
"Pelo amor de Deus, Clara, cresça!" Fernando retrucou, sua paciência esgotada. "É um animal! Helena é um ser humano morrendo! Minha prioridade é ela!"
O segurança se moveu em direção a ela. Clara recuou, protegendo Marmelada com seu corpo. "Não toque nele! Não se atreva a tocar nele!"
Fernando deu um aceno seco para o segurança. O homem grande avançou, suas mãos se fechando nos braços de Clara. Ela lutou, chutou e gritou, mas não era páreo para ele. Ele arrancou o gato aterrorizado de seu alcance.
Marmelada soltou um último e comovente miado enquanto era levado.
"Fernando, por favor!" ela soluçou, caindo de joelhos, sua força se esvaindo. "Por favor, não faça isso. Estou te implorando."
Ele olhou para ela, seu rosto uma máscara fria e indecifrável. "Isso é para o seu próprio bem, Clara. Você está muito apegada. Não está pensando com clareza."
O segurança já estava saindo pela porta. Clara se levantou cambaleando e correu atrás dele, seus pés descalços batendo no chão de mármore frio. Ela viu o segurança entrar em um carro preto, a caixa de transporte do gato visível no banco de trás.
"Marmelada!" ela gritou, batendo na janela do carro enquanto ele começava a se afastar. "Me desculpe! Me desculpe mesmo!"
O carro acelerou, deixando-a em uma nuvem de fumaça. Ela correu atrás dele, seus pulmões queimando, lágrimas embaçando sua visão. Correu até suas pernas cederem, e ela tropeçou, seus joelhos se arranhando no asfalto.
Ela ficou ali, soluçando, enquanto as luzes traseiras do carro desapareciam na noite. "Eu te odeio," ela sussurrou para a estrada vazia, as palavras uma promessa venenosa. "Fernando Ferraz, eu te odeio."
Sua cabeça bateu no pavimento com um baque surdo enquanto o resto de sua força a abandonava. O mundo escureceu, e pela segunda vez em poucas semanas, ela perdeu a consciência na esteira de sua crueldade. Seu coração, já partido, agora parecia ter sido arrancado e pisoteado na poeira. Estava morto. Total e completamente morto.