Quando toda aquela multidão se dispersou, me ajoelhei ao lado do túmulo e Simon e depositei uma rosa branca sobre a terra.
- Por que você fez isso, irmão? - questionei sentindo o coração pesado - Por que você não pôde esperar por mim? Por que não pôde viver mais um dia?
Senti a presença de alguém atrás de mim, então, me levantei e me virei em direção daquela pessoa.
Era aquela mulher.
A mesma mulher que chorava ao lado do caixão do meu irmão, agora estava parada a minha frente.
O rosto pálido, lábios esbranquiçados e roupas encharcadas pela chuva.
Seus olhos estava inundados de lágrimas.
- Simon! - ela disse com a voz fraca, erguendo a mão e para tocar o meu rosto - É você? Você está aqui? Você voltou?
Quando seus dedos finos e frios tocaram minha face, seus olhos se reviraram e ela pendeu para trás. Desmaiando.
Me apressei em segurar seu corpo, para que ela não caísse no chão.
- Sabrina! - uma voz feminina se fez ouvir.
Uma mulher aparentando ter a mesma idade que ela corria ao nosso encontro.
- Sabrina! - ela repetia alto, chamando a atenção de outras pessoas - Alguém liga para o socorro.
- Hora atual -
- Sabrina Hart! - ela repetiu - Ela era amiga do seu irmão.
- Por que foi ela quem o encontrou? - questionei - Ele não estava aqui?
- Parece que Simon e Sabrina combinaram de se ver para comemorar a promoção dela no trabalho, mas o Simon não apareceu! - ela contou - Sabrina veio até aqui para perguntar o motivo, então ela o encontrou morto. Na banheira.
Então, foi assim?
Que nível de intimidade os dois tinha para que ela até mesmo entrasse no banheiro do quarto dele?
Ela desmaiou quando me viu.
E ela também me chamou de Simon.
Ela pensou que eu fosse o meu irmão e desmaiou logo em seguida.
Por que?
Por que ela estava chorando tanto no enterro? Por que desmaiou?
Seria choque por sermos quase iguais, ou culpa por algo?
Eu não sabia a resposta. Mas queria muito descobrir.
"Sabrina Hart, quem é você, e o que você significou para o meu irmão?"
Sabrina:
Abri os olhos encarando a claridade do teto.
Minha mente estava nublada. Eu mal me lembrava do que aconteceu depois do enterro.
- Sabrina, você acordou! - a voz de Silvia ecôou longe, mesmo ela estando tão perto de mim - Eu sabia que iria acabar passando mal. Você não come nada há dois dias. Qual o sentido disso?
Devagar, eu voltei a ouvir normalmente.
- Acha que o Simon iria gostar de te ver se desgastando desse jeito? - ela perguntou.
- O que aconteceu? - perguntei ao me sentar sobre o leito hospitalar - Como eu vim parar aqui?
- Olha só, você nem se lembra! - ela reclamou carrancuda - Você insistiu em voltar para se despedir direito do Simon, mesmo contra a minha vontade. Quando eu cheguei ao túmulo dele, você já havia desmaiado nos braços do irmão dele.
- Irmão? - não. Definitivamente era o Simon. Eu vi ele. Eu tinha certeza de que era o Simon.
- O irmão do Simon que mora na Inglaterra! - ela contou - Eu só soube ontem que ele viria. Mas, o vôo atrasou e ele só chegou a tempo de ver o enterro.
- Está dizendo que era o irmão dele? - questionei - Por que ele se parecia exatamente com o Simon?
- Você não sabia? - ela questionou fazendo uma careta de surpresa - Eles eram gêmeos!
Gêmeos?
- Duas semanas antes -
- Você parece feliz! - comentei ao vê-lo sorrir para o papel - Por acaso, isso é uma carta de amor?
- Sim! - Simon sorriu animado - O amor mais puro e genuíno do mundo.
- Nossa, você está mesmo disposto a me deixar com ciúmes heim! - resmunguei - Quem é ela?
- Como é? - ele perguntou - Eu quis dizer que é o meu irmão. É uma carta do meu irmão!
- Do seu irmão? - sorri sem graça - O que mora em Londres?
- E eu tenho outro irmão para quem eu envio cartas? - ele questionou - Você sabe bem que ele é a metade da minha alma.
- Você é tão cafona! - resmunguei - Você vai para Londres de novo?
- Não. Desta vez é ele quem vai vir para Portland! - ele contou.
- A Madeleine deve ter ficado feliz com a notícia.
- Ela não sabe! - Simon negou - Eles dois não tem uma boa relação. Você sabe. Meu pai levou o Maxon embora quando se divorciou da minha mãe. Agora, meu irmão e eu só nos vemos uma ou duas vezes por ano. Acredite, se a nossa mãe soubesse, o Maxon nem sequer cogitaria a idéia de vir para Portland. Ele não quer ver ela.
Eu sabia que a relação entre as pessoas da família do Simon era complicada, mas não imaginava que fosse tanto a ponto do filho nem sequer avisar a mãe que estaria vindo para o país.
- E você parece se importar muito com o que ele quer ou não! - falei.
- Claro que sim. Fomos gerados em uma mesma bolsa, o que ele pensa e sente é mesmo importante para mim! - ele disse de uma forma carinhosa - Como eu disse, o amor mais puro e genuíno de todos. Ele é a pessoa mais importante do mundo para mim.
- Nossa, falando assim me deixa ainda mais enciumada do que se fosse uma mulher! - reclamei.
- Deixa de drama! - ele disse depositando um beijo no topo da minha cabeça - Você sabe bem que mesmo eu tendo um irmão gêmeo, você sempre vai ter um lugar especial no meu coração. Que tal assim, você e o Maxon são as duas pessoas que eu mais amo.
- Assim está melhor! - sorri para ele.
- Que tal isso, quando ele vier em dois meses, eu vou apresentar vocês dois! - ele sugeriu - o que acha?
- Dias atuais -
- O nome dele é Maxon! - comentei.
- Então, você já o conhecia? - Silvia questionou - Você...
- Eu nunca tinha visto ele antes! - contei - O Simon disse que tinha um irmão gêmeo, mas eu nunca pensei que eles fossem tão parecidos.
- A semelhança é mesmo assustadora! - ela concordou - Eu mesma teria ficado aterrorizada ou desmaiado se não soubesse que eles eram gêmeos.
O que eu estava pensando?
Que o Simon tivesse voltado?
Ele não iria voltar mais. Havia me abandonado. Me deixado para sempre.
Mesmo depois de me prometer que nunca me abandonaria, como a minha mãe fez, mesmo assim, ele me abandonou sem pensar duas vezes.
"Simon Ravenwood, você não cumpriu sua promessa!"
- Eu quero ir para casa! - falei.
- Você deveria ficar em observação por mais algum tempo! - Silvia insistiu - E além do mais, não é bom que você fique sozinha depois de tudo o que passou.
- Eu estou bem! - declarei - Só quero ir logo para casa!
- Tudo bem! - ela concordou - Mas, eu vou com você!