Mas eu sabia bem. Eu me lembrava daquele dia como a palma da minha mão.
Era nosso aniversário de vinte e um anos, e apesar de odiar coisas e lugares frios, eu escolhi como nosso destino um lugar com muita neve, porque ele adorava.
Naquele dia Simon estava tão feliz que mal conseguia parar de sorrir.
E naquela foto ele estava sorrindo.
"- Esse é o melhor presente de aniversário do mundo irmão, obrigado!"
Foi o que ele disse.
Existia sim certeza beleza na imensidão de neve fria e branquinha, mas para mim, apenas para ser admirada.
Eu detestava ser tocado por aquela água fria que caía em flocos, por ele eu estava aguentando. Porque sabia que ele adorava aquilo, e ele era o bem mais importante que eu tinha.
- Por que você fez isso, Simon? - questionei sentindo os olhos arderem ao olhar para a foto.
Simon sempre foi tão alegre e cheio de vida. Por que, do nada, ele resolveria tirar a própria vida?
Tinha algum motivo por trás disso, eu tinha certeza absoluta. Ele não iria começar a ter pensamentos suicidas do nada.
E eu iria descobrir, e me vingar, para que a sua alma descansasse em paz.
Na parede haviam fotos de Simon com algumas pessoas. A maioria deles homens. Provavelmente seus amigos da faculdade ou trabalho. Já que eles pareciam tão próximos.
No grupo haviam também duas mulheres em algumas das fotos, uma oriental, provavelmente descendente de chineses e uma loira.
Sobre a lareira havia outra foto.
Mas, não era uma foto de nós dois.
Era uma foto do Simon com uma mulher.
E parecia ser a mesma mulher do cemitério. A que chorou desesperada sobre o caixão dele, se agarrando a ele como se não quisesse deixá-lo partir, a mesma que desmaiou ao me ver.
Sabrina. Esse era o nome daquela mulher.
Ela tinha cabelos escuros, olhos castanhos e a pele levemente bronzeada.
Era bonita.
Será que era ela a mulher com quem o Simon estava se envolvendo?
A tal namorada misteriosa que ele queria me apresentar em dois meses?
Poderia ser. Ninguém parecia estar sofrendo mais do que ela naquele enterro.
Não simples coincidência que ela estivesse mais desolada e desesperada que Madeleine, a própria mãe do Simon, nem que tivessem fotos dela e do Simon mais do que íntimos espalhados pela casa, certo?
Se ela fosse mesmo a namorada do Simon, talvez ela pudesse me ajudar a entender o que estava acontecendo com o meu irmão nesses últimos dias. Talvez ela soubesse o que estava acontecendo com ele e o que o levou a cometer aquele ato impensado, tirando a própria vida.
Se ela aparecia em algumas das fotos com os amigos dele, isso significava que eles a conheciam também e que talvez até soubessem qual a real relação entre os dois.
Minha atenção foi totalmente desviada das fotos ao ouvir o som da porta se abrindo.
Uma cascata de cabelos castanho-escuros passou por ela.
A mulher se virou e me encarou por alguns segundos em silêncio.
Era ela novamente.
Os olhos vermelhos estavam marejados ao me encarar. E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ela se apressou em correr em minha direção e me abraçar apertado.
- Simon! Ela disse com a voz chorosa
- É você, não é?
Demorou alguns segundos até que ela finalmente afrouxou os braços em volta de mim, me libertando de seu abraço.
- Você não é ele! Ela negou com a voz fria
- Não é o meu Simon!
"Meu Simon"?
Então, ela era mesmo a namorada misteriosa do meu irmão gêmeo.
Lentamente ela se afastou de mim e me encarou.
- Você é o irmão dele, não é? Ela questionou se afastando, enquanto limpava as lágrimas.
Por algum motivo eu quis segurar a sua mão e mantê-la perto. Mas contive o meu impulso. Não era o certo a fazer.
- Meu nome é Maxon! - falei
- Sou o irmão gêmeo do Simon. O mais velho dos dois.
- Eu sei! - ela disse
- Me desculpe, eu não deveria ter te abraçado agora!
- Não tem problema! - neguei
- Você é a Sabrina, não é? Sabrina Hart?
- Você me conhece? - ela perguntou surpresa
- O Simon falou de mim para você?
- Não. Ele não falou. - neguei novamente
- Eu ouvi a sua amiga gritar o seu nome ontem no cemitério.
- Entendi! - ela sorriu fraco.
- Como você conseguiu entrar aqui? - questionei.
- Eu tenho uma cópia da chave! - ela respondeu
- Simon me pedia para limpar e organizar as coisas dele às vezes.
Ela tinha uma cópia da chave. Isso reforçava ainda mais a minha suspeita.
Aquela mulher, eu tinha quase certeza de que ela era a namorada do Simon.
- Eu espero que não se importe! - ela disse olhando em volta
- Eu só queria dar uma última olhada. Eu vou te devolver a chave.
- Madeleine me disse que foi você quem encontrou o corpo do meu irmão! - comentei
- Como ele estava?
Ela soltou um longo suspiro antes de começar a falar.
- O Simon estava na banheira. - seus olhos voltaram a ficar marejados, e em pouco tempo ela começou a chorar novamente, como se estivesse revivendo a cena
- Ele cortou os pulsos. A água estava cheia de sangue. Eu cheguei tarde e não pude salvá-lo. A culpa é minha.
Sem pensar muito a envolvi em um abraço.
- Está tudo bem! - falei a estreitando em meus braços
- A culpa não é sua.
- Se eu não tivesse feito aquela viagem a trabalho, o Simon ele...
Soluços desesperados começaram a ecoar pelo apartamento.
Como eu fazia para controlar uma mulher que havia acabado de perder o namorado?
Em um ímpeto, ela me afastou e segurou as lágrimas.
- Está tudo bem! - ela disse
- Eu só não... Eu... Eu queria que você fosse ele. Eu queria que você fosse o...
Novamente ela desmaiou.
Estendi os braços para ampará-la antes que ela caísse no chão.
Aquela era a segunda vez que aquela mulher desmaiava em meus braços.
- Ei, você está bem? - perguntei enquanto a segurava em meus braços
- Moça, acorde!
Ela estava totalmente apagada.
A ergui do chão e a levei até o sofá.
"Ah, Simon, olha só o problema que você me arranjou". Pensei enquanto a colocava deitada sobre o sofá.
Eu nem sequer conhecia aquela mulher e já era a segunda vez que ela desmaiava em meus braços, a terceira vez que ela me confundia com o meu irmão.
Coisas assim só aconteceriam comigo mesmo, eu merecia passar por uma confusão dessas.
Me levantei e a encarei enquanto ela estava apagada.
O Simon tinha mesmo um gosto excêntrico. Como foi namorar uma garota frágil dessas que desmaiava por qualquer coisinha?
Mas, até que olhando bem para ela...
É, apesar de estar bem pálida e aparentando estar doente, ela até que era bem bonitinha.
"Como assim, bonitinha? Agora mesmo eu estava achando a namorada do meu irmão, que acabou de morrer, bonita?"
Aquilo era uma loucura sem tamanho.
Me afastei de perto dela e me sentei no outro sofá, esperando que aquela mulher acordasse e fosse logo embora.
Mas, eu ainda precisava encontrar um jeito de falar com ela sobre o Simon, se ele não estava bem ultimamente.
Talvez eu devesse ser um pouco legal com ela, assim ela me diria o que houve com ele.