Um gosto amargo e ácido encheu minha boca. Não era apenas meu rim. Não era apenas meu noivo. Eles queriam minha mente também.
Desde que me lembro, eu era a acadêmica fantasma de Anabela. Eu escrevia suas redações, completava seus projetos, até fazia suas provas online. Ela colhia as recompensas - as bolsas de estudo, os prêmios, os elogios de nossos pais orgulhosos - enquanto eu permanecia invisível. O plágio era a base de toda a sua carreira acadêmica, uma carreira construída sobre o meu trabalho.
"Por favor, Rory", minha mãe interveio, correndo até mim. Ela colocou a mão no meu braço, seu toque uma estranha mistura de súplica e comando. "É só um trabalho. Sua irmã passou por tanta coisa. Ela merece se formar com honras. É o mínimo que você pode fazer."
O mínimo que eu podia fazer. Depois de dar a ela a minha vida.
Forcei um sorriso, uma coisa frágil e rachada. "Claro. Qualquer coisa por Anabela."
O que era mais um sacrifício? Eu estaria morta em breve. O que aconteceria com ela então, quando sua muleta fosse arrancada de debaixo dela? O pensamento me trouxe uma lasca de satisfação sombria e sinistra.
"Obrigado", Arthur suspirou, o alívio fazendo seus ombros caírem. Ele tirou um pen drive do bolso. Meu pen drive. Aquele onde eu guardava o trabalho de toda a minha vida. Ele deve ter pego do meu apartamento.
Eles haviam planejado tudo isso desde o início.
Anabela, de seu trono de travesseiros, me deu um pequeno sorriso triunfante. Era um olhar que eu conhecia bem. O olhar de uma vencedora.
Arthur voltou para o lado dela, inclinando-se para beijar sua testa. O gesto foi tão íntimo, tão terno, que pareceu um golpe físico. Uma raiva quente e furiosa se enrolou em meu estômago, tão potente que me deu vontade de gritar, de rasgar todo aquele quarto estéril.
Mas eu engoli, assim como engoli todas as outras injustiças, todas as outras ofensas, todos os outros pedaços da minha vida roubada.
Ninguém notou quando saí do quarto. Eu já era um fantasma para eles.
De volta ao meu apartamento, comecei a limpar. Empacotei meus livros em caixas, joguei fora fotos antigas e tirei a roupa de cama. Eu queria apagar qualquer vestígio de mim mesma, não deixar nada para trás para que eles lamentassem, ou mais provavelmente, para que esquecessem convenientemente.
Uma dor aguda e lancinante atravessou a parte inferior das minhas costas, me fazendo ofegar e me agarrar à parede para me apoiar. Meu corpo estava falhando mais rápido agora. A exaustão era um manto pesado que eu não conseguia tirar.
Eu estava realmente morrendo. O pensamento não era mais assustador. Era apenas um fato.
Uma batida forte e repentina na minha porta me fez pular. Abri e encontrei Arthur, seu rosto uma máscara de fúria fria. Atrás dele estavam meus pais, e entre eles, Anabela, soluçando histericamente no ombro da minha mãe.
"Como você pôde?", Arthur rosnou, passando por mim e entrando no apartamento. Ele balançou o celular na minha cara. Na tela, havia um fórum acadêmico, meu artigo postado com o nome de Anabela e uma seção de comentários cheia de ódio.
"Você contou ao seu professor", ele acusou, a voz tremendo de raiva. "Você disse a todos que ela plagiou. Você está tentando destruí-la!"
Os gritos de Anabela ficaram mais altos. "Ela postou online que sou uma fraude", ela lamentou. "Ela disse que sou uma mentirosa! Todo mundo me odeia agora!"
"Não se preocupe, minha querida", minha mãe arrulhou, me fuzilando com o olhar por cima da cabeça de Anabela. "Vamos fazê-la pedir desculpas. Vamos fazê-la consertar isso."