Ele me comprou um café quente e ouviu enquanto eu chorava, sem pressionar por detalhes, apenas oferecendo uma presença quieta e constante. Ele foi a primeira pessoa em anos que me olhou sem julgamento, sem decepção. Ele foi minha salvação.
Ele costumava odiá-los pelo que fizeram comigo. Ele me abraçava à noite e sussurrava promessas, dizendo que nunca mais deixaria ninguém me machucar.
Quando isso mudou?
Foi na primeira vez que Anabela deitou a cabeça em seu ombro, fingindo uma tontura? Foi quando ela começou a ligar para ele tarde da noite, chorando sobre sua solidão? Ou foi no momento em que ele começou a acreditar nas mentiras dela, no momento em que escolheu a fragilidade fabricada dela em vez da minha força silenciosa?
Eu pensei que tinha uma capacidade infinita para a dor, que meu coração havia sido quebrado tantas vezes que simplesmente havia cicatrizado. Mas vê-lo ao lado dela, contra mim, foi uma ferida nova, mais profunda e agonizante do que todas as outras juntas.
Eu estava tão cansada. Cansada de lutar, cansada de ter esperança, cansada de tentar ganhar um amor que deveria ter sido dado livremente. Eu estava morrendo. Deixe que eles fiquem com tudo. Deixe que tenham sua vitória.
"Você tem razão", eu disse, minha voz surpreendentemente clara na sala tensa. "Fui eu. Eu menti."
O choque coletivo foi imediato. Meus pais olhavam, boquiabertos. O aperto de Arthur em meu braço afrouxou. Eles esperavam uma briga, lágrimas, negações. Eles nunca me viram me render.
"Finalmente você aprendeu a lição", disse meu pai, com uma satisfação presunçosa na voz. "É bom ver você assumindo a responsabilidade."
"Estamos tão aliviados que você está fazendo a coisa certa, querida", acrescentou minha mãe, embora seus olhos ainda estivessem frios.
Arthur olhou para mim, e por um segundo fugaz, vi um lampejo de algo em seus olhos. Culpa? Arrependimento? Desapareceu tão rápido quanto apareceu.
"Vai ficar tudo bem, Rory", ele disse suavemente, pegando minha mão. "Vamos superar isso. Depois da cirurgia, podemos recomeçar."
Mas não havia "depois" para mim. Não havia "nós". Ele estava prometendo um futuro a uma mulher que já havia aceitado seu fim.
Anabela, sempre oportunista, pegou o celular. "Diga de novo", ela exigiu, o dedo pairando sobre o botão de gravar. "Para que todos possam ouvir."
A família se reuniu, me observando como abutres circulando sua presa. Anabela apertou o botão de gravar, seu rosto uma máscara de inocência manchada de lágrimas.
"Eu... eu estava com ciúmes do talento da minha irmã", ela começou, a voz tremendo artisticamente. "Ela trabalhou tanto em seu artigo, e eu não suportava vê-la ter sucesso. Então tentei arruinar tudo para ela. Eu contei mentiras. Eu sinto muito, muito mesmo."
Todos me observavam, esperando. O olhar de minha mãe era um aviso. A carranca de meu pai era uma ordem. Os olhos de Arthur eram uma súplica.
Eu sorri, um gesto oco e vazio, e olhei diretamente para a câmera. "É verdade", eu disse, as palavras com gosto de cinzas. "Eu menti. A pesquisa era de Anabela. Eu plagiei o trabalho dela."
Um suspiro coletivo de alívio encheu a sala. A crise foi evitada. A reputação de Anabela foi salva.
Ela imediatamente postou o vídeo. A maré online virou rapidamente. Eu agora era a vilã, a irmã ciumenta. Anabela, sempre a vítima magnânima, postou um vídeo de acompanhamento, dizendo que me perdoava, que a família era mais importante do que qualquer tese.
Mais tarde, depois que meus pais e Arthur foram embora, ela veio ao meu quarto. As lágrimas haviam sumido, substituídas por aquele sorriso familiar e triunfante.
"Eu sempre venço, Aurora", ela sussurrou, inclinando-se para perto. "Tudo que é seu, um dia será meu."
E pela primeira vez, percebi que não se tratava de um único artigo, ou mesmo de Arthur. Esta era a missão de sua vida. Ela me odiava desde o dia em que nascemos, duas metades de um todo, e não ficaria satisfeita até que uma metade tivesse consumido completamente a outra.