Ana Lucía se olhou mais uma vez no espelho antes de sair do seu apartamento. Ela vestira uma blusa de seda preta, uma calça de cintura alta que destacava sua figura e um salto elegante, mas confortável. Não era uma festa de gala, mas sim uma ocasião especial, e ela queria se sentir bem consigo mesma. A verdade é que ela havia esquecido o que era sair e se divertir sem se preocupar com a imagem que projetava aos outros. Sempre fora a noiva de Rodrigo, a mulher perfeita que se mostrava aos outros, mas naquela noite, ela queria ser apenas Ana Lucía.
O carro de sua amiga Camila chegou pontualmente na entrada do prédio. Enquanto entrava no veículo, o ar fresco da noite acariciou seu rosto, e por um momento, sentiu como se algo dentro dela se soltasse, como se o peso das últimas semanas finalmente pudesse ser aliviado. As risadas de suas amigas, a música que se ouvia ao longe, a sensação de estar distante do olhar crítico de Rodrigo... tudo isso a preencheu com uma leve paz.
- Você está linda! - exclamou Camila, a amiga mais extrovertida do grupo. - Estava precisando de um pouco de diversão, né?
Ana Lucía sorriu timidamente. A verdade é que, embora gostasse de estar cercada pelas amigas, havia uma parte dela que ainda não conseguia se desconectar de tudo o que estava acontecendo em sua vida. Do relacionamento com Rodrigo. Das suas dúvidas. Dos momentos vazios. Mas não ia contar isso a elas agora. Não naquela noite.
A festa estava em uma elegante terraço no centro da cidade, um lugar que oferecia vistas espetaculares do horizonte iluminado. Ao chegar, Ana Lucía respirou fundo, observando o local com a esperança de que sua mente pudesse se desconectar por algumas horas. A música estava animada, as pessoas riam e o ambiente estava impregnado de uma despreocupação que lhe parecia distante. Sua amiga Camila a conduziu até o grupo onde estavam as outras garotas: Sofía, Paula e Laura.
- Ana! Que bom te ver! Você estava precisando!
A recepção foi calorosa, embora Ana Lucía não conseguisse evitar um pequeno incômodo. Ela havia evitado muitas saídas com as amigas nas últimas semanas. Rodrigo estava cada vez mais exigente com seu tempo e, quando não estavam em reuniões, ele a ligava insistentemente, perguntando sobre cada detalhe do seu dia. O relacionamento, que antes era apaixonado, se transformara em uma espécie de contrato de convivência.
- Que lindas vocês estão - disse Ana Lucía enquanto se sentava à mesa.
A conversa fluía naturalmente. Na verdade, Ana Lucía estava aproveitando para ouvir suas amigas falarem sobre suas vidas, seus projetos, seus amores. Parecia que o mundo continuava girando enquanto ela ficava presa em seu próprio labirinto de emoções contraditórias. Às vezes, desejava poder deixar tudo para trás, mas sabia que não podia.
A festa seguia com a música alta e as pessoas dançando. Ana Lucía, que nunca foi muito de festas, preferia ficar à margem, observando a cena do seu lugar. Enquanto as garotas riam e se entregavam ao ritmo da música, ela decidiu ir até o bar. Não por necessidade, mas por aquele pequeno escape que o álcool lhe proporcionava. Talvez um par de drinques a ajudassem a relaxar um pouco mais.
Quando se aproximou do bar, seu olhar se cruzou com o de um homem que estava a poucos metros de distância. Ela não o conhecia, mas algo em sua presença a fez parar por um instante. Ele tinha um olhar profundo, quase desafiador, e um sorriso que parecia esconder mais do que mostrava. Algo em sua postura era decidida, como se estivesse seguro de si mesmo, e Ana Lucía não conseguiu evitar sentir uma leve pontada de curiosidade.
O homem a olhou por um momento antes de se virar para o bar. Parecia ter notado seu interesse, e uma sensação estranha percorreu seu corpo. Não era uma atração imediata, mas algo mais inquietante. A conexão fugaz fez sua mente perder o controle por um segundo. E o pior foi que ela não sabia por quê.
- Outra bebida? - perguntou o bartender enquanto lhe servia.
Ana Lucía assentiu, mas antes de pegar o copo, decidiu se afastar do bar. Não precisava de mais distrações naquela noite.
O resto da festa passou rápido, mas ela não conseguia parar de pensar no homem. As risadas de suas amigas pareciam distantes enquanto ela pensava nele. Ao longe, a viu conversando com um grupo de pessoas, sua postura relaxada, mas desafiadora. Quem seria ele? E por que ela não conseguia parar de pensar nele?
Foi nesse momento que seu telefone vibrou. Uma mensagem de Rodrigo apareceu na tela.
Rodrigo: Já chegou?
Ana Lucía mordeu o lábio. Era curioso como uma mensagem tão simples podia trazer consigo uma sensação tão pesada. Decidiu ignorá-la por enquanto. Precisava de um respiro.
Mas as coisas não aconteceram assim. Quando ela voltou a se juntar ao grupo de amigas, Paula, uma das mais diretas, a olhou com atenção.
- Está acontecendo algo? - perguntou, apontando a expressão de Ana Lucía. - Você está meio distante.
Ana Lucía tentou sorrir, mas algo dentro dela a fez hesitar. Não queria falar sobre Rodrigo, nem sobre as dúvidas que a atormentavam. Então preferiu desviar a conversa para outro assunto, mas Paula não deixou de observá-la com desconfiança.
- Às vezes sinto que você está se perdendo, Ana. - O olhar de Paula era sério. - Você não é mais a mesma. Não sei o que está acontecendo com o Rodrigo, mas seja o que for, não é saudável para você.
Ana Lucía não pôde evitar se tencionar. Como poderia explicar o que sentia? Como poderia colocar em palavras tudo o que começara a desgastá-la?
- Não é nada, só... - Ana Lucía suspirou. - Só preciso de um tempo para pensar.
Paula não insistiu, mas o dano já estava feito. As palavras ecoavam em sua mente. "Você não é mais a mesma." Era verdade. Algo havia mudado nela, algo que nem Rodrigo parecia perceber. A sombra de seu relacionamento, as expectativas que Rodrigo lhe impunha, a sensação de estar presa... tudo isso estava pesando demais em seu coração.
De repente, uma mensagem de texto apareceu em seu telefone, desta vez de Rodrigo.
Rodrigo: Já esqueceu do nosso encontro desta noite? Estou esperando. Quero conversar.
Ana Lucía sentiu uma mistura de frustração e cansaço. A resposta que deu a Rodrigo não foi a que ele esperava.
Ana Lucía: Não estou pronta para conversar, Rodrigo. Preciso de um respiro.
Foi essa a faísca que acendeu a discussão.
Poucos minutos depois, Rodrigo ligou. Não havia cortesia em sua voz desta vez, apenas frieza.
- O que isso significa, Ana? Por que precisa de um respiro? - perguntou, a raiva contida em cada palavra.
- Porque estou cansada, Rodrigo. - A voz de Ana Lucía tremia. - Cansada de que tudo seja sempre sobre as suas regras, sobre o que você quer. Estou me perdendo neste compromisso.
Silêncio. O som da festa ao redor desapareceu enquanto Ana Lucía sentia que o peso das suas palavras a esmagava.
- Se você não se importa com o que eu quero, talvez esse relacionamento não faça sentido. - A resposta fria de Rodrigo a fez recuar, como se um balde de água fria tivesse caído sobre ela.
Ana Lucía desligou a chamada sem dizer mais nada. A festa, as risadas, tudo o que antes fora leve, desmoronou em um segundo.