Grávida do homem errado
img img Grávida do homem errado img Capítulo 5 Despertar na Escuridão
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Capítulo 6 Retorno a Casa img
Capítulo 7 O Medo de Perder Tudo img
Capítulo 8 Primeiros Sintomas img
Capítulo 9 Confirmação Médica img
Capítulo 10 Tentando Manter a Aparência img
Capítulo 11 A Tempestade img
Capítulo 12 A Fratura img
Capítulo 13 A Investigação Silenciosa img
Capítulo 14 Encontros Incômodos img
Capítulo 15 A Revelação Sombria img
Capítulo 16 O Peso da Suspeita img
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Capítulo 5 Despertar na Escuridão

O som da cidade se infiltrava pelas janelas fechadas, mas Ana Lucía não conseguiu reconhecer o murmúrio do tráfego nem as vozes distantes. A primeira coisa que sentiu foi uma pressão na cabeça, como se seu cérebro estivesse envolto em uma névoa espessa, lenta para se dissipar. Abriu os olhos, mas as luzes do dia pareceram mais intensas do que lembrava. Estava em um lugar estranho, em uma cama que não era a sua. Não conseguia lembrar como havia chegado ali nem por que se sentia tão... desconectada de si mesma.

Seus olhos se ajustaram lentamente à luz que se filtrava pelas cortinas do quarto. As paredes eram de um tom escuro, quase negro, e o mobiliário estava impecável, mas ela não reconhecia nada. O colchão era suave, quase confortável demais, mas a sensação de estar fora de lugar fez com que se sentisse inquieta. O espaço parecia grande demais para ela, como se estivesse fora de seu tempo, como se sua mente não encaixasse com o ambiente.

Ela se sentou lentamente, o enjoo a atingiu imediatamente, e teve que fechar os olhos para recuperar a compostura. Havia uma estranha calma em seu peito, uma sensação de vazio, como se o mundo estivesse mais distante do que deveria. A névoa em sua mente persistia, e ela tentou se lembrar dos eventos da noite anterior, mas tudo era um caos.

A última coisa clara em sua memória foi a conversa com Leonardo no bar, o copo após copo de vinho que ela havia bebido para escapar, para se desconectar. Eles haviam conversado por horas, e ela se sentira... mais viva do que em muito tempo. Mas, a partir daí, tudo estava borrado. O som do mar, o ar fresco da noite, e então, o rosto de Leonardo... ou isso ela pensou. Mas como ela havia terminado naquela cama? O que aconteceu depois?

O pânico começou a invadi-la. Ela se levantou da cama mais rápido do que deveria ter feito, e a tontura voltou com força. Segurou a cabeceira da cama para não cair no chão. Olhou ao redor, procurando por alguma pista, algo que a ajudasse a entender a situação. O lugar era elegante, moderno. Uma decoração minimalista, como a de Rodrigo, mas com uma atmosfera muito mais relaxada, menos fria.

O quarto estava em penumbra, como se alguém tivesse cuidado para que não entrasse luz demais. Em um canto, uma cadeira vazia. Na mesa de cabeceira, um relógio digital que marcava 10:35 da manhã. O tempo não importava tanto, mas a sensação de estar presa em um lugar que não conhecia importava. Ela apressou-se a olhar ao redor, e então seus olhos se fixaram em algo que a fez parar.

Sobre a mesa, um copo vazio. E um par de sapatos de salto deixados de maneira desordenada. Nesse momento, o suor começou a se formar em sua testa. O copo. Ela se lembrava de ter bebido, e havia bebido muito. Mas algo não se encaixava. Algo na sua mente não conseguia conectar as peças. O que ela havia feito? Por que não conseguia lembrar mais? Um nó se formou em sua garganta. A confusão a tomou, e uma sensação de medo a fez duvidar de tudo o que havia acontecido.

Ela olhou para a porta, que estava entreaberta. Queria sair, mas o medo a paralisava. Caminhou lentamente até lá, seus dedos trêmulos ao segurar a maçaneta. Girou-a, e quando abriu a porta, lá estava ele.

Leonardo estava de pé no limiar, seu olhar fixo nela. Seu rosto mostrava uma leve preocupação, mas também uma calma inexplicável. Ana Lucía ficou ali, imóvel, tentando reunir seus pensamentos, mas não encontrava palavras.

- Como você está se sentindo? - perguntou ele, seu tom sereno, mas com uma leve preocupação em seus olhos.

Ana Lucía não conseguiu evitar olhá-lo fixamente. Como ele podia estar tão calmo? O que realmente havia acontecido? Por que ela estava naquela cama? Ela se sentia como se estivesse presa em um pesadelo, mas, quando olhava ao seu redor, tudo era real. Tudo estava ali, ao seu alcance, mas sua mente não conseguia se conectar com a realidade.

- O que aconteceu? - a voz de Ana Lucía saiu mais rouca do que esperava. - Eu não me lembro de nada. Como eu cheguei aqui?

Leonardo a observou em silêncio por alguns segundos. Não se apressou a responder. Em vez disso, deixou a pergunta pairando no ar, como se estivesse escolhendo cuidadosamente suas palavras.

- Ontem, depois da festa, decidimos dar uma caminhada. Caminhamos até a orla, e então, bem... paramos em um bar menor. - Fez uma pausa, como se estivesse tentando reconstruir os fragmentos da noite. - Você queria continuar bebendo, e eu não quis te deixar sozinha. Não aconteceu nada além... do que ambos sabíamos que estava acontecendo. Mas você desmaiou logo depois. Estava cansada demais, bêbada demais para continuar. Eu... - ele voltou a pausar, claramente pensativo - te trouxe aqui para descansar.

Ana Lucía o observou, processando o que ele dizia, mas ainda não conseguia conectar os pontos. Ela desmaiou? Por que não conseguia lembrar de mais nada? Cada palavra de Leonardo parecia distante, como se não se tratasse de sua própria vida. Havia algo estranho nisso tudo, algo que não se encaixava.

- Não... eu não entendo. Por que eu não lembro? - suas palavras foram quase um sussurro, cheias de frustração e medo.

Leonardo a observou por mais um momento, e então se aproximou lentamente. Colocou uma mão em seu ombro, com um gesto que poderia ser de consolo, mas que Ana Lucía percebeu como uma forma de manter a calma no meio de sua confusão.

- Não se preocupe, Ana Lucía. - Seu tom era baixo, mas firme. - As coisas acontecem, às vezes, quando menos esperamos. Tudo está bem. Eu só estava te cuidando. Não passou de algo que já sabíamos que aconteceria.

Apesar das palavras tranquilizadoras, Ana Lucía não pôde evitar sentir que algo estava muito errado. Algo que ele não estava lhe dizendo. Mas o cansaço, a dor em sua cabeça, e a falta de lembranças claras a faziam duvidar de sua própria percepção.

De alguma forma, ela sentia que havia algo mais. Algo sombrio, algo que a cercava, mas ela não conseguia entender. Não queria entender. Por agora, só queria sair dali. Mas Leonardo continuava a observá-la, esperando sua resposta.

Ana Lucía, sem saber o que mais fazer, soltou um suspiro profundo.

- Eu quero ir embora. - Sua voz estava cheia de dúvidas, mas era a única coisa que ela podia dizer naquele momento.

Leonardo não respondeu imediatamente. Apenas a olhou, e algo em seu olhar a fez se sentir vulnerável, desprotegida. Mas ela sabia que precisava de clareza. E a clareza não estava ali, com ele. A clareza estava fora daquele quarto, fora das memórias distorcidas, fora de tudo o que tinha sido.

Com um último olhar, ela saiu do quarto, e a porta se fechou atrás dela.

                         

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