- Parabéns, Sr. Vasconcellos - disse Augusto Ribeiro, executivo sênior, entregando-lhe um buquê imenso em nome de todos os funcionários.
Heitor recebeu as flores com um sorriso contido, quase calculado.
- Obrigado, Sr. Ribeiro. - E seguiu cumprimentando os empregados que se apressavam em felicitá-lo, como súditos diante de um rei.
No elevador, apertou o botão do último andar, seu reino particular. O hall da presidência era de tirar o fôlego: mármore branco com veios dourados, móveis extravagantes, quadros de artistas renomados e as paredes laterais cravadas com painéis dourados onde brilhava, em letras pesadas, "Vértice Global".
Assim que entrou em sua sala, foi seguido pela secretária, Jade Nogueira. Discreta, impecável, ela abriu a agenda.
- Senhor, o canal de negócios Padrinho Rico solicita uma entrevista. Que dia devo confirmar?
Heitor apenas inclinou o queixo, sem levantar o olhar dos papéis.
- Quinta. - Passou instruções rápidas e finais. Heitor não gostava de repetições, nem de conversas inúteis. Bastava obedecer às notas deixadas. Jade sabia a regra: nunca permanecer diante dele mais do que o necessário. Numa reverência silenciosa, saiu da sala.
Enquanto isso, em outro andar, Augusto reunia a equipe de finanças. Explicou a proposta orçamentária e, ao final, pediu a Julietta - sua funcionária favorita - que encaminhasse as atas para o gabinete do chefe.
Julietta congelou. Desde o primeiro dia sonhava em conhecer o famoso último andar, aquele território proibido que todos descreviam como um templo do luxo e da frieza de Vasconcellos. Mas a bolha estourou rápido: os documentos só poderiam ser enviados pelo office boy.
Ela caminhava distraída, frustrada, até esbarrar em Rita, a colega falante que vivia se metendo em tudo. Os papéis caíram no chão.
- Ei, olha por onde anda! - disse Rita, rindo. - Que cara é essa?
Julietta pegou os documentos às pressas, tentando disfarçar. Mas Rita percebeu.
- Está escondendo alguma coisa.
- Só queria, por um minuto, subir naquele andar... ver com os próprios olhos o escritório dele. - O tom de Julietta era um misto de desejo e desespero.
Rita riu.
- Quem não quer? Eu mesma quase desmaiei hoje cedo quando ele me devolveu um sorriso. Você acredita? Fiquei paralisada feito uma idiota!
Julietta suspirou, derrotada.
- Queria ser aquele office boy, só por hoje.
- Você acha que alguém consegue subir fácil lá em cima? - Rita balançou a cabeça. - Nem pensar. Os arquivos ficam numa cabine perto das escadas, e é a secretária dele quem recolhe mais tarde. Nem recepcionista existe naquele andar.
- Nossa, isso soa meio... sinistro. Mas por quê? Algum mistério? - Julietta arregalou os olhos.
- Nada de sobrenatural. Ele só odeia gente vagando por perto durante o expediente. Por isso existe uma trava biométrica, e o código é trocado com frequência. Questão de segurança.
Julietta bufou.
- Pobre secretária... só vê quatro paredes o dia inteiro. Que tédio.
- E Ele. - Rita piscou, maliciosa. - Pronto, já temos uma nova meta: entrar naquele andar proibido e conhecer nosso chefe enigmático.
- Fechado. Vamos ver quem consegue primeiro.
As duas riram juntas, como se fosse apenas um jogo. Mas o destino já tinha escolhido a vencedora.
Minutos depois, Julietta recebeu um e-mail de Augusto Ribeiro: "Reunião individual com o Sr. Vasconcellos sobre os arquivos enviados. Código e horário em anexo."
Por um instante, ela ficou paralisada, encarando a tela. O coração disparou. Chamou Rita imediatamente.
- Isso só pode ser uma pegadinha! - Rita arregalou os olhos ao ler. - O Sr. Ribeiro costuma brincar assim com você?
- Nunca! - Julietta mal conseguia respirar. Olhou o relógio: faltavam apenas dez minutos.
- Então corre! E não se atrase, ouviu? CEOs são obcecados por pontualidade. Se vacilar, ele pode te demitir na hora. - Rita tentava parecer firme, mas estava tão nervosa quanto a amiga.
- Não, não, não... - Julietta tremia.
- Ei, respira! - Rita a segurou pelos ombros. - Ele só deve querer esclarecimentos sobre o orçamento. Você consegue. Nosso chefe não vai te devorar. Vai lá, Julietta.
Mas Julietta não se acalmava. Seu coração batia como um tambor de guerra. O desejo de conhecer o último andar agora parecia um castigo. Mesmo assim, ela reuniu coragem, subiu no elevador e digitou o código secreto.
O bipe soou. A porta se abriu.
Julietta engoliu o ar como se mergulhasse num outro mundo. O impacto foi imediato: mármore branco com veios dourados, um lustre monumental brilhando como joias no teto, móveis dignos de um palácio e paredes que misturavam estilos arquitetônicos de diferentes séculos. Aquilo não era um escritório. Era um império.
"Superestimado? Nada...", pensou, maravilhada. "Ele tem gosto impecável."
Jade Nogueira surgiu do cubículo, elegante e fria.
- O Sr. Vasconcellos a aguarda.
Julietta sentiu o estômago se revirar. Fechou os olhos, respirou fundo, e com mãos trêmulas bateu na porta do homem que todos temiam... e desejavam.