A pergunta pairou no ar, densa e venenosa. Grávida. A única coisa que ele sempre fora meticulosamente, quase patologicamente, cuidadoso para evitar. Estávamos juntos há três anos, noivos há um, mas toda vez que a conversa sobre filhos surgia, ele a encerrava com uma finalidade arrepiante. "Meu legado é minha empresa, Fernanda", ele disse uma vez, sua voz desprovida de calor. "Não tenho interesse em complicações familiares."
Agora eu entendia. Um "ativo" não servia se estivesse comprometido. Uma gravidez teria tornado meu corpo, meu coração, inútil para seu grande plano. O nojo que senti era algo físico, subindo pela minha garganta como bile. Apenas balancei a cabeça, incapaz de falar além do nó de repulsa.
Ele pareceu acreditar em mim, mas seu rosto permaneceu uma máscara de ansiedade tensa. Ele desapareceu no quarto e voltou um momento depois com uma pequena caixa. Ele a enfiou na minha mão. Era um teste de gravidez. Não, não um. Um pacote família com cinco.
"Faça", ele ordenou, sua voz não deixando espaço para discussão. "Todos eles. Agora."
"Dante, isso é loucura. Eu te disse que não estou..."
"Preciso ter certeza", ele me cortou, seus olhos como lascas de gelo. "Não há espaço para erros em nossa vida, Fernanda. Você sabe disso."
Nossa vida. As palavras eram uma zombaria.
"Se der positivo", sussurrei, testando as águas desta nova e aterrorizante realidade, "eu poderia apenas... resolver isso. Ninguém precisaria saber."
Seu rosto se contorceu em um rosnado tão vicioso que me fez recuar. "Não se atreva! Não se atreva a tentar me prender com isso. É isso que você está fazendo? Uma tentativa patética de garantir sua posição?" Ele agarrou meus ombros, seus dedos cravando dolorosamente. "Se você estiver grávida, eu pessoalmente te levarei à clínica. E se você se recusar, juro por Deus, encontrarei uma maneira de arrancar essa coisa de você eu mesmo."
O ódio cru e violento em sua voz roubou meu fôlego. Não se tratava de evitar uma "complicação". Tratava-se de manter seu precioso ativo puro. Todas aquelas vezes que ele insistiu em "proteção", não era para o meu bem-estar ou nosso futuro. Era controle de qualidade.
"Não", eu disse, minha voz trêmula, mas firme. "Não vou fazer isso."
"Sim", ele sibilou, "você vai."
Ele me arrastou para o banheiro, o azulejo frio um choque contra meus pés descalços. Ele rasgou as caixas, alinhando os cinco bastões de plástico no balcão como um pelotão de fuzilamento. Ele ficou sobre mim, uma sombra ameaçadora, até que eu obedeci. A humilhação era um nó de vergonha no meu estômago.
Depois, ele me forçou a sentar na beirada da banheira enquanto observava os resultados se desenvolverem, sua mandíbula cerrada. Um por um, deram negativo. O alívio que inundou seu rosto não foi por mim, não por nós. Foi o alívio de um homem cujo investimento premiado acabara de ser salvo de uma quebra no mercado.
Ele se ajoelhou na minha frente, sua postura mudando instantaneamente de volta para uma de preocupação amorosa. Foi uma performance aterrorizante e vertiginosa.
"Viu, meu bem? Nada com que se preocupar", ele arrulhou, acariciando meu cabelo. "Você só precisa me ouvir. Contanto que você seja uma boa menina, eu cuidarei de você. Sempre cuidarei de você."
Uma boa menina. Um ativo obediente. Fiquei sentada ali, entorpecida e silenciosa, uma única lágrima traçando um caminho frio pelo meu rosto. Meu coração, o próprio órgão que ele planejava roubar, parecia estar se partindo em mil pedaços.
O dia seguinte foi um borrão de normalidade forçada. Dante insistiu que fôssemos a um passeio pré-planejado com Larissa - uma viagem a um mirante panorâmico na montanha. Senti-me como um cordeiro sendo levado para algo muito pior que o matadouro.
Quando chegamos, Larissa já estava lá, sentada em um banco com vista para o vale. Ela usava um delicado vestido branco, seu rosto um retrato perfeito de beleza inocente. Ela acenou fracamente, um sorriso dolorido nos lábios.
"Fernanda, você veio!", ela chilreou, sua voz ofegante. "Dante, pode me ajudar? Quero sentar mais perto da beirada. A vista é melhor lá."
"Claro, meu amor", disse Dante, correndo para o lado dela. Ele me lançou um olhar furioso. "Fernanda, saia."
Ele não pediu. Ele ordenou. Ele gesticulou para o lugar menos desejável no banco, mais longe do parapeito. Movi-me sem uma palavra, observando enquanto ele acomodava Larissa em meu assento anterior, colocando um cobertor em volta de suas pernas com uma ternura que fez meu estômago revirar. Ele se preocupou com ela, de costas completamente para mim, como se eu tivesse deixado de existir.
Larissa olhou para mim, seus olhos brilhando com um triunfo malicioso. Ela pegou em sua bolsa e tirou um pequeno e ornamentado frasco de perfume.
"Oh, que desastrada!", ela gritou, sua mão "escorregando".
O frasco voou pelo ar, não em direção ao chão, mas diretamente para o meu rosto. Eu recuei, mas era tarde demais. Um líquido forte e ardente espirrou em meus olhos. E então veio o grito.
Não foi um grito de surpresa. Foi um grito agudo e lancinante de agonia. Porque o frasco não era perfume. Era spray de pimenta.