A Mentira Que Meu Noivo Inventou
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Capítulo 4

Ponto de Vista de Fernanda Bastos:

Larissa não esperou pela minha resposta. Com um empurrão violento, ela me fez tropeçar na primeira tábua da ponte. Gritei, meus braços se agitando enquanto eu lutava pelo equilíbrio na superfície oscilante e instável. Minhas mãos feridas, aquelas que um dia dançaram sobre as teclas de marfim, rasparam contra a corda áspera e cheia de farpas, enviando choques de agonia pelos meus braços.

O fundo do cânion parecia a quilômetros de distância, uma paisagem rochosa e implacável. A vertigem me dominou, uma tontura doentia que fez minhas pernas tremerem e minha respiração prender na garganta. Agarrei-me às cordas, meus nós dos dedos brancos, cada músculo do meu corpo gritando de terror.

Da segurança da beira do penhasco, Dante e Larissa me observavam, seus rostos impassíveis. Eram espectadores de um show que eles mesmos criaram. Meu pânico, minha dor, era o entretenimento deles.

"Isso é tão divertido!", Larissa riu, batendo palmas como uma criança. Ela se virou para Dante. "Vamos tornar mais emocionante. Vamos balançar a ponte!"

"Larissa, não!", gritei, mas era tarde demais.

Uma sensação doentia de pavor me invadiu quando os lábios de Dante se curvaram em um sorriso cruel. "O que te fizer feliz, meu amor."

Juntos, eles começaram a pular na beirada da ponte, enviando ondas violentas e nauseantes pela estrutura. Fui jogada de um lado para o outro, meu aperto nas cordas escorregando. Fechei os olhos com força, rezando para que parasse. Essas eram as duas pessoas que deveriam me amar mais no mundo - minha irmã e meu noivo - e estavam tentando me matar.

De repente, o tremor parou. Ouvi o som abafado do telefone de Dante tocando. "Preciso atender", ele disse, sua voz tingida de aborrecimento. "Não saia daí."

Ele se afastou, me deixando presa no meio da ponte com Larissa. Ela se arrastou para a ponte, seus movimentos felinos e predatórios.

"Vamos jogar um jogo, Fernanda", ela sussurrou, seus olhos brilhando com uma intensidade febril. "Chama-se 'Quem Ele Salva?'"

Antes que eu pudesse reagir, ela tirou uma faca pequena e de aparência perversa do bolso.

"O que você está fazendo?", gaguejei, meu coração batendo contra minhas costelas.

"Tornando o jogo mais interessante", ela disse com um sorriso arrepiante. Com um movimento rápido e deliberado, ela começou a serrar a corda que sustentava as tábuas bem ao lado dela. As fibras gemeram e estalaram.

"Larissa, pare! Nós duas vamos cair!", gritei, tentando me arrastar de volta para o penhasco, mas a ponte estava instável demais.

"Socorro!", Larissa gritou de repente, sua voz uma imitação perfeita de terror. "Dante, socorro! A Fernanda está tentando cortar as cordas! Ela está tentando me matar!"

Dante voltou correndo, seu rosto uma máscara de fúria. Ele viu a corda cortada, o pânico fingido de Larissa e eu, paralisada de terror. Ele não hesitou. Não fez uma única pergunta.

"Larissa!", ele gritou, lançando-se na ponte.

"Salve-me, Dante, mas não se preocupe comigo!", Larissa soluçou, uma performance magistral de auto-sacrifício. "Salve-se! Apenas me deixe!"

Claro, isso só o tornou mais determinado. Ele a pegou nos braços, seus movimentos seguros e fortes, e a levou de volta para a segurança da beira do penhasco. Ele a depositou gentilmente no chão e se virou para mim, sua expressão endurecendo.

"Não se mova", ele ordenou. "Volto já para te buscar."

Mas quando Larissa desabou em um acesso de tosse dramática e violenta, ele foi instantaneamente distraído. "Meu amor, você está bem? Seu coração..."

Ele a pegou novamente, seu rosto gravado de preocupação. "Estou te levando para o carro. Vou te levar para um hospital." Ele olhou para mim, sua promessa já esquecida, seus olhos frios e distantes. "Apenas espere aí."

Ele a levou embora, seus passos desaparecendo até que restou apenas o som do vento assobiando pelo cânion e o ranger da ponte danificada sob mim.

Ele não ia voltar.

A percepção me atingiu com a força de um golpe físico. Ele estava me deixando aqui para morrer.

Um instinto primal de sobrevivência se manifestou. Comecei a me arrastar de volta, meu corpo gritando em protesto, minhas mãos sangrando e em carne viva. Foi uma jornada lenta e agonizante, mas finalmente senti o chão sólido da beira do penhasco sob meus pés. Desabei, ofegando por ar, meu corpo tremendo de exaustão e alívio.

Meu primeiro pensamento foi minha tia. Peguei meu telefone, meus dedos desajeitados na tela. Tocou uma vez antes que ela atendesse, sua voz uma torrente de raiva.

"Fernanda Bastos, você tem muita coragem de me ligar! Como pôde ser tão cruel, tão sem coração?"

"Tia, do que você está falando?", perguntei, confusa.

"Não se faça de inocente comigo! A Larissa está no hospital! Ela teve um problema no coração por sua causa! Você tentou matar sua própria irmã! Espero que você apodreça, sua monstra ingrata!"

A linha ficou muda.

Eles já haviam contado sua história. Dante, o herói. Larissa, a vítima. E eu, a vilã. Eu estava sozinha, a quilômetros da civilização, abandonada e incriminada por um crime que não cometi. Um sorriso lento e amargo se espalhou pelo meu rosto. Tudo bem. Se eles queriam uma vilã, teriam uma.

Comecei a andar. O sol começou a se pôr, pintando o céu em tons de laranja e roxo, um belo cenário para minha realidade feia. Eu tinha um longo caminho a percorrer.

                         

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