Afundei em um sofá de couro macio no saguão, minhas mãos agarrando um envelope pardo. Eu não sentia nada. A dor era uma pontada constante e surda, mas as arestas afiadas da dor haviam sido suavizadas. Eu estava apenas... vazia.
As portas do elevador se abriram com um som suave, e Gênesis saiu. Ela estava vestida de seda creme, parecendo radiante e serena. Ela me viu e seu sorriso se alargou.
"Alina, que surpresa", disse ela, sua voz pingando falsa preocupação. "Você está se sentindo melhor? O universo nos testa, mas apenas para nos tornar mais fortes."
"Estou tão bem quanto jamais estarei", respondi, minha voz monótona.
Estendi o envelope para ela. "Preciso que você entregue isso para o João Ricardo. Eles não me deixam entrar."
Suas sobrancelhas perfeitamente esculpidas se ergueram ligeiramente. "Claro. O que é?"
"Os papéis do divórcio", eu disse, as palavras com gosto de cinzas na minha boca. Uma risada amarga escapou dos meus lábios. "Acontece que até as chamas gêmeas precisam lidar com as legalidades terrenas."
"Por que você não entrega a ele pessoalmente?" ela perguntou, um toque de desafio em seu tom. Ela estava gostando disso, gostando de seu poder sobre mim.
Encontrei seu olhar, meus próprios olhos frios e mortos. "Porque ele não vai me ver, Gênesis. Mas ele sempre verá você."
Um lampejo de triunfo cruzou seu rosto antes que ela o mascarasse com um suspiro de compaixão. "Pobrezinha. Claro, eu ajudo."
Ela pegou o envelope e caminhou em direção à sala de reuniões, seu vestido de seda sussurrando contra o chão. Ela não bateu. Apenas empurrou as pesadas portas de vidro e entrou.
Através do vidro fosco, pude ver a silhueta de João Ricardo na cabeceira de uma longa mesa, cercado por seus executivos. Ele ergueu os olhos quando Gênesis entrou, e a tensão em seus ombros imediatamente se suavizou. Ele sorriu. Um sorriso real e caloroso.
Gênesis se inclinou e sussurrou algo em seu ouvido, entregando-lhe o envelope.
Ele o pegou sem desviar o olhar dela. Ele não o abriu. Nem sequer olhou para as palavras estampadas na frente. Ele simplesmente pegou uma caneta da mesa, virou para a última página e assinou seu nome.
Então ele a puxou para seu colo, bem ali na frente de todo o seu conselho, e a beijou.
Eu assisti, meu corpo completamente imóvel, meu coração uma pedra. O homem que uma vez jurou que não poderia viver sem mim tinha acabado de assinar o fim do nosso casamento sem pensar duas vezes, sua atenção totalmente voltada para outra mulher.
Gênesis saiu um momento depois, os papéis assinados em sua mão. Ela me ofereceu outro sorriso de pena. "Está feito. Lembre-se, Alina, deixar ir é o primeiro passo para a cura. O universo tem um novo caminho para você."
Peguei o envelope de sua mão, nossos dedos se roçando. A pele dela estava quente. A minha estava gelada.
Virei-me e saí do prédio sem dizer mais uma palavra.
O advogado confirmou que a assinatura era válida. Havia um período de reflexão de trinta dias. Mais trinta dias naquela casa, um fantasma assombrando as ruínas da minha própria vida.
Todos os dias, eu via João Ricardo mimar Gênesis. Ele levava café da manhã para ela na cama. Comprava presentes extravagantes. Ele se agarrava a cada palavra dela sobre energia e iluminação. Eu era invisível.
Embalei os pertences da minha mãe, que finalmente haviam sido entregues de seu apartamento. Eles chegaram em uma única caixa pequena. Segurei sua xícara de chá de porcelana favorita em minhas mãos, seu delicado padrão uma dolorosa lembrança de seu espírito gentil. A dor, aguda e crua, me invadiu, e eu caí no chão, agarrando a caixa e soluçando.
"Por que você está chorando?"
Eu ergui os olhos. Gênesis estava na porta, uma carranca marcando seu rosto perfeito.
A governanta, Maria, que estava conosco há anos, respondeu suavemente. "A mãe dela, Srta. Luz. Ela está de luto."
A expressão de Gênesis se suavizou naquela familiar máscara de sabedoria espiritual. "Oh, Alina. Você não deveria estar triste. Sua mãe foi libertada de sua forma física. Sua alma está livre. Você deveria estar celebrando a libertação dela."
"Ela foi assassinada", engasguei, minha voz grossa de lágrimas e raiva. "Você e sua dívida kármica a assassinaram."
Abracei a caixa com mais força, virando-me para longe dela. Eu não suportava vê-la, não suportava o som de sua voz. Eu só queria ser deixada em paz com os últimos pedaços da minha mãe.
Gênesis observou minhas costas se afastando, e pela primeira vez, vi um lampejo de algo além de iluminação serena em seus olhos. Era frio, duro e malicioso.
Um novo pensamento pareceu se formar em sua mente. Uma maneira de me "ajudar". Uma maneira de purgar minha "energia escura".
Mais tarde naquela noite, ouvi-a falando com um dos jardineiros em voz baixa e urgente.
"Preciso que você encontre algumas cobras. Várias delas. Não venenosas, claro. Vamos ajudar a Sra. Monteiro a confrontar seus medos mais profundos."
O jardineiro hesitou. "Mas, Srta. Luz... a Sra. Monteiro tem pavor de cobras. Pavor."
"João Ricardo quer que ela se cure", disse Gênesis, sua voz endurecendo, tingida com a autoridade que ela sabia que agora possuía. "E eu sei o que é melhor para ela. Faça isso."
O jardineiro baixou a cabeça, derrotado.
Naquela noite, caí em um sono exausto, agarrando a xícara de chá da minha mãe.
Em algum momento no meio da noite, eu estava vagamente ciente da porta do meu quarto se abrindo. Eu estava dormindo muito profundamente para acordar completamente.
Então, eu senti. Algo frio, liso e pesado deslizando pela minha perna nua.