Da Sua Prisão À Doce Liberdade
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Capítulo 3

Ponto de Vista de Alina Campos:

Meus olhos se abriram de repente. Um grito primal ficou preso na minha garganta. Tateei em busca do interruptor da lâmpada na mesa de cabeceira, meus dedos tremendo tanto que precisei de três tentativas.

A luz inundou o quarto, e o grito rasgou meus pulmões, cru e rouco.

Elas estavam por toda parte.

Cobras. Dezenas delas. Deslizando sobre os lençóis de seda, enroladas no tapete felpudo, penduradas na poltrona no canto. Suas escamas brilhavam à luz da lâmpada, suas línguas bifurcadas se movendo para dentro e para fora, provando o ar. O meu ar.

O pânico, frio e absoluto, me dominou. Saí da cama às pressas, cambaleando para trás até minhas costas baterem na parede. Tentei a maçaneta da porta. Trancada. Claro que estava trancada.

"Gênesis!" gritei, batendo na madeira pesada com os punhos. "Gênesis, sua psicopata, me deixe sair! Me deixe sair daqui!"

Meus gritos desesperados foram recebidos com silêncio. Bati novamente, meus nós dos dedos gritando em protesto. "Me deixe sair! Por favor, alguém me ajude!"

Uma voz suave e calma veio do outro lado da porta. "Alina, você está perturbando a paz da casa. João Ricardo está meditando."

Era ela. Gênesis.

"Você fez isso!" gritei, minha voz rachando de histeria. "Sua monstra doente, tire-as daqui!"

"Eu fiz isso por você, Alina", disse ela, seu tom irritantemente gentil. "O medo é um bloqueio de energia. Você deve confrontá-lo para liberá-lo. Abrace as cobras. Sinta a conexão delas com a terra. Elas estão aqui para te curar."

Minha mente se fragmentou. Eu não conseguia mais formar palavras, apenas sons desesperados e animais de terror. "João Ricardo! João Ricardo, me ajude! Por favor, João Ricardo!"

Ouvi seus passos se aproximando no corredor. Um fio de esperança, agudo e doloroso, perfurou meu pânico. Ele iria parar com isso. Ele tinha que parar. Ele não deixaria isso acontecer.

"O que está acontecendo?" Sua voz estava pesada de sono e irritação.

"João Ricardo, graças a Deus!" solucei, pressionando meu rosto contra a porta. "É a Gênesis! Ela encheu meu quarto de cobras! Por favor, faça ela me deixar sair!"

Ouvi o murmúrio suave de Gênesis. "Querido, eu só estava tentando ajudar. A aura dela está tão nublada pela dor e pela raiva. Pensei que uma terapia de imersão natural ajudaria a purgar a negatividade."

"Ela está tentando me matar!" gritei. "Eu tenho pavor de cobras, você sabe disso!"

Houve uma longa pausa. Eu podia ouvir minha própria respiração ofegante, o sussurro suave e sinistro de escamas no tapete. Prendi a respiração, esperando que João Ricardo ordenasse que a porta se abrisse. Esperando que ele me salvasse.

Sua voz, quando veio, era fria e distante, filtrada pela madeira grossa da porta.

"Gênesis sabe o que é melhor, Alina."

O mundo parou. O ar saiu dos meus pulmões em uma corrida.

"O quê?" sussurrei, minha voz quase inaudível.

"Ela é uma curandeira", disse ele, sua voz ganhando convicção. "Se ela diz que isso vai te ajudar, então vai. Você só precisa se acostumar."

Se acostumar.

As palavras ecoaram no silêncio aterrorizante do quarto. Se acostumar.

Ouvi-o colocar o braço em volta de Gênesis. Ouvi seus passos se afastando pelo corredor.

Ele estava me deixando. Ele estava me deixando aqui dentro.

Um desespero tão profundo que parecia afogamento me puxou para baixo. Deslizei pela porta, minhas pernas cedendo, e me encolhi em uma bola apertada no chão. Eu estava soluçando, mas nenhum som saía. Meu corpo era sacudido por convulsões silenciosas e agonizantes de terror.

Uma das cobras, uma grande píton escura, deslizou lentamente em minha direção. Ela se enrolou em minha perna, seu corpo grosso e musculoso. Fechei os olhos com força, meu corpo inteiro rígido de medo.

Então senti uma dor aguda e penetrante na minha panturrilha.

Olhei para baixo. A cobra tinha me picado. Duas pequenas perfurações estavam vertendo sangue.

O mundo inclinou, as bordas da minha visão ficando cinzas e embaçadas. Meu último pensamento coerente foi em João Ricardo. No homem que me tirou de um carro em chamas, que jurou me proteger.

Que acabara de me sentenciar à morte em um poço de cobras.

Acordei na enfermaria na ala oeste da casa. Minha cabeça latejava, e minha panturrilha estava enfaixada e pulsando.

João Ricardo estava sentado em uma cadeira ao lado da cama, rolando o feed do celular. Ele ergueu os olhos quando me mexi.

"Você acordou", disse ele, seu tom neutro. "O médico disse que foi uma picada não venenosa. Você apenas desmaiou com o choque."

Eu o encarei, minha garganta arranhando. "Você me deixou lá para morrer."

Ele suspirou, um lampejo de aborrecimento cruzando seu rosto. "Não seja dramática, Alina. Eu sabia que não eram venenosas. Gênesis nunca te colocaria em perigo real."

Ele se levantou e caminhou até a janela, de costas para mim. "Preciso que você entenda uma coisa. Gênesis será uma parte permanente da minha vida. Das nossas vidas. Preciso que você aceite isso. Preciso que você pare de tornar as coisas tão difíceis."

Eu apenas encarei suas costas, um nó frio e duro de algo novo se formando em meu peito. Não era amor. Não era nem mesmo ódio. Era uma certeza arrepiante e absoluta.

Eu tinha que sair. Mas primeiro, eu tinha que sobreviver.

            
            

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