Tracy Whitney saiu do saguão do seu prédio ao encontro da chuva implacável, misturada com neve, que caia sobre as bem polidas limusines que desciam pela Market Street, conduzidas por motoristas uniformizados, e sobre os cortiços abandonados e fechados com tábuas do Norte da Filadélfia. A chuva lavava as limusines, deixado-as ainda mas limpas, as mesmo tempo em que convertia num amotoado de lixo acumulado na frente de casas depauperadas. Tracy Whitney estava a caminho do trabalho. Seu ritmo era ágil enquanto seguia pela Chestnut Street, na direção do banco. Tinha de fazer um esforço para não se pôr a cantar em voz alta. Usava capa e botas amarelas, um chapéu de chuva também amarelo, que mal conseguia conter seus cabelos Castanhos luminosos. Tinha vinte e poucos anos, um rosto exuberante e inteligente, a boca cheia e sensual, olhos faiscante, que podia mudar de um suave verde-musgo para um jade escuro de um momento para outro, um corpo esbelto e atlético. A pele passava por toda a gama de branco translúcido a um rosa profundo, dependendo se estava irritada, cansada ou agitada. A mãe lhe dissera certa vez "Sinceramente, criança, há ocasiões em que nao a reconheço. Você muda de um instante para o outro. "
Agora, enquanto Tracy descia pela rua, as pessoas se viravam para sorrir, invejando a felicidade que brilhava em seu rosto. Ela retribuía com sorrisos.
"É indecente para qualquer pessoa ser tão feliz" , pensou Tracy Whitney. " vou me casar com o homem que amo e terei um filho dele. O que más alguém poderia pedir?"
Ao se aproximar do banco. Tracy olhou para o relógio. Oito horas e vinte minutos. As portas do Philadelphia Trust and Fidelity Bank não se abririam para os empregados antes de dez minutos, mas Clarence Desmond, o vice-presidente sênior, no comando do departamento internacional, já estava desligando o alarme externo e abrindo a porta. Tracy gostava de assistir o ritual matutino. Ficou parada na chuva, esperando, enquanto Desmond entrava no banco e trancava a porta.
Os bancos do mundo inteiro possuem misteriosos processos de segurança e o banco que Tracy trabalhava não era exceção. A rotina jamais variava, a não ser pelo código de segurança, que era mudado todas as semanas. O código daquela semana era persiana parcialmente abaixada, indicando aos empregados que esperavam do lado de fora que uma revista era realizada afim de verificar se não havia intrusos escondidos nas instalações, Clarence Desmond fazia uma busca pelos banheiros, depósitos, caixa-forte e área dos cofres particulares. Somente depois de estar plenamente comvencido de que se encontrava sozinho no interior do banco levantava as persianas, como um sinal de que estava tudo bem.
O contador sênior era sempre o primeiro funcionário a ter acesso ao banco. Ele ocuparia o seu lugar junto ao alarme de emergência, até que todos os outros funcionários entrassem, depois trancaria a
Pontualmente as 8h30 Tracy Whitney entrou no saguão com seus colegas de trabalho, tirou a capa, o chapéu e as botas, enquanto ouvia os outros se queixarem do tempo chuvoso.
▪︎ O maldito vento arrancou-me o guarda-chuva ▪︎ lamentou um caixa ▪︎ estou encharcado.
▪︎Passei por dois patos nadando na Market Street ▪︎ fez graça o chefe dos caixas.
▪︎ A previsão do tempo é de que podemos esperar por mais uma semana assim. Eu gostaria de estar na Flórida.
Tracy sorriu e começou a trabalhar. Era encarregada do departamento de transferência. Até recentemente, a transferência de dinheiro de um banco e de um país para o outro era um processo lento e trabalhoso, que exigia o preenchimento de muitos formulários e dependia dos serviços postais nacionais e internacionais. Com o avanço da informática, a situação mudará dramaticamente, Quantias enormes podiam ser transferidas em segundos. A função de Tracy era organizar as transferências processadas durante a noite e enviá-las para os bancos de destino. Todas as transações eram em código, mudado regularmente para impedir o acesso não autorizado. A cada dia, milhões de dólares passavam pelas mãos de Tracy. Era um trabalho fascinante, o sangue vital que alimentava as artérias dos negócios por todo o globo. Até antes de Charles Stanhope ||| entrar em sua vida a atividade bancária era a coisa mais emocionante do mundo para Tracy.
Durante o almoço Tracy e os colegas conversaram sobre os acontecimentos da manhã. Era uma conversa inebriante.
Débora, uma contadora, anunciou:
▪︎Acabamos de fechar o empréstimo associado de 100 milhões de dólares para a Turquia.
Mae trenton, secretária do vice-presidente do banco, disse:
▪︎ Foi decidido na reunião de diretoria desta manhã a participação na nova linha de crédito para o Peru. A taxa inicial é superior a 5 milhões de dólares
Jon Creighton, o fanático do banco, acrescentou:
▪︎ Soube que vamos entrar no pacote de socorro ao México com 50 milhões. Eles não merecem um único cent...
▪︎ Isso é muito interessante ▪︎ comentou Tracy. ▪︎ Os países que atacam os Estados Unidos por serem muito obcecados por dinheiro são sempre os primeiros a nos suplicarem empréstimo.
Esse fora o assunto sobre qual ela é Charles haviam travado a sua primeira discussão.
TRACY CONHECIA Charles Stanhope ||| num simpósio financeiro. Charles era o orador convidado. Ele dirigia a empresa de investimentos fundada por seu bisavô e fazia muitas operações com o banco para qual Tracy trabalhava. Depois da conferência de Charles, Tracy se aproximará para discordar de sua análise de capacidade das nações do Terceiro Mundo de pagarem as quantias assombrosas que havía tomado emprestado dos bancos do mundo inteiro e dos ocidentais. No começo, Charles se mostrará divertido, mas depois se sentia atraido pelo argumentos da linda moça à sua frente. A discussão se prolongou pelo jantar no velho restaurante Bookbinder's.
No começo Tracy não se impressionara com Charles mesmo sabendo que ele era considerado o melhor partido da Filadélfia. Charles tinha 35 anos, era rico e vitorioso, pertencia a uma das famílias mas tradicionais da região. Com 1,78 metro de altura, cabelos sedosos cor de areia, olhos Castanhos e uma atitude confiante, até mesmo um pouco pedante, ele era um desses ricos maçantes, na opinião de Tracy.
Como se lesse os pensamentos dela, Charles se inclinara sobre a mesa e dissera:
▪︎ Meu pai está convencido de que lhe deram o bebê errado no hospital
▪︎ Como?
▪︎Sou um retrocesso. Não acho que o dinheiro é o fim de tudo e a coisas mais importantes na vida. Mas, por favor jamais conte ao meu pai que eu lhe disse isso.
Havia nele uma despretensão tão encantadora que Tracy passou a apreciá-la. "Imagino como seria esta casada com alguém assim... um homem da alta sociedade ."
O pai de Tracy levará a maior parte de sua vida para construir um negócio que os Stanhope achariam insignificante. "Os Stanhope e os Whitney jamais se misturariam", pensará ela. "Óleo e água. E os Stanhope são o óleo. E por que estou reagindo como uma idiota? É ego demais. Um homem me convida para jantar e já estou decidindo se quero ou não me casar com ele. Provavelmente nunca mais tornaremos a nos encontrar..."
Charles estava dizendo nesse momento:
▪︎ Por acaso está livre para jartarmos de novo amanhã?