Ela estava nervosa. Seu lindo penteado sucumbira à umidade no ar. Trocara de vestido quatro vezes. Deveria se apresentar com simplicidade? Formalmente? Tinha um Yves Saint-Laurent que comprará com suas economias. "Se eu o usar, eles pensarão que sou uma esbanjadora. Por outro lado, se eu puser algum dos meus vestidos de liquidação, eles pensarão que o filho está casando com alguém abaixo de sua classe. Ora essa, eles pensarão assim de qualquer maneira," concluiu Tracy. Ela escolheu finalmente uma saia de lã cinza bem simples e uma blusa branca de seda, pondo no pescoço a corrente fina de ouro que a mãe lhe mandara de presente no Natal.
A PORTA DA MANSÃO foi aberta por um mordomo de libré.
- Boa noite, Srta. Whitney.
"O mordomo sabe o meu nome", pensou Tracy. "Isso é um bom sinal? Um mal sinal?"
- Posso ajudá-la a tirar o casaco?
De sua roupa escorria água no lindo tapete persa. O mordomo conduziu-a por um Hall de mármore que parecia duas vezes maior do que todo o banco. Tracy pensou, em pânico: "Ho, Deus, estou completamente malvestida! Deveria ter usado o Yves Saint-Laurent."
Ao entrar na biblioteca, ela sentiu um fio correr no tornozelo da meia-calça, mas estava frente a frente com os pais de Charles.
Charles Stanhope, pai, era um homem de aparecía austera, com sessenta e poucos anos. Parecia de fato um homem bem-sucedido; era uma projeção do que Charles seria dentro de trinta anos. Tinha olhos Castanhos como os de Charles, queixo firme, uma orla de cabelos brancos. Tracy gostou dele de imediato. Era o perfeito avô para seu filho
A mãe de Charles tinha uma aparência impressionante. Era um tanto baixa e corpulenta, mas apesar disso irradiava um ar de realeza. "Ela parece firme e digna de confiança", pensou Tracy. "Dará uma avó maravilhosa." A Sra. Stanhope estendeu a mão.
- Minha cara, foi muita gentileza sua vir nos visitar. Pedimos a Charles que nos concedesse uns poucos minutos a sós com você. Não se importa?
- Claro que ela se importa - declarou o pai de Charles.
- Sente-se... Tracy, não é mesmo?
- Isso mesmo, senhor.
Os dois se sentaram num sofá, diante dela. "Por que sinto como se estivesse prestes a sofrer um interrogatório?" Tracy podia ouvir a voz da mãe: "Meu bem, Deus jamais lhe dará algo com que não possa lidar. Basta apenas que dê um passo de cada vez."
O primeiro passo de Tracy foi um sorriso amarelo, porque naquele instante podia sentir o fio corrido na meia-calça subir para o joelho. Tentou esconder com as mãos.
- Pois muito bem! - A voz do Sr. Stanhope era vigorosa. - Você e Charles querem se casar.
A palavra "querem" perturbou Tracy. Certamente Charles lhes dissera que iam se casar.
- Isso mesmo - murmurou Tracy.
- Você e Charles não se conhecem a muito tempo, não é? - perguntou a Sra. Stanhope.
Tracy fez um esforço para reprimir o ressentimento. "Eu estava certa. Será um interrogatório."
- Tempo suficiente para saber que nos amamos, Sra. Stanhope.
- Amor? - Disse o Sr. Stanhope.
A Sra. Stanhope interveio:
- Para ser franca, Srta. Whitney, a notícia de Charles foi um choque para o pai dele e para mim. - Ela sorriu indulgentemente. - Charles lhe falou sobre Charlotte, não é mesmo?
Ela percebeu a expressão no rosto de Tracy e se apressou em acrescentar:
- Entendo... O fato é que ele é Charlotte cresceram juntos. Sempre foram muito ligados e... francamente, todos esperavam que anunciassem seu noivado este ano.
Não havia necessidade de uma descrição de Charlotte. Tracy podia perfeitamente imaginá-la. Morava na casa ao lado. Rica do mesmo meio social de Charles. Todas as melhores escolas. Adorava cavalos e ganhará taças.
– Fale-nos a respeito de sua família - sugeriu o Sr Stanhope.
"Por Deus, está é uma cena do filme da madrugada na televisão", pensou Tracy, irritada. "Sou personagem de Rita Hayworth, encontro-me pela primeira vez com os pais de Cary Grant. Preciso de um drinque. Nós filmes antigos os mordomos sempre aparece em socorro com uma bandeja de drinques."
- Onde nasceu minha cara? - perguntou a Sr Stanhope.
- Na Louisiana. Meu pai era mecânico.
Não havia necessidade de acrescentar isso, mas Tracy fora incapaz de resistir. Que eles fossem para o inferno. Ela tinha o maior orgulho do pai.
- "Mecânico?"
- Isso mesmo. Ele abriu uma pequena fábrica em Nova Orleans e transformou-a numa das grandes companhias em seu setor. Quando papai morreu, há cinco anos, minha mãe assumiu o comando da empresa.
- O que essa... ahn... companhia produz?
- Canos de descarga e outras peças de automóveis.
O Sr. e Sra. Stanhope trocaram um olhar e murmuraram em uníssono:
- Ahn...