- Não é meu trabalho te ensinar o que é o amor, Emiliano - sussurrou ela, com uma voz mais firme do que realmente se sentia. - Não posso ficar esperando que algum dia você perceba o que eu significo para você.
Ele não desviou o olhar.
- E se eu descobrir tarde demais?
As palavras a feriram mais do que deveriam.
- Então eu não estarei mais aqui.
O silêncio entre eles era denso, carregado de emoções contidas.
Mas Emiliano, como sempre, foi o primeiro a se recompor.
- Muito bem - disse ele por fim, seu tom voltando a ser calculador. - Se você quer ir embora, vá.
Natalia o olhou com incredulidade.
- Tão fácil assim?
- Nunca disse que seria fácil.
Ela apertou os lábios.
- Você sempre brinca com as palavras, Emiliano.
- Não brinco - negou ele com seriedade. - Mas também não vou te implorar para que fique.
Natalia engoliu em seco.
Era sua oportunidade.
Ela poderia pegar sua mala, sair pela porta e se afastar dele de uma vez por todas.
Mas seus pés não se moveram.
Por quê?
Por que, se isso era o que ela queria há tanto tempo?
Ela respirou fundo.
- Preciso de tempo.
Emiliano não respondeu imediatamente.
Mas quando o fez, sua voz estava mais suave do que o habitual.
- Pegue o tempo que precisar.
Natalia assentiu lentamente e se virou.
Não sabia o que realmente queria.
Mas se havia algo claro para ela...
Era que Emiliano Valenti não sairia tão facilmente do seu coração.
Natalia não sabia quanto tempo havia se passado desde sua última conversa com Emiliano. Foram dias cheios de incertezas, de pensamentos que a devoravam enquanto ela caminhava pelos corredores da mansão, como um espectro que vagava entre seus próprios desejos e as expectativas que ele havia colocado sobre ela.
O silêncio havia se apoderado da casa, e com ele, também uma sensação de vazio. Emiliano havia desaparecido em seus compromissos de trabalho, como sempre, como se nada tivesse mudado entre eles.
E, em parte, nada tinha mudado.
A mansão continuava a mesma, os luxos ao seu redor permaneciam intactos, e as rotinas que ela aprendeu a aceitar não haviam sido alteradas. No entanto, Natalia sabia que algo dentro dela havia mudado. Não podia voltar à maneira como vivia antes, quando as palavras de Emiliano pareciam simples e seu afeto uma constante inquebrantável. Agora, tudo isso parecia distante, como se fosse parte de outra vida.
Decidiu sair. Precisava clarear a mente, respirar um pouco de ar fresco e, mais do que tudo, se afastar do peso das paredes que a rodeavam. Não podia continuar naquela casa, trancada com seus próprios demônios.
Caminhou pelo jardim, seus passos rápidos e firmes, sem um destino claro em mente. Enquanto avançava, sua visão se perdia entre as flores, mas sua mente continuava presa na conversa recente com Emiliano. O que significavam suas palavras? Ele realmente não sabia o que era o amor? Como alguém como ele, com tudo o que tinha, não podia entender o que era sentir algo além da posse?
Emiliano sempre vivera cercado por pessoas que se submetiam à sua vontade, admiradores que nunca questionavam sua autoridade, seu poder, seu controle. Mas Natalia nunca foi uma dessas pessoas. Desde o início, ela se manteve à parte, observando, avaliando, sentindo que algo não estava certo.
Em sua mente, ela lembrava aquele primeiro encontro, quando Emiliano a contratou para sua empresa. Ela havia sido fria, distante, profissional, mas com o tempo algo mudou. Ele a pegou de surpresa com sua dureza, sua ambição, e embora soubesse que estava presa em um jogo que não controlava totalmente, não conseguiu evitar ceder à sua influência.
Aquele primeiro beijo, aquela primeira noite em que cruzaram a linha invisível entre chefe e empregada, entre amigos e amantes, foi o início de algo que nenhum dos dois havia planejado. Mas o que ela não entendeu naquele momento foi como Emiliano havia usado essa relação desde o começo, como seu coração nunca esteve realmente envolvido, ao menos não da forma como o dela esteve.
E, ainda assim, ali estava ela, tentando encontrar alguma razão para ficar.
De repente, uma figura se aproximou no jardim. Era Emiliano, caminhando com passos firmes, como sempre, com aquele olhar que podia atravessar qualquer barreira. Quando seus olhos se encontraram, algo no ar mudou, e Natalia sentiu uma pressão no peito.
- Estava te procurando - disse ele, com sua voz grave e controlada.
Natalia ficou em silêncio, sem saber o que dizer. Nos olhos dele, havia uma mistura de determinação e algo mais, algo que ela não conseguia identificar.
- Por quê? - perguntou ela, com um tom mais desafiador do que pretendia.
Emiliano parou à sua frente, olhando-a com intensidade.
- Porque quero que pare de fugir.
As palavras de Emiliano a atingiram em cheio, como uma onda que a arrasta sem piedade.
- Fugir? - repetiu ela, surpresa com sua acusação. - Não estou fugindo.
- Sim, está sim - respondeu ele com firmeza. - Você está fugindo de tudo isso. Do que somos, do que poderíamos ser.
Natalia engoliu em seco, sentindo o peso das palavras dele.
- Não sei o que somos, Emiliano - respondeu com a voz trêmula, embora tentasse se manter firme.
Ele a olhou fixamente, dando um passo em sua direção.
- Eu sei. Eu também não sei. Mas isso não significa que temos que continuar fugindo.
O ar entre eles se tendeu, e Natalia sentiu como se as palavras ficassem presas na garganta.
- Você e eu... - começou ela, mas sua voz se apagou antes de poder terminar.
Emiliano levantou uma mão e tocou suavemente seu braço, seu toque leve, mas carregado de uma sensação desconfortável.
- Sei que isso não é fácil para você - disse em voz baixa. - Sei que você tem medo, mas também sei que não posso continuar fingindo que isso não importa.
- Por que você não pode simplesmente me deixar ir? - perguntou Natalia, quase em um sussurro.
Emiliano fechou os olhos por um momento, como se lutasse com seus próprios pensamentos. Então os abriu novamente e a olhou com uma sinceridade que a surpreendeu.
- Porque você importa mais para mim do que quer admitir.
Natalia sentiu um arrepio percorrer seu corpo. As palavras de Emiliano eram como uma corrente invisível que a aprisionava.
- Não faça isso comigo - disse ela, quase suplicante.
- O que te assusta? - perguntou ele, seu tom suave, mas com uma determinação palpável.
Natalia respirou fundo. Sabia que a resposta era algo que não queria admitir. Porque, se o fizesse, tudo perderia o sentido.
- O que me assusta... é que eu não sei mais quem você é. - Sua voz quebrou ligeiramente, mas ela não retrocedeu. - O que me assusta é que talvez nem eu saiba quem sou quando estou com você.
Um silêncio pesado caiu entre eles, enquanto Emiliano processava suas palavras.
- Então... precisamos descobrir isso. - Sua voz se suavizou. - Juntos.
Natalia o olhou, sem saber o que responder. As emoções estavam à flor da pele, e pela primeira vez, ela sentiu que a única saída era enfrentar o que realmente sentia por ele. Mas fazer isso significava arriscar tudo, e ela não tinha certeza se estava pronta para esse salto.
Ao longe, o som dos pássaros começou a preencher o ar, como se o mundo continuasse a girar, independentemente do que acontecesse entre eles. Mas para Natalia, o futuro parecia mais incerto do que nunca.