Amor Envenenado, Justiça Amarga
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Capítulo 2

Acordei com um sobressalto em um quarto branco e estéril, o cheiro de antisséptico ardendo em minhas narinas. Uma dor surda latejava no meu braço, onde uma agulha de soro estava presa com fita adesiva.

Gustavo tinha feito isso. Depois do nosso confronto, tive um ataque de pânico, hiperventilando até desmaiar. Ele não chamou uma ambulância. Ele chamou seu médico particular, aquele que prescrevia "calma" para esposas ricas. Ele estava tentando construir seu caso, documentar minha "instabilidade".

Uma jovem de terninho elegante estava perto da janela. "Sra. Guedes? Sou Sara, a associada júnior do seu marido."

Seus olhos estavam cheios de uma pena que eu não queria.

"O Sr. Guedes me pediu para trazer estes papéis para a senhora assinar", disse ela, colocando um arquivo fino na mesa de cabeceira. "Ele disse que a senhora estava esperando."

Lembrei-me de suas palavras da noite anterior. Apenas alguns papéis para o escritório. Uma formalidade.

Minhas mãos tremiam enquanto eu abria a pasta. Era uma pilha de documentos, densa com jargão jurídico. Mas uma página se destacava, escondida no meio.

Uma petição de divórcio.

Estava pré-preenchida, citando diferenças irreconciliáveis. Só precisava de nossas assinaturas. Embaixo dela havia outro documento, uma procuração, dando a ele controle total sobre meus bens se eu fosse considerada "incapaz".

Ele estava armando uma armadilha. Ele me declararia mentalmente incompetente, pegaria tudo e me trancaria.

"Ele disse para assinar em todas as abas amarelas", disse Sara suavemente.

Olhei para ela, um pensamento surgindo na névoa da minha dor e medo. Gustavo era arrogante. Ele confiava em seu poder, em sua capacidade de fazer as pessoas fazerem o que ele queria. Ele não teria se dado ao trabalho de explicar os documentos para sua júnior. Ele apenas disse a ela para conseguir uma assinatura.

"Na verdade", eu disse, minha voz surpreendentemente firme, "meu marido e eu discutimos isso. Eu só devo assinar um destes hoje."

Eu cuidadosamente retirei a petição de divórcio.

"Apenas este", eu disse, meu coração batendo forte. "Ele disse que cuidaria do resto mais tarde."

Sara pareceu confusa por um momento, mas depois assentiu. "Ok, claro."

Encontrei a linha da assinatura. Janaína Mendes Guedes. Eu assinei. Então empurrei o papel para o outro lado.

"Ele precisa assinar também", eu disse. "Bem aqui."

Ela apontou. "Mas o Sr. Guedes já..." Ela parou, olhando para a página. Gustavo, em sua pressa e arrogância, havia apenas preenchido os detalhes. Ele ainda não tinha assinado sua parte. Ele esperava obter minha assinatura em tudo primeiro, um cheque em branco para a minha vida.

"Ele me disse para pegar a assinatura dele logo depois que eu assinasse", menti suavemente. "Ele está esperando por isso."

Sara, ansiosa para agradar seu chefe poderoso, não questionou. Ela pegou o celular. Alguns minutos depois, uma assinatura eletrônica de Gustavo Guedes apareceu na linha ao lado da minha. Estava feito.

O documento agora era legalmente vinculativo.

"Vou protocolar isso imediatamente, Sra. Guedes", disse Sara, recolhendo os papéis. Ela deixou a procuração não assinada na mesa.

Respirei fundo e trêmula. Foi uma pequena vitória, uma pequena rachadura em sua armadura, mas era um começo.

Saí da clínica contra o conselho médico e peguei um táxi não para casa, mas para o pequeno jardim comunitário que minha mãe cuidava há anos. Fiquei entre suas rosas, o perfume delas uma lembrança dolorosa.

"Me desculpe, mãe", sussurrei para o ar vazio. "Sinto muito por não ter conseguido justiça para você. Ainda não."

Mas eu fiz uma promessa a ela. "Eu vou fazê-los pagar. Os dois. Eu juro."

Um plano começou a se formar em minha mente, selvagem e desesperado. Se o mundo pensava que eu era instável, se Gustavo queria me apagar, talvez eu devesse apenas... desaparecer.

Forjar minha própria morte.

Era loucura. Mas que outra escolha eu tinha? Ele tinha todas as cartas. Ele poderia me desacreditar, me internar, e ninguém acreditaria em mim. Mas se eu estivesse morta, eu seria um fantasma. E fantasmas podem assombrar as pessoas de maneiras que os vivos não podem.

Eu precisaria de uma nova identidade, uma nova vida. E dessa nova vida, eu lançaria minha vingança. Eu me tornaria o pesadelo viral que exporia Gustavo Guedes e Keila Diniz ao mundo.

Tomando coragem, fui para casa. A casa estava silenciosa, mas eu podia ouvir risadas fracas vindo do pátio dos fundos.

Atravessei a sala de estar fria, com piso de mármore, e saí.

Lá estavam eles. Gustavo e Keila Diniz, relaxando à beira da piscina. Keila estava usando um dos meus robes de seda, bebendo uma mimosa. Gustavo estava rindo de algo que ela disse, seu rosto relaxado e feliz de um jeito que eu não via há meses.

Ele olhou para cima e me viu. O sorriso desapareceu.

"Janaína. Você está em casa", disse ele, um lampejo de irritação em seus olhos.

Keila me olhou de cima a baixo, um sorrisinho presunçoso brincando em seus lábios. "Oh, querida, você está simplesmente horrível. O estresse realmente não está te fazendo bem."

"O que ela está fazendo aqui, Gustavo?", perguntei, minha voz neutra.

"Keila estava se sentindo um pouco abalada depois do julgamento", disse ele suavemente. "Eu a convidei para ficar por alguns dias. Para descansar e se recuperar."

"Recuperar-se de quê?", retruquei. "De comemorar ter se safado de um assassinato?"

Keila ofegou teatralmente. "Gustavo, ela está sendo cruel."

Gustavo se levantou e caminhou até mim, seu corpo bloqueando minha visão dela. "Já chega, Janaína. Keila é nossa convidada."

Ele então teve a audácia de me entregar uma lista. "Keila tem algumas... necessidades particulares. Ela é alérgica a glúten, lactose, e só bebe água Voss a exatamente 7 graus. Anotei as preferências de refeição dela. Tenho certeza de que você pode dar um jeito."

Olhei para a lista, depois para ele. Ele estava me pedindo, me ordenando, para cozinhar e servir a mulher que tentou matar minha mãe. Na minha própria casa.

A arrogância pura e estonteante era quase impressionante.

"Você não pode estar falando sério", eu disse, minha voz perigosamente baixa.

"Janaína, já passamos por isso", disse ele, seu tom o de um pai paciente repreendendo uma criança difícil. "Precisamos manter os Diniz felizes. Pense nisso como parte do seu papel como minha esposa."

"Sua esposa?", eu disse, uma risada amarga escapando dos meus lábios.

Keila, aproveitando o momento, vestiu um dos meus suéteres de caxemira velhos e um pouco gastos. Um suéter que Gustavo me comprou anos atrás. Ela o esticou.

"Isso é tão macio", ela ronronou. "Mas está um pouco datado, não acha?" Ela olhou para mim. "Provavelmente é mais o seu estilo."

Lembrei-me de uma vez em que outra mulher fez um comentário maldoso sobre meu vestido em uma festa da empresa. Gustavo se colocou na minha frente, passou o braço pela minha cintura e informou friamente que sua esposa tinha um gosto impecável. Ele havia defendido minha honra.

Agora, ele ficava parado e deixava essa mulher me insultar com minhas próprias roupas.

Eu não disse nada. Apenas peguei a lista da mão dele. Para o plano funcionar, eu tinha que aguentar. Tinha que interpretar o papel da esposa quebrada e submissa por mais um tempo.

Mais tarde naquela noite, Keila alegou que não conseguia dormir, que a casa era "assustadora". Ela foi para o quarto de Gustavo, chorando por causa de pesadelos.

Ele estava mais do que ansioso para confortá-la.

Uma hora depois, ele veio ao quarto de hóspedes onde eu estava.

"Janaína", disse ele, parado na porta. "Keila é muito sensível. Ela se sente mais confortável na suíte principal. Preciso que você tire suas coisas de lá."

Olhei para cima da cama. Atrás dele, no corredor, eu podia ver Keila encostada no batente da porta do quarto principal. Ela encontrou meus olhos, e seus lábios se curvaram em um sorriso triunfante e zombeteiro.

"Claro", eu disse, minha voz desprovida de emoção. "Ela pode ficar com ele."

Levantei-me e passei por ele, sem nem mesmo olhar em sua direção. "Afinal", acrescentei, parando na porta. "Eu não gostaria que sua convidada ficasse desconfortável."

Enquanto eu caminhava pelo corredor para um quarto de hóspedes ainda menor, senti algo mudar dentro de mim. Não foi apenas o amor que morreu. Foi a esperança. A última, estúpida e persistente brasa de esperança de que alguma parte do homem com quem me casei ainda estivesse lá.

Ele se foi. E em seu lugar havia um monstro.

E eu tinha acabado com ele. Total e completamente.

            
            

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