"Tente parecer um pouco menos miserável, Janaína", Gustavo sibilou enquanto entrávamos. "Você está estragando o clima."
Eu o ignorei, meus olhos percorrendo o opulento salão de baile. A elite da cidade estava toda aqui, bebendo champanhe e fechando negócios sob o pretexto de caridade.
Keila estava em seu elemento, flutuando de grupo em grupo, aceitando condolências pela "trágica perda da mãe de seu querido amigo". As pessoas a bajulavam, elogiando sua força e generosidade por sediar o evento.
"É tão maravilhoso o que você está fazendo pela família de Gustavo", uma mulher pingando diamantes se derramou. "Ele tem sorte de ter você."
"Ele é o forte", disse Keila, colocando uma mão delicada no braço de Gustavo. "Ele tem sido minha rocha durante toda essa provação."
Ouvi um homem falando sobre um negócio que Gustavo havia fechado recentemente. "Ele vendeu todo o seu portfólio de tecnologia. Teve um prejuízo enorme. Dizem que ele fez isso para cobrir um rombo financeiro da corporação Diniz. Isso é devoção."
Keila olhou para Gustavo, seus olhos arregalados com adoração fingida. "Você fez isso por mim?"
Era tudo uma performance, e eu era o adereço silencioso e de rosto sombrio no fundo. Alguém fez uma piada sobre meu vestido simples, comparando-o com a fineza de Keila. Senti a pontada da humilhação, mas mantive meu rosto uma máscara em branco. Eu era uma observadora agora, catalogando cada desprezo, cada mentira.
O evento principal foi um leilão de caridade. Gustavo, ansioso para impressionar Keila, deu lances extravagantes em joias e arte, tudo o que ele presenteou a ela na hora. Ela gritava de alegria, beijando-o para as câmeras.
Então, o item final apareceu. Um raro e antigo colar de safiras. Keila ofegou.
"Oh, Gustavo, é requintado", ela suspirou. "É o que eu sempre quis."
Gustavo levantou sua raquete. Mas outro licitante do outro lado da sala o acompanhou. O preço subiu cada vez mais. Finalmente, Gustavo foi superado.
O rosto de Keila caiu, seu lábio inferior tremendo em um beicinho. O vencedor era um magnata velho e lascivo chamado Sr. Sampaio.
Gustavo imediatamente se desculpou e foi direto para a mesa de Sampaio. Eu observei de longe, minha curiosidade aguçada. Aproximei-me, escondendo-me atrás de um grande arranjo floral.
"Sampaio", disse Gustavo, sua voz baixa. "Diga seu preço pelo colar."
Sampaio sorriu um sorriso lento e predatório. "Não está à venda, Guedes. Mas... eu poderia ser convencido a trocar."
Seus olhos passaram por Gustavo, pousando diretamente em mim.
"Sempre admirei sua esposa", disse Sampaio, seu olhar pegajoso e possessivo. "Uma beleza clássica. Uma pena que você a mantenha escondida. Passe uma noite com ela... e o colar é seu."
Meu estômago se revirou. Esperei que Gustavo explodisse, que defendesse minha honra. Esperei que ele colocasse Sampaio em seu lugar.
Mas ele não o fez. Ele apenas ficou lá. Em silêncio. Considerando.
Ele estava realmente considerando me trocar por uma joia para sua amante.
Foi isso. A última e microscópica peça do meu coração que poderia ter algum apego a ele se estilhaçou em pó.
Senti meu corpo começar a tremer incontrolavelmente. Eu tinha que sair dali. Virei-me e caminhei rapidamente, cegamente, em direção à saída.
Gustavo me alcançou no corredor. "Janaína, espere."
"Não me toque", cuspi, puxando meu braço.
"Janaína, me escute", disse ele, sua voz urgente e baixa. "Só mais esta última coisa. Faça isso por mim, por nós. Sampaio é um homem velho. É só uma noite. E então estaremos livres. Eu te darei o que você quiser. Faremos aquela viagem que prometi."
"Você é nojento", sussurrei, as palavras cheias de um desprezo tão puro que era quase uma força física. "Você é a desculpa mais vil e patética para um homem que eu já conheci."
Seu rosto endureceu. "É um bom negócio, Janaína."
Eu ri, um som selvagem e desequilibrado que ecoou no corredor vazio. Vi um garçom passando com uma bandeja de bebidas. Em um momento de puro desespero autodestrutivo, peguei uma taça de champanhe e a bebi de um só gole.
O efeito foi imediato. Minha cabeça girou. O corredor inclinou, as luzes se transformando em longas faixas borradas. Minhas pernas pareciam de borracha.
Tropecei, e Gustavo me segurou. "O que há de errado com você?"
Olhei para ele, minha visão se afunilando. "A bebida...", balbuciei. "Algo está... errado."
Ele me segurou, sua expressão ilegível. Percebi com um baque nauseante que ele havia planejado isso. Ele sabia que eu estaria emotiva. Ele sabia que eu poderia fazer algo impulsivo. Ele ou Keila provavelmente haviam providenciado para que as bebidas drogadas estivessem naquela bandeja.
Ele me puxou para perto, seus lábios roçando minha orelha.
"Sinto muito", ele sussurrou, sua voz uma carícia venenosa. "Apenas aguente isso. Eu prometo, é a última vez."
A última vez que ele me venderia. A última vez que ele me sacrificaria por ela.
A escuridão se fechou, e a última coisa que senti foi ele guiando meu corpo mole em direção a um elevador privativo.