Lembranças dos momentos ternos que haviam compartilhado suavizaram Jonny, que, sem refletir demais, acabou assentindo. "Se esse é o seu desejo, então a casa é sua."
Eleanor acompanhava a troca entre os dois com um misto de desgosto e incredulidade, enquanto um sorriso carregado de ironia surgia em seus lábios. "Jonny, há instantes você me garantiu que essa propriedade seria minha. E agora, sem o menor pudor, está repassando-a para ela. Não acha isso uma demonstração vergonhosa de desfaçatez?"
Suas palavras o surpreenderam.
Durante os três anos de convivência, Eleanor sempre se mostrava discreta e comedida, jamais ousando adotar um tom de confronto.
A expressão de Jonny se fechou, sua voz assumindo uma nota ríspida: "Estamos falando apenas de uma residência. Tenho inúmeros imóveis. Escolha qualquer outro, e farei a transferência em seu nome."
Percebendo a tensão crescente, Lainey interveio com presteza: "Senhora Todd, se me conceder a mansão, terei o prazer de adicionar mais dez milhões ao seu acordo de compensação."
O olhar que Eleanor lançou em sua direção foi carregado de escárnio. "Senhorita Gilbert, está tentando ser espirituosa? Essa propriedade, sozinha, tem um valor de mercado estimado em, no mínimo, sessenta milhões. Acha mesmo que dez milhões são suficientes para me comprar?"
O rubor sumiu do rosto de Lainey, que imediatamente se voltou para Jonny com uma expressão ferida e voz trêmula: "Jonny, essa não era a minha intenção..."
Ignorando o fingimento da jovem, Eleanor a interrompeu de maneira firme e cortante: "Se a senhorita deseja tanto essa mansão, não serei inflexível. Contudo, estipulo meu preço - Jonny deverá cedê-la em troca de dez por cento das ações do Grupo Todd."
"O quê?" A incredulidade na voz de Lainey reverberou pelo ambiente. "Senhora Todd, está completamente fora de si?"
Afinal, o Grupo Todd era uma empresa de capital aberto, e uma fatia de dez por cento correspondia a um valor superior a cem milhões.
A proposta de Eleanor era, à primeira vista, desproporcional, e todos nesse cômodo estavam plenamente cientes disso.
A expressão de Jonny se tornou imediatamente rígida, a voz carregada de advertência: "Eleanor, não teste minha paciência."
Sem demonstrar qualquer sinal de abalo, Eleanor sustentou o olhar irritado dele com absoluta serenidade. "Ou você me entrega as ações, ou deixa a mansão comigo, Jonny. A escolha é inteiramente sua."
A atmosfera no recinto se tornou densa, impregnada por uma tensão palpável e repentina.
Diante do crescente atrito, Lainey segurou o braço de Jonny com delicadeza e, inclinando-se levemente em sua direção, murmurou com doçura suplicante: "Deixe isso para lá, Jonny. Não preciso mais dessa casa. Qualquer lugar será suficiente, contanto que eu esteja ao seu lado."
Essas palavras, envoltas em ternura, amenizaram a rigidez de Jonny, cujos traços se suavizaram discretamente.
Ele se voltou então para Eleanor, encarando-a com frieza. "Fique com a casa."
Ciente de que havia assegurado o que lhe era de direito, Eleanor perdeu o interesse em prolongar o embate e, sem mais uma palavra, começou a se afastar.
Contudo, a voz melodiosa de Lainey ressoou pelas costas dela: "Senhora Todd!"
Ao se virar, Eleanor se deparou com Lainey sorrindo com aparente gentileza. "Agradeço sinceramente por ter cuidado de Jonny durante todos esses anos. A partir de agora, asseguro que farei com que ele aprenda o verdadeiro significado de ter uma boa esposa."
Apesar do tom cortês, cada palavra soava como uma provocação velada.
Eleanor permaneceu em silêncio por um instante, até que uma gargalhada inesperada escapou de seus lábios.
Com um passo firme, ela retornou à mesa, apanhou a xícara de café intocada de Jonny e, sem hesitação, arremessou o conteúdo sobre os dois.
"Ah!", Lainey exclamou em choque quando o líquido quente se espalhou sobre o delicado vestido branco, deixando marcas visíveis e arruinando por completo sua aparência impecável.
O terno caro e sob medida de Jonny também foi atingido, e a fúria tomou conta de suas feições. "Eleanor! Você enlouqueceu completamente?"
Com tranquilidade provocativa, Eleanor recolocou a xícara vazia sobre a mesa e respondeu com um sorriso afiado como lâmina: "Foi apenas um descuido da minha parte. Vi algo repulsivo e agi por instinto."
Sem dirigir mais nenhum olhar ao casal, Eleanor girou nos calcanhares e se afastou com passos decididos, deixando-os ali, mergulhados em sua própria desgraça.