Capítulo 7 Acabei por trair sua confiança

Assim que compreendeu as palavras firmes de Eleanor, a fisionomia de Jonny escureceu de maneira perceptível.

"Eleanor, tem plena convicção do que está dizendo?", indagou Sallie, com a voz carregada por um resquício de esperança.

"Tenho, sim", respondeu Eleanor, com serenidade e firmeza inabalável.

"Sendo assim, não tentarei te dissuadir", murmurou Sallie.

Ela compreendia profundamente os danos que uma união infeliz podia causar à alma de uma mulher. "Se essa é a decisão que você considera melhor para si, saiba que contará com o meu apoio incondicional."

"Sou muito grata por isso, Sallie", disse Eleanor com sinceridade.

"Não se sinta obrigada a permanecer para o jantar esta noite. Com Jonny e Lainey presentes, compreendo que o ambiente se tornaria desconfortável. Prefiro te convidar para uma refeição em outra ocasião, apenas nós duas."

Tocada pela gentileza calorosa da idosa, Eleanor assentiu respeitosamente. "Tudo bem, retornarei outro dia."

Com essas palavras, ela se ergueu, virou as costas para Jonny sem a menor hesitação e deixou a propriedade da família Todd com o queixo erguido e passos firmes.

...

Comprometida em romper qualquer elo remanescente com Jonny, ela decidiu encerrar de vez todas as pendências materiais.

Mais tarde, nesse mesmo dia, ela entrou em contato com Lillian e solicitou que acionasse um corretor imobiliário.

A visita de Lillian não tardou.

Após uma breve avaliação da propriedade, ela perguntou surpresa: "Este imóvel está situado em uma área extremamente valorizada. Tem certeza absoluta de que deseja se desfazer dele?"

"Manter este lugar seria como perpetuar um mau presságio. Prefiro me desfazer disso e seguir meu caminho em paz", declarou Eleanor, sem hesitação.

"Você tem razão quanto a isso. Eu vou cuidar de tudo, assim você não precisa se preocupar. "

Eleanor, em sinal de apreço, colocou à sua frente uma xícara de café recém-passado. "Obrigada, Lillian."

"Não há de quê. É para isso que servem os amigos", afirmou Lillian, se acomodando no sofá. "Aliás, o senhor Gill irá promover uma exposição exclusiva de antiguidades em duas semanas. Gostaria de me acompanhar?"

Eleanor vacilou por um instante, visivelmente incerta. "Não tenho certeza se ele gostaria de me ver outra vez..."

"Você está superestimando as coisas!", comentou Lillian com um sorriso reconfortante, passando delicadamente o braço ao redor dos ombros de Eleanor. "Você é a única discípula que ele aceitou. Claro que ele deseja te reencontrar!"

David Gill não era apenas uma figura proeminente no universo dos colecionadores de relíquias e antiguidades, mas também ocupava uma posição singular como legítimo herdeiro das técnicas médicas transmitidas pelas gerações do lendário Vale Místico.

De acordo com a tradição desse círculo seleto, cada mestre do Vale consagrava sua vida a treinar apenas um sucessor, e David havia depositado sua confiança justamente em Eleanor.

Eleanor jamais frustrara as expectativas de David, aperfeiçoando com maestria a técnica delicada da terapia com instrumentos especializados.

A fim de preservar sua identidade em anonimato, ela adotava o hábito de atender seus pacientes oculta por trás de uma máscara.

Com o tempo, rumores começaram a circular entre os círculos privilegiados e, como ninguém conhecia seu verdadeiro nome, ela passou a ser referida simplesmente como Cirurgiã da Alma.

Seu dom poderia tê-la levado ao prestígio no campo médico, mas ela optara por sufocá-lo e viver como a esposa devotada de Jonny durante três longos anos.

A lembrança do olhar abatido de David antes de seu casamento ainda a perseguia, fazendo a culpa pesar em seu coração.

Percebendo sua hesitação, Lillian a segurou pelo antebraço, oferecendo apoio silencioso. "Chega de se torturar com culpa. Quando esse momento chegar, irei com você."

"Está bem", respondeu Eleanor, em um sussurro contido.

Duas semanas escoaram com rapidez surpreendente.

Logo a tão aguardada exposição de antiguidades foi inaugurada com pompa e esplendor.

O local transbordava de visitantes - entre eles, inúmeros representantes da elite endinheirada, muitos dos quais sem nenhum interesse genuíno pelas peças históricas, mas compareciam com o único intuito de ostentar status e ser notados.

Do lado de fora do salão reservado aos convidados de honra, Eleanor vacilou por um instante antes de erguer a mão e bater à porta.

"Entre."

Ao som da voz, a porta se abriu lentamente.

Sentado em sua cadeira de rodas próximo à janela, David permanecia de costas. Em apenas três anos, seus cabelos haviam adquirido um tom prateado surpreendente.

"Está excessivamente ruidoso lá fora. Pretendo sair quando começarem os intervalos", declarou ele, presumindo se tratar de um assistente qualquer, sem sequer desviar o olhar.

Eleanor inspirou profundamente, buscando conter a ansiedade, antes de murmurar com serenidade: "Senhor Gill."

Lentamente, ele girou a cadeira na direção da voz, e seus olhos se arregalaram em absoluta surpresa. "Eleanor?"

"Sim, sou eu", confirmou Eleanor, atravessando o recinto com passos firmes. "Venho para lhe oferecer minhas mais sinceras desculpas. Após todos os anos em que me orientou com tanta dedicação, acabei por trair a confiança que você depositou em mim."

David balançou a cabeça com lentidão, a voz carregada de compreensão: "Não há motivos para se penitenciar. Esta é a sua vida, e você tem o direito de fazer suas próprias escolhas."

"Mas agora estou aqui. E desta vez, estou decidida a honrar plenamente o legado médico que me foi confiado como a Cirurgiã da Alma."

"E seu marido concordaria com uma decisão dessas?"'

            
            

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