A Traição Dele Gerou Uma Rainha Implacável
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Capítulo 2

As algemas nunca ficaram por muito tempo.

Menos de uma hora depois que dei a ordem, uma ligação veio do gabinete do prefeito. Heitor Azevedo era um pilar da economia de São Paulo. Sua empresa, a "Nexus", era uma gigante. Uma prisão, mesmo por um delito menor, afetaria o preço das ações. Era ruim para a imagem da cidade.

As acusações foram retiradas. Foi uma demonstração clássica de poder, o tipo de jogada pela qual minha própria família era famosa. Desta vez, foi usada contra mim.

Fiquei em silêncio no saguão da delegacia, um fantasma em meu próprio espaço profissional, enquanto Heitor emergia. Ele nem sequer olhou para mim. Seu foco estava inteiramente em Cíntia, que enxugava os olhos secos com um lenço de papel. Ele passou o braço ao redor dela, puxando-a para seu lado, um gesto protetor que foi como um soco no meu estômago.

Ele era um cavaleiro protegendo sua princesa do dragão. E eu era o dragão.

Eu os observei partir, seu Porsche Cayenne preto e blindado roncando ao se afastar da calçada. O mundo via um bilionário mimando sua bela namorada. Eu via o homem que compartilhava minha cama, o pai da criança crescendo dentro de mim, escolhendo outra mulher repetidamente.

A frieza dentro de mim se solidificou. Não era mais apenas uma ausência de calor; era uma presença. Uma arma.

Peguei meu celular e enviei uma única mensagem de texto para o chefe de gabinete do meu pai. Continha apenas o número do caso e o nome de Heitor.

A resposta foi instantânea. *O Senador está a caminho da propriedade dos Azevedo. Ele espera vê-la lá.*

Claro. Um insulto a um Queiroz era um insulto a toda a família. Não se tratava mais de um casamento desfeito; tratava-se de uma aliança quebrada.

Quando cheguei à imponente mansão dos Azevedo nos Jardins, a cena já estava tensa. Heitor estava no meio da grande sala de estar, o rosto pálido de fúria. Seus pais, Ricardo e Eleonora Azevedo, sentavam-se rigidamente em um sofá de brocado de seda, suas expressões como pedra. Eram da elite paulistana tradicional, e escândalo era a única moeda que se recusavam a negociar.

"Você humilhou publicamente esta família, Heitor!", a voz de Ricardo Azevedo era baixa, mas carregava o peso da autoridade geracional. "Você ostentou essa... essa garota, e ao fazer isso, desrespeitou Alana e o pai dela."

Ele não disse "sua esposa". Ele disse "Alana". Ele não disse "seu sogro". Ele disse "o pai dela". No mundo deles, a aliança era tudo. Heitor, seu próprio filho, era meramente um componente dela. Um componente defeituoso, aliás.

Eleonora finalmente olhou para mim, seus olhos contendo um brilho do que poderia ter sido simpatia, mas era mais provavelmente um cálculo pragmático. "Alana, minha querida. Sinto muito que você tenha tido que passar por isso. Nós vamos dar um jeito nele."

O olhar de Heitor se voltou para mim, seus olhos queimando com uma luz furiosa e odiosa. Ele sabia. Ele sabia que fui eu quem chamou a cavalaria.

"Você correu para o seu papai", ele sibilou baixinho, para que apenas eu pudesse ouvir.

A voz de Ricardo estalou como um chicote. "Você vai pedir desculpas a Alana. E vai terminar esse caso sórdido com essa mulher Rosa. Imediatamente."

Heitor riu, um som áspero e feio. "Terminar? Eu a amo. Ela não é como essa... essa rainha do gelo que vocês todos me forçaram a aceitar." Ele gesticulou desdenhosamente para mim.

O rosto de Ricardo ficou branco de raiva. "Amor? Você é um Azevedo. Não temos o luxo do 'amor' quando a reputação da família está em jogo." Ele apontou um dedo trêmulo para a porta. "Você vai sair desta casa. Você vai até Alana e vai implorar pelo perdão dela."

A mandíbula de Heitor se contraiu. Por um momento, pensei que ele desafiaria o pai, mas a ameaça de ser deserdado, de perder o nome Azevedo que abrira tantas portas para seu império de "dinheiro novo", era grande demais.

Ele caminhou em minha direção, o rosto uma nuvem de tempestade. Não disse uma palavra. Apenas agarrou meu braço, seus dedos cravando em minha carne como garras, e me arrastou para fora de casa.

"Meus pais esperam um show", ele rosnou, me empurrando para o banco do passageiro de seu carro. "Então vamos dar um a eles."

A porta bateu com um estrondo ensurdecedor. Ele entrou, os pneus cantando enquanto se afastava da calçada. O carro voou pelas ruas sinuosas, as luzes da cidade se transformando em rastros de cores raivosas.

"Você está feliz agora?", ele cuspiu, os olhos fixos na estrada. "Você pôde bancar a esposa traída, chamar seu pai poderoso para me colocar no meu lugar. Você adora isso, não é? Me controlar. Me gerenciar. É tudo o que você sempre quis."

Eu não disse nada. Apenas olhei pela janela, uma onda de náusea me percorrendo. Minha mão foi para o meu estômago. *Por favor, fique quieto*, rezei para a vida minúscula e secreta dentro de mim.

"Olha pra você", ele zombou, seu olhar se voltando para mim por um segundo. "Tão perfeita. Tão equilibrada. Sempre em seus terninhos pretos sem graça, olhando para todos de cima. Você se acha muito melhor do que ela, não é?"

Ele riu de novo, aquele mesmo som cruel. "Sabe o que a Cíntia tem que você não tem? Vida. Paixão. Quando ela me toca, eu sinto alguma coisa. Quando você me toca... é como passar por uma auditoria. Cada beijo, cada toque parece uma transação. Calculado. Frio."

Suas palavras eram veneno, cada uma meticulosamente escolhida para infligir a maior dor possível. Ele estava descrevendo meu amor, o afeto profundo e desesperado que eu tanto tentei demonstrar, e o transformando em algo feio e transacional.

Pensei em todas as noites que esperei por ele, nos presentes cuidadosamente escolhidos que ele mal notou, na maneira como pratiquei sorrir no espelho para parecer a esposa perfeita e feliz que sua imagem exigia. Tudo isso, um show patético de uma mulher só.

Nesse momento, o celular dele tocou. A tela iluminou o carro escuro.

*Cí Baby*

Meu coração parou.

Todo o seu comportamento mudou em um instante. A raiva desapareceu, substituída por uma ternura em pânico.

"Cí? O que foi?"

A voz dela, mesmo distorcida pelo telefone, era um soluço teatral. "Totor... eles foram tão maus comigo... estou com medo..."

"Shhh, meu bem, está tudo bem", ele arrulhou, sua voz a mesma que eu ouvira na suíte do hotel. "Estou chegando. Estou a caminho agora mesmo. Não chore. Estarei aí em dez minutos."

Ele encerrou a chamada e bateu a mão no volante. Ele parou o carro bruscamente em um trecho escuro e deserto da estrada perto da Represa Guarapiranga, a silhueta distante da cidade indiferente.

"Saia", ele disse, sua voz plana e desprovida de qualquer emoção.

Eu o encarei. "O quê? Heitor, estamos no meio do nada."

"Eu disse, saia!", ele rugiu, o rosto contorcido de impaciência. Ele soltou meu cinto de segurança com um puxão violento e se inclinou sobre mim, empurrando a porta do passageiro para abri-la. "A Cíntia precisa de mim. Você pode ligar para um dos seus empregados vir te buscar."

Ele me empurrou. Com força. Tropecei para fora do carro, me segurando no metal frio antes de cair.

A porta bateu novamente, o som ecoando na noite vazia.

Ele nem olhou para trás. As luzes traseiras vermelhas do Porsche desapareceram em uma curva, me deixando sozinha no vento cortante, cercada pela escuridão.

Eu fui abandonada. Total e completamente.

Peguei meu celular. 3% de bateria. Meus dedos estavam dormentes de frio enquanto eu tentava chamar um carro por aplicativo. Digitei minha localização, minha última esperança.

A tela piscou e ficou preta. A bateria tinha acabado.

            
            

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