O CEO Demitiu Sua Herdeira Secreta
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Capítulo 4

Ponto de Vista: Alice Valenzuela

Kátia se inclinou para mais perto, sua voz baixando para um sussurro conspiratório que se espalhou pelo escritório silencioso. "Todo mundo vê, sabe. O jeito que você anda. Você está praticamente implorando. Não é de se admirar que o Ben sinta pena de você."

Ela se endireitou, sua voz subindo novamente para uma declaração hipócrita. "Sinceramente, alguém deveria te ensinar sobre decência básica. Você não tem vergonha."

Minha mente voltou para as inúmeras noites que passei neste mesmo lugar, movida a café morno e pura determinação, meu cabelo uma bagunça, meus olhos ardendo. Eu fiz isso por ele. Pelo sonho que supostamente compartilhávamos. O sonho de construir algo que importasse. Eu derramei minha alma na fundação da InovaTech, tijolo por tijolo doloroso. E agora, esta era minha recompensa. Ser publicamente envergonhada pelo caimento do meu vestido.

Nesse momento, Bernardo saiu de seu escritório, a testa franzida de aborrecimento. "O que está acontecendo aqui? As pessoas estão tentando trabalhar."

Kátia imediatamente caiu em prantos, uma performance digna de um Oscar. "Benny, ela está fazendo de novo! Olha o que ela está vestindo! É completamente inadequado para o escritório. Ela está tentando te seduzir, na frente de todo mundo!"

O olhar de Bernardo piscou para o meu vestido, depois de volta para o rosto de Kátia, manchado de lágrimas. Eu vi o conflito em seus olhos, a breve luta entre a razão e a paixão.

A paixão venceu.

Ele soltou um suspiro pesado, o som de um homem se rendendo. "Alice", disse ele, com a voz tensa. "Só... pelo amor de Deus. Você pode, por favor, vestir um casaco ou algo assim? Uma roupa diferente, talvez?"

O mundo girou em seu eixo. Ele estava me pedindo para trocar de roupa. Ele estava validando a fantasia insana e maliciosa de Kátia. Ele estava sacrificando minha dignidade, minha posição profissional, no altar do ciúme mesquinho de sua namorada.

Eu o encarei, meu rosto uma tela em branco. Eu não senti nada. A dor era tão profunda, tão absoluta, que se tornou dormência. Um vazio frio e oco onde minha lealdade e respeito por ele costumavam estar.

"Claro, Bernardo", eu disse, minha voz estranhamente calma. "O que você achar melhor para a empresa."

Virei-me e caminhei em direção ao pequeno lounge privado onde eu guardava uma muda de roupa, minhas costas retas como uma vara. O ácido da traição queimava em minha garganta.

Lembrei-me do dia em que nos conhecemos. Eu tinha dezenove anos, uma estudante do segundo ano apavorada, presa na beira de uma rodovia com um pneu furado no meio de uma chuva torrencial. Ele foi quem parou. Um jovem e ambicioso empreendedor em um sedã surrado, seus olhos brilhando com ideias. Ele trocou meu pneu, ficou encharcado até os ossos e falou por uma hora sobre seu sonho de uma empresa de tecnologia que mudaria o mundo. Ele ainda não tinha um nome para ela, mas tinha a visão.

Ele me levou de volta ao campus e me entregou seu cartão. "Se você precisar de um emprego, ou apenas de alguém para te dizer que suas ideias malucas não são tão malucas, me ligue."

Dois anos depois, armada com meu MBA da FGV, não liguei para as consultorias ou bancos de investimento que estavam clamando por mim. Eu liguei para ele. Eu o encontrei naquela garagem empoeirada, à beira de desistir. Eu o escolhi. Eu escolhi isso.

Eu o ajudei a nomeá-la InovaTech. Eu escrevi o plano de negócios que garantiu nossa primeira rodada de financiamento. Eu trabalhei por um salário que era uma fração do meu valor de mercado porque eu acreditava nele. Éramos parceiros. Éramos uma equipe.

Houve noites tardias movidas a pizza barata em que ele olhava para mim por cima de uma montanha de papelada e dizia: "Alice, quando ficarmos grandes, quando tudo isso valer a pena, vou te comprar uma ilha. Vamos administrar a empresa de lá."

Eu nunca levei a sério. Era apenas o devaneio de um sonhador exausto. Eu estava aqui pelo desafio, pela satisfação de construir algo do zero. Eu não estava aqui por ele, não daquele jeito.

Mas eu acreditava no 'nós'.

Agora, parada no silêncio frio do lounge, olhei para meu reflexo na janela escura. A pessoa que me encarava era uma estranha. Uma tola.

O Bernardo de que eu me lembrava, o homem gentil e brilhante que parou para uma garota na chuva, nunca teria me pedido para trocar de roupa para apaziguar uma criança ciumenta. Aquele homem se foi. Talvez ele nunca tenha existido de verdade.

A confiança que eu depositei nele, uma confiança tão absoluta que chocou meu próprio pai, estava se erodindo. Estava virando pó, escorrendo pelos meus dedos como areia.

Lentamente, abotoei um cardigã preto, largo e sem forma sobre meu vestido. O tecido parecia uma mortalha. Eu estava de luto pela morte de uma parceria.

E eu estava finalmente, finalmente começando a reavaliar pelo que, e por quem, eu estava lutando.

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