Casada Pela Enganação de um Bilionário
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Capítulo 2

Ponto de Vista: Helena Ferraz

O silêncio no apartamento era ensurdecedor, quebrado apenas pelo bipe fraco do novo robô de Léo. Minha vida, aquela na qual eu derramei meu sangue, suor e lágrimas por cinco anos, havia sido revelada como uma peça de teatro meticulosamente elaborada. E eu era a atriz principal, involuntária e agora descartada.

Um nó frio e duro se formou na boca do meu estômago. Sair em silêncio? Pegar o cheque de rescisão e desaparecer? Não. Eles tinham tirado tudo de mim – meu tempo, meu dinheiro, meu amor, minha própria identidade como mãe. Eu não os deixaria me apagar tão facilmente.

Eu ainda estava parada ali, congelada no corredor, quando a campainha tocou. Uma hora, Ricardo tinha dito. Eles estavam adiantados. Claro que estavam. Mal podiam esperar para varrer o lixo.

Abri a porta e a encontrei. Isabela Montenegro. Pessoalmente, ela era ainda mais impressionante do que na televisão. Sua beleza era afiada e polida, como um diamante. Ela usava um simples vestido creme que provavelmente custava mais do que minha renda mensal de todos os três empregos somados. Dois homens de ternos escuros, advogados pela aparência, estavam em silêncio atrás dela.

"Helena", disse ela, sua voz suave como seda, mas com uma correnteza de algo afiado por baixo. "Sou Isabela. Sinto muito que você tenha descoberto dessa forma. Tudo deveria ter sido tratado de maneira mais... delicada."

Seus olhos, um tom frio de azul, me percorreram, observando meus jeans gastos e camiseta desbotada. Não era um olhar de simpatia. Era um olhar de avaliação clínica, como um cientista observando um rato de laboratório.

"Você desempenhou seu papel lindamente, no entanto", acrescentou ela, um sorriso fraco e condescendente brincando em seus lábios. "De verdade. O conselho ficou muito impressionado com sua resiliência."

Sem esperar por um convite, ela passou por mim e entrou na sala de estar, seu perfume caro enchendo o pequeno espaço e me sufocando. Ela era a imagem da posse sem esforço.

"Léo, querido!", ela chamou, sua voz mudando, tornando-se quente e melódica.

A cabeça de Léo se ergueu. Um sorriso enorme e genuíno se espalhou por seu rosto, um sorriso que eu não via dirigido a mim o dia todo. Ele se levantou de um salto e correu, não para mim, mas para ela. Ele jogou os braços em volta das pernas dela.

"Isabela!", ele gritou. "Papai disse que você estava vindo!"

Ela riu, um som leve e tilintante, e se abaixou ao nível dele. Ela segurou o rosto dele em suas mãos perfeitamente cuidadas. "Claro, meu menino doce. Você gostou do presente?"

Ele assentiu com entusiasmo.

"Bem, tem muito mais de onde isso veio", disse ela, tirando um pirulito pequeno e colorido de sua bolsa. "Que tal irmos a Paris neste fim de semana? Podemos ver a Torre Eiffel de verdade, não apenas as fotos nos seus livros."

Os olhos de Léo se arregalaram. "Sério?"

"Sério", ela confirmou, acariciando seu cabelo. Foi um gesto de uma intimidade tão praticada que fez meu estômago revirar.

Eu fiquei na porta, um fantasma em minha própria casa. Eu estava assistindo a uma cena de uma vida que corria paralela à minha, uma vida que eu nunca soube que existia. Eu não era sua mãe sendo substituída. Eu era uma substituta temporária, meu contrato agora encerrado.

O olhar de Isabela varreu a sala de estar, seu nariz se enrugando levemente enquanto ela observava nossos móveis modestos e de segunda mão. O sofá que encontrei na calçada e estofei eu mesma. A mesa de centro que lixei e envernizei meticulosamente. Cada peça era um testemunho do meu esforço, meu amor, minha luta.

Para ela, era apenas lixo.

"Deus, Ricardo não estava exagerando", ela murmurou, mais para si mesma do que para mim. "Isso tudo é tão... sombrio. É difícil acreditar que o herdeiro do império Medeiros viveu assim." Ela se virou para um dos advogados. "Anote. Mande limpar e descartar tudo isso antes de trazermos os móveis novos."

Descartar. O trabalho da minha vida. Meu lar.

O advogado assentiu e depois se virou para mim, sua expressão impassível. Ele estendeu uma caneta-tinteiro elegante e cara. "Sra. Ferraz. Se puder apenas assinar o acordo. Os duzentos e cinquenta mil reais serão transferidos para sua conta assim que você desocupar o imóvel."

"Duzentos e cinquenta mil reais", repeti, as palavras com gosto de cinzas na minha boca. "Por cinco anos da minha vida."

"É o maior pacote de compensação já oferecido a um Ator de Papel Social em um projeto desta duração", afirmou o advogado secamente, como se estivesse citando uma lista de preços. "O padrão da indústria é consideravelmente menor."

Padrão da indústria. Eles tinham uma indústria para isso. Para arruinar a vida das pessoas.

"Você deveria aceitar, Helena", disse Isabela, sua voz pingando falsa simpatia. "É uma oferta generosa. Não torne isso feio. Você é uma mulher inteligente. Sabe que não pode lutar contra nós. Seria uma perda de tempo de todos e dos seus... recursos limitados."

Ela então se virou para Léo. "Querido, diga adeus para a Helena."

A ordem final e brutal. O rompimento do laço.

Léo se virou para me olhar. Seu rosto era uma mistura confusa de curiosidade e impaciência. O menino caloroso e amoroso que eu conhecia se fora, substituído por este pequeno estranho frio.

"Adeus, Helena", ele disse, sua voz neutra. Ele me olhou de cima a baixo uma última vez, seu nariz se enrugando em uma imitação perfeita de Isabela.

"Você cheira como a lanchonete", ele disse. "Gorduroso."

E então eu fiz algo que surpreendeu a todos. Surpreendeu até a mim.

Eu ri.

Não foi um som feliz. Foi um som cru, quebrado, terrível que saiu arranhando da minha alma estilhaçada. Foi a risada de uma mulher que não tinha absolutamente nada a perder.

Isabela e os advogados me encararam, suas máscaras de compostura fria finalmente rachando. Eles me olharam como se eu tivesse enlouquecido completamente.

Talvez eu tivesse.

            
            

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