O porteiro abriu a porta, fui recebida por um ambiente acolhedor e surpreendentemente bem aproveitado. A luz quente dos abajures criava um clima calmo, e o aroma de madeira misturado com algo floral no ar me deu uma sensação imediata de lar. À minha esquerda, um sofá cinza com almofadas amarelas vibrantes chamava atenção - simples, mas convidativo. A pequena mesa de centro, com frutas e flores frescas, parecia saída de uma revista.
Meus olhos subiram naturalmente pela escada de madeira até o mezanino. Lá em cima, uma cama bem arrumada e um espaço de trabalho junto à janela, onde a chuva batia suavemente, me fizeram imaginar noites tranquilas e produtivas. O pé-direito alto e a parede de vidro deixavam tudo mais amplo do que eu esperava.
Cada canto tinha um detalhe pensado. Era compacto, mas não apertado.
Era moderno, mas com alma. Senti que poderia morar ali.
- Parece que começou a chover- falou o Jonas.
- A vista ficou ainda mais linda- sussurrei.- por quê a casa parece que nunca esteve fechada?
- Esteve! Mas antes que te mudasses a Freira Laila pediu que tratasse de tudo- falou o velho.
- Não sabia disso.
- A sua tia ama muito você- falou o Jonas - Agora preciso ir, está ficando tarde e tenho que pegar os meus filhos.
- Eu também vou descer, se precisar de alguma coisa é só ligar, tem uma lista telefônica de todos os serviços do prédio que precisar, e o meu é o primeiro deles.
- Obrigada pela ajuda - agradeci.
- Disponha! Vais te sair bem menina Evans- falou o Jonas.
- A propósito eu me chamo Bernard - falou o porteiro antes de fechar a porta.
E assim que ela se fechou, um medo invadiu o meu peito. Tinha dinheiro suficiente e uma casa onde morar! Não me deixava mais a vontade.
Ainda não tinha comprado um celular, mas tinha um telefone fixo, liguei para o escritório da Madre superiora. Mas quem atendeu foi a minha tia.
- Elira! Chegou bem? - perguntou ela ao atender.
- Sim tia! A sua casa é linda - fiz uma pausa longa, sentindo uma dor em meu peito- porquê não me contou nada disso antes?
Essa casa é sua agora meu amor - falou- a geladeira está cheia, tens dinheiro suficiente em teu cartão, e não te esqueças da entrevista amanhã de manhã.
- Não vou me esquecer tia!
- Pronto! Agora vai descansar, amanhã depois da entrevista, compra um celular, entendido?
- Porquê a senhora me deixou vir se está preocupada assim.
- Me preocupa muito te deixar assim sozinha. Mas não é nada de outro mundo, agora vá descansar.
A chamada encerrou.
Subi as escadas onde vi o pequeno guarda-roupa. Desfiz as minhas malas e as guardei por baixo da cama.
Me deitei e ela é muito confortável, em pouco tempo adormeci.
Na manhã seguinte, os raios de Sol atravessaram pela janela de vidro, do alto eu vi a rua linda, já com pessoas e carros passando, o clima estava úmido e com cheiro de recomeço, tomei o meu banho e comi o meu pequeno almoço.
Os raios de Sol tinham sumido o céu ficou nublado.
Coloquei o vestido mais lindo do meu guarda-roupa, e umas sandálias rasas. Com os cabelos soltos agarrei a minha bolsa e fui pegar o elevador.
Na portaria, o senhor B estava a organizar alguma coisa.
- Bom dia senhor B - falei animada.
- Bom dia menina Elira- falou ele, retribuindo o sorriso.- Onde vai de manhã tão cedo?
- Tenho uma entrevista de emprego, é uma empresa grande, tenho medo de fazer asneiras.
- Vai correr tudo bem menina!
- Obrigada senhor B - falei e logo saí.
Peguei um táxi e dei o endereço. Em 13 minutos chegamos.
- O senhor tem certeza que é aqui? - olhei para o enorme edifício. - Sim senhorita, essa é uma das empresas mais importantes dessa cidade, e mais famosa também.- falou o motorista.
- Está bem. Muito obrigada.
Me aproximei com o queixo levemente erguido, incapaz de desviar o olhar daquela estrutura imponente. Era como se o prédio dançasse para o céu - torcendo-se com elegância, desafiando tudo o que eu conhecia sobre arquitetura. Os vidros refletiam o azul escuro de um céu nublado, enquanto a malha triangular que cobria a fachada parecia prender o próprio vento.
Senti-me pequena diante daquela espiral de engenharia e ousadia. Era mais que um prédio era uma declaração. Cada andar, visível através da curva exposta, parecia uma página de um livro moderno, contando a história de uma empresa que não tinha medo de subir diferente.
Ao me aproximar das portas de vidro, o reflexo me devolveu com olhos arregalados. Coração acelerado. Estava prestes a entrar não só em um edifício, mas em outro nível de ambição e inovação. A cidade ao redor parecia desacelerar. E eu, parada ali, sabia: nada mais seria igual depois de cruzar aquela entrada.
Ao cruzar as portas de vidro, fui imediatamente engolida por um silêncio elegante - o tipo que só espaços grandiosos conseguem oferecer. O pé-direito altíssimo parecia infinito, como se o teto flutuasse acima de mim.
Tudo era luz: suave, branca, refletida no mármore impecável sob meus pés.
O ar era fresco, perfumado com algo sutil, talvez lírios. O som dos saltos e passos se perdia no espaço amplo, enquanto a recepção à frente, com seu balcão escuro e flores vivas, parecia uma ilha em meio à sofisticação.
À direita, árvores altas se alinhavam como sentinelas dentro de vasos minimalistas. À esquerda, uma escultura fluida nas paredes dava movimento à rigidez elegante da arquitetura. Era moderno, limpo, impecável.
Eu me senti pequena, mas não fora de lugar - como se aquele espaço estivesse pronta para me receber, me desafiar... ou me transformar.
Eu podia sentir o meu pequeno coração acelerado, por alguns momentos esqueci-me de como era respirar, estava entusiasmada, mas com medo também.
Fui até a recepção, onde estavam dois homens conversando.
- Bom dia! Eu sou a Elira Evans, estou aqui para uma entrevista de emprego.
Um deles sorriu para mim e apontou para os elevadores.
- O RH fica no 2º andar! Por favor, me acompanhe.- ele saiu por de trás do balcão e me dirigiu até lá.
Ao chegar bati a porta e ouvi a voz de uma mulher.
- Pode entrar- falou.
Minhas mãos estavam suadas e tremendo, a minha vida toda foi dentro de um convento, escolas de madres e universidade cristã, não tenho muita experiência com o atual momento em que me encontro.
- Senhorita Evans? - perguntou a mulher logo que entrei.
- Sim! Sou eu- respondi, entregando-lhe o meu currículo. A mulher recebeu e começou a ler.- impressionante, estudou em uma universidade católica? E saiu com as melhores notas? Meus parabéns.
- Muito obrigada senhora... - Sandra, me chamo Sandra.
- Muito obrigada senhora Sandra.
Mas não tem nenhuma experiência de trabalho?
- Sim! Eu cresci em um convento, logo que terminei os estudos enviei o meu currículo para cá.
- Sentimo-nos lisongeado pela escolha. A senhora Collins precisa de uma nova assistente. Estaria disposta a começar por aqui?
- Sim senhora - respondi animada.
- Será apenas por 6 meses, depois disso, será transferida para sua área de formação.
- Sim senhora, eu agradeço a oportunidade.
- Pode começar amanhã, mas antes...- ela reparou em mim, debaixo pra cima- precisa mudar o seu vestuário.
- O que tem o meu vestuário? - Me reparei.- eu me olhei no espelho antes de sair de casa.
Ela sorriu antes de falar.
- A senhora Collins é muito rigorosa quanto a apresentação.
- Sem problemas, eu trato disso.
Depois de sair do seu escritório, entrei no elevador e me deparei com uma mulher linda de cabelos pretos. Usava um vestido justo vermelho, nos lábios um batom da mesma cor e o cabelo preso em um rabo de cavalo perfeito. Ela parecia a própria elegância andante.