Dois dos seguranças de João Pedro apareceram ao meu lado. Eles agarraram meus braços, seus apertos como torniquetes de ferro. Antes que eu pudesse resistir, um deles chutou a parte de trás dos meus joelhos, forçando-me a cair no chão de mármore duro. Uma dor aguda e cegante subiu pelas minhas canelas, mas mordi o lábio para não gritar.
Bruno emergiu das sombras. Em sua mão, ele segurava um chicote de couro longo e fino. Aquele que nosso pai costumava usar nos cães de caça. Ele moveu o pulso, e o chicote cortou o ar com um assobio vicioso.
Crack.
O som foi chocantemente alto na sala silenciosa. O chicote pousou nas minhas costas, o impacto roubando meu fôlego. A dor foi imediata e lancinante, uma linha de fogo que queimou através do tecido fino do meu vestido. Eu ofeguei, meu corpo arqueando para a frente.
"Você admite?", perguntou Daniel, sua voz um rosnado baixo de algum lugar acima de mim.
Lágrimas brotaram em meus olhos, mas minha voz estava firme. "Não."
Crack.
A segunda chibatada caiu sobre a primeira. Desta vez, não consegui impedir o pequeno grito que escapou dos meus lábios. Senti o gosto de sangue quando meus dentes perfuraram meu lábio inferior. Senti uma umidade quente se espalhando pelas minhas costas. A seda branca do meu vestido estava ficando vermelha.
"Você é uma desgraça", cuspiu Caio. "Helena está morrendo, e você faz isso com ela?"
Crack.
"Você é invejosa. Sempre foi invejosa."
Crack. Crack.
Os golpes choveram, cada um uma nova onda de agonia. Minhas costas pareciam estar sendo esfoladas. Minha mente começou a se desconectar do meu corpo, a dor se tornando um oceano distante e rugindo. Uma poça de vermelho estava crescendo no mármore branco sob mim.
"Por favor... parem...", a voz de Maria, engasgada com soluços, veio da porta. "Vocês vão matá-la!"
"Tire-a daqui", ordenou Daniel sem virar a cabeça. Um guarda a arrastou, seus apelos desaparecendo pelo corredor.
O açoitamento continuou. Não sei por quanto tempo. O tempo deixou de ter significado. Tudo o que existia era o assobio do couro, o impacto lancinante e as vozes frias e odiosas dos meus irmãos.
"Você não passa de uma imitação pálida."
"Uma substituta inútil."
"Ela estava certa em te chamar de ladra. Você roubou a vida dela."
Com a última chibatada, meu mundo ficou preto. A última coisa que vi foi a poça carmesim se espalhando no chão e o olhar frio e satisfeito nos olhos dos meus irmãos.
Eles me deixaram no meu quarto por três dias. Sem comida, sem água, sem atendimento médico. Apenas a agonia latejante e crua das minhas costas. Mas a dor física não era nada comparada aos sons que filtravam pela parede do quarto de Helena, ao lado.
Risadas. Tantas risadas.
"Ah, João Pedro, você está descascando tudo errado!", a risadinha encantada de Helena.
"Daniel, pode ler para mim? Minha cabeça dói."
"Bruno, estou com frio. Pode pegar minha manta de caxemira?"
"Caio, essa sopa está deliciosa! Você é o melhor irmão do mundo."
E o pior de tudo, a risada baixa e grave de João Pedro. Um som que costumava ser meu conforto, agora um tormento.
Cada risada, cada murmúrio de afeto, era mais uma volta da faca no meu coração já estilhaçado. Enterrei o rosto no travesseiro, minhas unhas cravando nas palmas das mãos até sangrarem, tentando bloquear os sons da vida que eu tão brevemente tive permissão para tomar emprestada. Pensei que estava entorpecida, que não tinha mais lágrimas para chorar, mas a cada respiração, uma nova onda de desespero me invadia.
Na quarta manhã, forcei-me a sair da cama. Minhas costas eram uma folha de fogo, cada movimento um exercício de agonia. Agarrando-me à parede para me apoiar, arrastei-me para fora do meu quarto e em direção à grande escadaria.
Ouvi suas vozes vindo do hall de entrada, animadas e excitadas.
"O grupo de golfinhos foi visto na costa novamente", dizia João Pedro. "Você sabe o quanto Helena quer vê-los."
"Deveríamos levá-la no iate", sugeriu Daniel imediatamente. "O ar do mar fará bem a ela."
"Excelente ideia", Bruno e Caio concordaram em coro.
Congelei no patamar, minha mão tremendo no corrimão. Eles iam para o mar. O mar, onde o ar salgado pareceria ácido nas feridas abertas das minhas costas.
"Beatriz!", a voz de Helena, brilhante e alegre, de repente chamou de baixo. Ela me viu. "Você finalmente saiu da cama! Estávamos ficando preocupados."
Os quatro homens olharam para cima. Suas expressões eram uma mistura de culpa e irritação. Eu devia estar horrível. Estava magra, o vestido que usava pendurado na minha estrutura esquelética. Havia hematomas escuros nos meus pulsos e rosto de onde os guardas me seguraram.
Helena não esperou por uma resposta. Ela subiu as escadas correndo, seu rosto um retrato de preocupação inocente, e passou o braço pelo meu. "Vamos, vamos todos ver os golfinhos! Vai ser tão divertido!"
Eu recuei e tentei puxar meu braço, mas seu aperto era como aço.
Seus olhos instantaneamente se encheram de lágrimas. "Beatriz", ela sussurrou, sua voz quebrando. "Eu sei que você está com raiva. Eu sei que você acha que estou tentando tirar tudo de você. Mas eu te perdoo pelo que você fez na festa. Minha reputação está arruinada, mas não importa. Não me resta muito tempo. Vamos apenas... ser irmãs de novo."
Foi uma performance magistral.
João Pedro subiu até o pé da escada, seu rosto uma nuvem de tempestade. "Beatriz, qual é o seu problema? Helena está te perdoando, e você ainda está agindo assim?"
"Ela é mais graciosa do que você jamais será", debochou Daniel.
Mordi o lábio, o gosto metálico de sangue enchendo minha boca. Olhei para seus rostos - a raiva de João Pedro, o desprezo de Daniel, a decepção de Bruno, a indiferença fria de Caio. Estes eram os homens a quem eu havia entregado meu coração. Eles pareciam estranhos.
Eles me forçaram a ir para o iate. Disseram que era para fazer Helena feliz.
O sol era ofuscante, o mar um azul brilhante e zombeteiro. Helena, cheia de energia para uma mulher moribunda, decidiu que queria um churrasco no convés. Meus irmãos, apesar de suas preocupações com sua "saúde frágil", não podiam negar nada a ela. Ela ameaçou pular do iate se eles não a deixassem fazer o que queria.
Sentei-me num canto, invisível novamente. Ninguém se lembrou que eu tinha uma alergia severa a frutos do mar. Ninguém se lembrou que minhas costas eram uma ferida aberta. O ar salgado já estava fazendo minha pele formigar de dor.
Então, por um momento, o olhar de João Pedro encontrou o meu. Ele pareceu me notar pela primeira vez no dia. "Beatriz", ele começou, um lampejo de algo - culpa? preocupação? - em seus olhos. "Você não deveria estar no sol. Suas costas..."
Eu simplesmente disse: "Sou alérgica a frutos do mar."
O ar ficou estranho. Ele parecia que ia se levantar, para me encontrar algo para comer, mas nesse momento, uma rajada súbita e violenta de vento soprou sobre a água. O iate balançou descontroladamente.
A pesada churrasqueira tombou. Carvões quentes e espetos em chamas se espalharam pelo convés.
Num único movimento unificado, João Pedro e meus três irmãos se jogaram na frente de Helena, criando um escudo humano para protegê-la das brasas voadoras.
Um único pedaço grande de carvão, brilhando em brasa, pousou na barra do meu longo vestido de verão. O tecido leve pegou fogo instantaneamente.
Dor, inimaginável e avassaladora, engoliu minhas pernas. Eu gritei, caindo no convés e rolando, tentando abafar o fogo.
Eu gritei e gritei.
Nenhum deles se virou.