Alguns dos meus amigos, aqueles que ainda tinham esperança por nós, correram até mim.
"Lau, o que está acontecendo?", Clara perguntou, seus olhos dardejando entre mim e o casal feliz do outro lado da sala. "Todo mundo está dizendo que vocês terminaram. De verdade desta vez?"
Consegui um sorriso pequeno e cansado. "Sim. De verdade desta vez."
As palavras pareciam sólidas, reais. Não como as ameaças trêmulas do passado.
Uma onda de choque percorreu meus amigos. "Mas... vocês são Leo-e-Laura", disse Manuela, como se fosse uma lei imutável da física. "Vocês deveriam ir para a USP juntos."
"Lembra no primeiro ano quando ele encheu todo o seu armário com gardênias porque você disse que gostava do cheiro?", Clara relembrou, com um olhar triste no rosto. "Ele me disse que gastou toda a sua mesada por um mês nelas."
"E a vez que ele recusou um encontro com aquela líder de torcida do terceiro ano porque disse que estava 'guardando todas as suas danças para a Lau'?", outra amiga acrescentou.
Cada memória era uma pequena e afiada pontada. Doía lembrar o garoto que ele costumava ser, o garoto que me amou tão ferozmente. O passado era uma memória linda e ensolarada, mas o presente era uma realidade fria e dura. Aquele garoto se foi.
"Ele era ótimo", reconheci, minha voz baixa, mas firme. "Mas as pessoas mudam." Acenei com a cabeça sutilmente em direção ao outro lado da sala. "E como vocês podem ver, ele está muito bem. Eles parecem felizes juntos."
Meu olhar encontrou o de Leo por cima da multidão. Ele estava me observando, uma expressão complicada em seu rosto. Quando ouviu minha declaração calma, sua mandíbula se contraiu. Ele parecia estar esperando lágrimas, uma cena, um ataque de ciúmes. Algo.
Em vez de desviar o olhar, ele deliberadamente puxou Sofia para mais perto, sua mão deslizando mais para baixo em suas costas, e sussurrou algo em seu ouvido que a fez rir e pressionar seu corpo contra o dele.
Era uma performance. Uma performance deliberada e cruel, projetada para me provocar. Ele estava esperando que eu quebrasse.
Mas eu já estava quebrada. Não havia mais nada para quebrar.
Eu simplesmente me virei para meus amigos, um sorriso plácido no rosto, e comecei a falar sobre os planos de verão, sobre Nova York, sobre qualquer coisa que não fosse ele.
Pelo canto do olho, vi seu sorriso vacilar. Um lampejo de incerteza, de pânico, cruzou seu rosto. Isso não fazia parte do roteiro. Eu deveria estar correndo atrás dele, implorando, lembrando-o do que ele estava perdendo. Minha indiferença era uma variável que ele não havia previsto.
Eu o vi dar um passo em minha direção, mas Sofia apertou seu aperto em seu braço, fazendo beicinho para ele. Ele hesitou, depois soltou um suspiro exasperado e ficou onde estava.
Mais tarde, alguém sugeriu um jogo de Verdade ou Desafio. A garrafa foi girada, e o ar da noite ficou denso com um novo tipo de tensão. Inevitavelmente, a garrafa parou em Sofia.
"Desafio!", ela gritou, seus olhos já encontrando Leo no círculo.
A garota que girava a garrafa, uma das novas amigas de Sofia, sorriu maliciosamente. "Eu te desafio a dar um beijo de verdade, apaixonado, no cara mais gato daqui."
Um "Uau" coletivo percorreu o grupo. Todos os olhos no círculo se voltaram para Leo. Ele era, sem dúvida, o 'cara mais gato daqui'.
O sorriso de Sofia se alargou. Ela olhou diretamente para mim, seus olhos brilhando com malícia. "Laura, você não se importa, não é? Quer dizer, é só um jogo."
Sua amiga interveio, sua voz pingando falsa simpatia. "Ela é a ex dele, Sofia. Ela não tem mais voz nisso."
A humilhação era uma coisa física, um rubor quente que subiu pelo meu pescoço. Eu podia sentir os olhos de todos em mim, esperando minha reação. Olhei para Leo. Seu olhar era intenso, queimando em mim. Ele estava esperando. Desafiando-me a objetar. Desafiando-me a mostrar que eu ainda me importava.
Este era o teste dele. Seu jogo de poder final e cruel. Ele acreditava que, mesmo agora, eu não suportaria vê-lo com outra garota. Ele pensou que uma palavra de protesto minha seria suficiente para reafirmar seu controle, para provar que eu ainda era dele para pegar quando ele decidisse que me queria de volta.
Levantei o queixo, minha expressão uma máscara de fria indiferença. "Por que eu me importaria?", eu disse, minha voz clara e firme. "Não tem nada a ver comigo."
A mudança em sua expressão foi instantânea. A confiança presunçosa desapareceu, substituída por um flash de fúria crua e sem filtro. Seu rosto ficou rígido, sua mandíbula tão cerrada que eu podia ver o músculo saltar. Minha indiferença não apenas o surpreendeu; ela o enfureceu. Foi uma rejeição que ele não conseguiu engolir.
Uma risada fria e sem humor escapou de seus lábios. "Vocês a ouviram", ele disse, sua voz perigosamente suave. Ele agarrou o rosto de Sofia com uma aspereza que pareceu surpreender até mesmo ela, e esmagou sua boca na dela.
Não foi um beijo de jogo. Foi um beijo profundo e punitivo, um espetáculo público de posse e raiva. Ele a estava beijando, mas estava tentando me machucar. O silêncio que caiu sobre o grupo foi pesado e sufocante.
Eu assisti, meu coração um peso de chumbo no peito. Senti os olhares de todos, senti sua pena, sua curiosidade mórbida. Era como assistir a um acidente de carro. Horrível, mas impossível de desviar o olhar.
Quando ele finalmente se afastou, Sofia estava sem fôlego, seus lábios inchados.
Sua amiga, aproveitando o momento, perguntou com um sorriso perverso: "E então, Leo? Como foi? Melhor do que você-sabe-quem?"
Leo não tirou os olhos de mim. Eles estavam escuros, cheios de uma crueldade fria e triunfante.
"Muito melhor", ele disse, sua voz alta o suficiente para todos ouvirem. "A Sofia beija muito melhor do que a Laura jamais beijou."