"Preciso de um pouco de ar", murmurei para meus amigos, minha voz mal um sussurro. Levantei-me com as pernas trêmulas e me afastei do círculo, indo em direção à quietude da casa.
Cheguei ao banheiro de hóspedes e me apoiei na bancada de mármore fria, meu reflexo um estranho pálido e de olhos fundos. Joguei água fria no rosto, tentando lavar a sensação de suas palavras, dos olhares de pena de todos. Eu disse a mim mesma para ser forte, que este era o fim, que a opinião dele não importava mais. Mas era mentira. Ainda doía. Doía como o inferno.
Decidi ir embora. Não havia sentido em ficar, nenhum sentido em me submeter a mais tortura. Eu sairia pela porta lateral, chamaria um Uber e iria para casa.
Enquanto eu caminhava pelo corredor silencioso em direção à saída lateral, ouvi vozes vindas da sala ao lado. A voz de Leo. Meus pés pararam por conta própria.
"Cara, isso foi pesado", ouvi Matheus, o melhor amigo de Leo, dizer. "Na frente de todo mundo? 'Beija muito melhor'? Você sabe que a Lau ouviu isso."
Pressionei-me contra a parede, meu coração batendo contra minhas costelas.
Leo soltou uma risada amarga. "Ela precisava ouvir. Ela está com essa palhaçada de 'terminamos' há meses. É só mais um dos draminhas dela, o jeito dela de tentar chamar minha atenção."
O ar em meus pulmões virou gelo. Ele achava que isso era um jogo.
"Não sei, cara", disse Matheus, parecendo hesitante. "Ela parecia diferente esta noite. Calma. Calma demais."
"É teatro", Leo zombou, sua voz pingando certeza condescendente. "Ela está ameaçando terminar para me fazer implorar, como sempre. Ela acha que pode me controlar. Bem, ela precisa aprender uma lição. Ela precisa entender que sou eu quem está no comando aqui."
Uma lição. Ele estava me ensinando uma lição. A humilhação pública, as palavras cruéis - tudo era um castigo calculado.
"Então, qual é o plano?", perguntou Matheus. "Você vai continuar ficando com a Sofia?"
"Por um tempo", disse Leo, sua voz baixando conspiratoriamente. "Deixa a Lau sofrer um pouco. Deixa ela ver o que está perdendo. Ela não consegue viver sem mim. Nós dois sabemos disso. Em uma semana, talvez duas, quando ela tiver chorado rios e perceber que não vou voltar, eu apareço. Digo as coisas certas, compro umas flores. Ela vai ficar tão aliviada que vai voltar correndo, e nunca mais vai ousar fazer essa palhaçada de novo."
Um calafrio profundo e na alma se espalhou pelo meu corpo. Era mais frio do que a água da piscina, mais frio do que suas palavras. Era o frio da desilusão absoluta.
Meu amor, minha dor, meu coração partido - para ele, tudo era apenas uma estratégia. Uma ferramenta de manipulação. Um padrão previsível que ele poderia explorar para seu próprio ego.
Não ouvi mais nada. Não precisei. Afastei-me da porta, meus movimentos silenciosos e fantasmagóricos. Saí pelo portão lateral para a noite quente de verão.
O ar estava denso com o cheiro de jasmim, mas tudo o que eu podia sentir era o frio cortante que parecia emanar dos meus próprios ossos. Eu andei, meus pés se movendo automaticamente, sem destino em mente.
Lembrei-me de quando ele me disse que me amava pela primeira vez. Tínhamos dezesseis anos, sentados no capô de sua caminhonete velha, assistindo ao pôr do sol. Ele me olhou com tanto espanto, como se eu segurasse o universo inteiro em meus olhos. "Nunca vou te deixar ir, Laurinha", ele sussurrou.
Ele tinha sido meu primeiro tudo. Meu primeiro amor, meu primeiro coração partido, meu primeiro vislumbre real do tipo de dor que parece que poderia te matar fisicamente. Eu me acostumei tanto com sua presença, com a atração gravitacional de sua órbita, que esqueci como existir por conta própria.
Quando isso mudou? Quando nosso amor azedou para essa obsessão tóxica e unilateral?
Sofia. Tudo começou com ela.
Por ela, ele quebrou todas as regras que já havia feito. Ele sempre foi ferozmente reservado, mas a deixou espalhar fotos deles por todas as redes sociais. Ele odiava gente grudenta, mas a deixava pendurada em seu braço como uma bolsa de grife. Ele sempre jurou que eu era a única garota que ele amaria, mas jogou esse amor fora por um brinquedo novo e brilhante.
E eu deixei. Eu lutei, chorei, ameacei ir embora, esperando a cada vez que minha dor fosse o catalisador para ele acordar e ver o que estava fazendo. Pensei que se eu me afastasse com força suficiente, ele finalmente me seguraria e nunca mais me deixaria ir.
Mas meus esforços não foram vistos como a luta desesperada de uma pessoa se afogando. Foram vistos como infantis, irritantes, previsíveis. Quando você não é mais a única, até sua dor se torna um erro.
Perdida em meus pensamentos, mal percebi que tinha andado todo o caminho para casa. Ao me aproximar da minha casa, vi a familiar van dos Correios se afastando do meio-fio. Um carteiro uniformizado estava subindo minha entrada de carro.
E parado bem na frente dele, de costas para mim, estava Leo.
Ele segurava um grande envelope branco e nítido na mão. O endereço do remetente era inconfundível: New York University. Era meu pacote de aceitação oficial.
Meu coração saltou para a garganta.