"Gavin", ele chamou.
De repente, um homem de cabelos grisalhos na casa dos cinquenta surgiu das sombras. Era Gavin Miller, o mordomo.
Andrew apontou para Cathryn e disse: "A partir de hoje, ela terá voz ativa nesta residência."
"Como quiser, senhor Brooks. Por aqui, senhora", respondeu Gavin, fazendo uma reverência discreta.
Ao ouvir isso, Cathryn sentiu um mal-estar repentino.
Ela não conseguia se livrar da sensação desconfortável de que estava usurpando o lugar de outra pessoa, como se o homem tivesse planejado se casar com outra mulher. Mesmo assim, era tarde demais para voltar atrás. Além disso, a morte da sua mãe exigia vingança.
"O quarto é do seu agrado, senhora?", indagou Gavin, abrindo a porta.
O quarto era extravagante, com as paredes enfeitadas por quadros que pareciam ter saído de um museu.
Ao ver tudo isso, um sorriso sincero surgiu nos lábios de Cathryn. "É difícil acreditar que não sejam originais. O senhor Brooks deve ter se esforçado muito para montar essa coleção".
Um sorriso sutil e irônico surgiu nos lábios de Gavin. A ideia de que Andrew, com sua fortuna incalculável, pudesse exibir falsificações era simplesmente ridícula.
Cada uma dessas pinturas era uma obra original, valendo o suficiente para comprar uma pequena ilha.
Ainda assim, ele permanecia em silêncio. Décadas de serviço leal o ensinaram que o silêncio e a discrição eram, às vezes, seu maior dever.
De repente, uma dúvida surgiu na mente de Cathryn. "Qual é o nome do senhor Brooks?"
"Não seria melhor perguntar diretamente a ele?", respondeu o mordomo com um sorriso comedido.
Ela arqueou as sobrancelhas, notando a discrição dele.
O mordomo anuiu e se retirou em silêncio do quarto.
Sozinha, seu olhar foi atraído para um notebook sobre a escrivaninha. Ela o ligou e começou a pesquisar sobre a família Brooks.
Os artigos relatavam que o patriarca, Jonny, tinha sido soldado antes de erguer um império empresarial. Ele teve dois filhos - o mais velho, Jorge, estava em estado vegetativo no Hospital de Olekgan após uma hemorragia cerebral anos antes. O mais novo, Jaycob, se rebelou contra o pai e foi banido do país, proibido de retornar.
Jorge também teve filhos. O mais velho, Andrew, fruto do primeiro casamento, era o atual CEO do Grupo Brooks.
Rumores diziam que um grave acidente de carro no exterior o havia desfigurado, deixando-o inválido.
O segundo, Nick, filho da segunda esposa, era apenas um adolescente que estudava fora.
Navegando por manchetes e rumores online, a complexa dinâmica da família Brooks se desenrolava diante dela, e cada novo detalhe revelava um cenário cada vez mais sombrio e complexo. Se Andrew realmente estava desfigurado e inválido, o homem com quem ela estava prestes a se casar não poderia ser ele. Nick, com apenas dezesseis anos, também estava fora de cogitação.
Restavam, então, apenas duas possibilidades lógicas - ou seu marido era um parente distante dos Brooks, ou um filho secreto de Jorge.
Cathryn se recostou na cadeira, satisfeita com a conclusão que teve. Ter um marido poderoso, capaz de abrir portas, mas discreto o suficiente para não atrair a atenção do mundo, lhe agradava bastante.
O dia exaustivo pareceu uma vida inteira comprimida em poucas horas. Ela mal tocou a cabeça no travesseiro, e o sono a venceu.
Ela sonhou com a mãe, que apareceu com o rosto manchado de sangue e os olhos abertos, incapaz de encontrar a paz.
Cathryn despertou com o rosto úmido contra o travesseiro. Ao pegar o celular, notou dezenas de chamadas perdidas, todas de Liam e Jordyn.
Logo em seguida, o celular tocou novamente.
Era Jordyn, gritando estridentemente no seu ouvido: "Cathryn, você não pode continuar adiando o divórcio! Liam não te ama. Ele é meu, de corpo e alma. Se apegar a esse título de 'senhora Watson' não vai te levar a lugar nenhum!"
A voz de Liam soou em seguida, ríspida e impaciente: "Cathryn, ouça bem - Jordyn e eu estamos em frente ao cartório. Venha aqui agora mesmo assinar os papéis do divórcio!"
Tudo que ela mais queria era se divorciar de Liam. Romper os laços com ele não só a libertaria, como também abriria caminho para seu casamento com um dos membros da família Brooks.
Ainda assim, ela não esperava vê-lo tão desesperado, correndo para os braços de Jordyn como se sua vida dependesse disso.
Nesse momento, uma batida firme ecoou na porta.
Ao abri-la, Cathryn deu de cara com Gavin, que trazia um vestido branco impecavelmente dobrado sobre o braço. "O senhor Brooks me pediu para lhe entregar este vestido, senhora."
Ela baixou o olhar para o tecido e o pegou. "Por favor, diga ao senhor Brooks que agradeço."
Como o vestido que ela usou no dia anterior estava manchado de sangue, não havia como usá-lo novamente.
Vindo de alguém na posição dele, esse cuidado com os detalhes era notável. Se eles conseguissem manter essa cordialidade distante durante todo o ano do contrato, talvez a convivência não fosse tão sufocante.
O vestido deslizou por sua pele, ajustando-se perfeitamente à sua silhueta, como se tivesse sido feito sob medida. Um giro rápido em frente ao espelho confirmou o caimento impecável.
Mas não havia tempo para se admirar no espelho.
Ela saiu apressada e pegou o primeiro táxi que encontrou.
Do lado de fora, Liam e Jordyn andavam de um lado para o outro, impacientes, temendo que Cathryn não aparecesse.
Assim que o táxi parou junto ao meio-fio, Cathryn desceu.
O vestido branco esvoaçava ao redor de suas pernas a cada passo.
Seu rosto estava levemente pálido, o que apenas tornava seu olhar mais intenso - olhos que pareciam atravessar uma pessoa por dentro.
Ao vê-la assim, Liam sentiu um impulso inesperado de protegê-la.
Pela primeira vez em três anos, ele a olhou de verdade.
Durante todo o casamento, seus olhos jamais se demoraram nela - Jordyn sempre monopolizou sua atenção e seus pensamentos.
Mas agora, diante dessa aparição, ele foi arrebatado pela beleza de Cathryn. Era uma beleza frágil, pura e vulnerável, algo que Jordyn, com toda a sua audácia, jamais teria.
O arrependimento o atingiu em cheio. Cathryn era sua esposa, então não havia mal algum em querer que ela fosse sua. Se ele não estivesse tão obcecado pela amante, a ponto de negligenciar a própria esposa, talvez esses três anos de casamento não consumado tivessem sido diferentes.
"Liam, eu já consegui falar com Kestrel", interrompeu Jordyn, percebendo o desvio no olhar dele.
Ela se agarrou ao braço dele, possessiva, como se quisesse marcar território.
A menção de Kestrel o tirou do seu devaneio, fazendo com que um sorriso frio e calculista surgisse nos seus lábios.
De repente, o encanto de Cathryn perdeu todo o brilho, ofuscado por seus cálculos pragmáticos. Conexões valiam mais que aparência. Somente Jordyn poderia dar à Tecnologia Watson o impulso de que tanto precisava. Se livrar de Cathryn para ficar com Jordyn era a jogada mais inteligente.