Obcecada pelo mafioso
img img Obcecada pelo mafioso img Capítulo 3 Entre sombras e promessas
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Capítulo 6 Ecos da traição img
Capítulo 7 Refúgio e silêncio img
Capítulo 8 Ecos da violência img
Capítulo 9 Entre o fogo e o silêncio img
Capítulo 10 Ecos do passado img
Capítulo 11 A sombra da verdade img
Capítulo 12 -Corações em Guerra img
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Capítulo 3 Entre sombras e promessas

O silêncio do apartamento tinha peso. Não era paz, era prisão.

Helena permanecia no centro da sala ampla, rodeada por janelas que exibiam a cidade acesa, como um mar de estrelas artificiais. Ainda assim, em vez de liberdade, sentia apenas o peso de grades invisíveis.

Lorenzo largou o casaco de terno sobre a poltrona, com a mesma naturalidade de quem está em sua própria casa - e, de fato, estava. Cada gesto dele era medido, felino, carregado de autoridade silenciosa. Não havia arrogância em seus movimentos, apenas a convicção de quem jamais foi questionado.

Helena acompanhava cada detalhe, os dedos inquietos contra a própria saia, tentando controlar a respiração. O coração batia tão rápido que parecia denunciá-la.

- Por que eu? - a pergunta escapou como um sussurro, mas sua voz tremia. - Por que me observar, quando existem tantas outras mulheres?

O olhar dele pousou sobre ela como uma lâmina afiada.

- Justamente por isso. Você não é como as outras.

Ele deu alguns passos, e a penumbra projetada pelas luzes baixas brincava em seus traços austeros, acentuando o perigo que exalava.

- Em você, Helena, eu vi algo raro. Uma chama que o mundo tentou apagar... mas não conseguiu.

Um arrepio atravessou o corpo dela. Os pés queriam recuar, mas estavam colados ao chão.

- Você não sabe nada sobre mim.

- Sei o suficiente. - A voz dele tinha o peso da verdade dita sem hesitação. - Sei da sua mãe, da doença que a consome. Sei que você se mata de trabalhar para sustentar as duas. Sei que a vida colocou fardos demais em seus ombros frágeis.

Ele se aproximou mais, a intensidade do olhar a prendendo.

- E sei que, apesar de tudo, você não quebrou.

O ar escapou dos pulmões dela em um tremor. Como podia aquele homem saber tanto? O medo se misturava a um incômodo mais profundo: a sensação de estar nua diante de alguém que enxergava além das aparências.

- Isso não te dá o direito de me arrastar para o seu mundo - rebateu, erguendo o queixo com esforço. - Eu não quero isso.

O canto da boca dele curvou em um quase-sorriso.

- Às vezes, querer é irrelevante.

Helena recuou, o coração descompassado.

- Você fala como se... como se minha vida fosse sua.

Lorenzo arqueou a sobrancelha, firme.

- E não é? Desde a primeira vez que coloquei os olhos em você, Helena, alguma coisa mudou.

O silêncio se estendeu, denso, pesado, carregado de coisas não ditas. Helena se viu dividida entre a indignação e uma atração que, por mais que tentasse, não conseguia sufocar.

Virou o rosto em direção às janelas.

- A vista é linda... mas não me deixa esquecer que estou presa.

Ele se aproximou até que seus perfumes se misturassem no ar.

- Não está presa. Está protegida.

Uma risada amarga escapou dela.

- Protegida? Parece uma gaiola dourada.

- Talvez seja. - Ele não recuou. - Mas prefiro que me odeie por te manter viva do que chorar por perder você para um mundo que não merece nem a sua respiração.

A confissão inesperada a desarmou. Havia dureza nas palavras, mas também um lampejo de algo que se escondia por trás da máscara implacável.

Antes que ela pudesse reagir, o celular dele vibrou sobre a mesa. Lorenzo atendeu de imediato.

- Fale. - Sua voz mudou de tom, fria como o corte de uma navalha.

Helena não entendeu a conversa, mas observou o maxilar dele se contrair.

- Resolva. - Ele desligou sem esperar resposta, respirando fundo antes de voltar o olhar a ela.

- Vai sair? - Helena arriscou, a voz vacilante.

- Não hoje. - Ele a observou como se tentasse decifrar um enigma. - Mas quero que entenda: no meu mundo, fraqueza não é perdoada. E agora você faz parte dele, queira ou não.

O coração dela apertou.

- Eu não pedi isso! - gritou, incapaz de conter. - Não pedi para você me seguir, nem para me salvar, muito menos para me manter aqui como sua prisioneira!

Por um instante, Lorenzo não respondeu. Apenas a fitou, até dar um passo para trás, como se domasse algo dentro de si.

- Está certa. Não pediu. - A voz veio mais baixa, quase um lamento. - Mas a vida não espera o nosso consentimento.

As lágrimas ardiam nos olhos dela. Helena virou o rosto, envergonhada por não conseguir conter.

Ele não tentou tocá-la. Caminhou até o bar de cristal, serviu uísque e ficou de costas, olhando o próprio reflexo no vidro.

- Você não entende. - A voz soou densa, mas carregada de um peso quase humano. - Eu não escolhi esse caminho. E não existe saída.

Ela o olhou de soslaio, percebendo, pela primeira vez, uma fissura na couraça dele.

- Então por que me arrastar junto?

Ele se virou, os olhos mais escuros que nunca.

- Porque quero que sobreviva nele. E só pode fazer isso ao meu lado.

O coração dela disparou.

- E se eu disser não?

Lorenzo avançou devagar, cada passo ecoando no mármore. Parou diante dela e inclinou-se ligeiramente, sem tocá-la.

- Então vai descobrir que dizer "não" a mim... pode ser mais perigoso que qualquer inimigo lá fora.

As palavras pairaram no ar como uma sentença.

Helena respirava rápido, o peito arfando. Havia nele algo que a aterrorizava... e, ao mesmo tempo, a puxava como uma chama perigosa.

Fechou os olhos, tentando clareza, mas a única certeza era que seu destino já não lhe pertencia.

Lorenzo Vitale não era apenas um homem.

Ele era o prelúdio de uma tempestade da qual ela não poderia escapar.

            
            

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