Ela se revirava de um lado para o outro, o coração acelerado como se estivesse fugindo de algo que, na verdade, a cercava por todos os lados. Cada vez que fechava os olhos, lembrava-se do olhar de Lorenzo: escuro, fixo, ameaçador e, ao mesmo tempo, capaz de despertar nela algo que não sabia nomear.
Por fim, cansada de lutar contra os próprios pensamentos, levantou-se. Descalça, aproximou-se da janela e abriu uma fresta da cortina. O céu já se tingia de dourado, prenunciando o nascer do sol. A cidade parecia acordar aos poucos, indiferente ao fato de que a vida dela havia sido virada do avesso.
O encanto daquele momento que quase lhe devolvia paz foi quebrado por vozes abafadas vindas do andar inferior. Eram masculinas, firmes, mas havia algo de tenso no tom que fez seu estômago se contrair.
Curiosa - e assustada -, Helena abriu a porta devagar, como se temesse que até o clique da maçaneta pudesse denunciá-la. O corredor estava deserto. O elevador privativo não funcionava sem a autorização de Lorenzo, então desceu pela escada lateral, cada passo medido sobre o carpete.
Ao chegar ao térreo, espiou discretamente. E congelou.
Lorenzo estava diante de três homens. Todos vestiam ternos impecáveis, os rostos marcados por anos de poder, mas nenhum deles ousava encarar diretamente o homem à frente. Eram figuras que, em outro contexto, pareceriam perigosas. Ali, porém, diante de Lorenzo, pareciam apenas subordinados.
Ele falava em italiano, a voz grave e cortante, cada palavra soando como um veredito. Helena não compreendia totalmente, mas não era preciso entender a língua: o tom bastava.
O ar estava carregado, como se qualquer resposta errada pudesse custar caro.
- Non ci saranno più errori. - Lorenzo concluiu, e os olhos brilharam com uma ameaça silenciosa. - Ou vocês responderão a mim.
Os homens assentiram rapidamente. Um deles chegou a enxugar o suor da testa, nervoso.
Helena recuou instintivamente, mas o pequeno movimento foi suficiente para chamar a atenção de Lorenzo. Ele levantou os olhos, encontrando os dela no alto da escada. Por um instante, o tempo parou.
- Todos fora. - A ordem foi seca, irrefutável.
Os três homens saíram apressados, como se mal conseguissem respirar no mesmo espaço que ele. O silêncio voltou, preenchendo cada canto do ambiente.
Lorenzo começou a subir as escadas. Seu passo era firme, calculado, lembrando a aproximação de um predador. Helena tentou sustentar o olhar, mas a intensidade que ele carregava a fez estremecer.
- Eu disse para ficar no quarto. - Sua voz soou baixa, mas impregnada de autoridade.
Ela engoliu em seco.
- Eu ouvi vozes... - respondeu, tentando parecer firme, mas a voz vacilou. - Eu só queria saber quem eram aquelas pessoas.
Ele parou diante dela e, por alguns segundos, ficou em silêncio, como se medisse até onde deveria revelar.
- Homens que me devem lealdade. Às vezes, precisam ser lembrados disso.
Um arrepio correu pela espinha de Helena.
- Você... os ameaçou?
O canto da boca dele se ergueu em algo que não chegava a ser um sorriso.
- Ameaça é uma palavra fraca. Eu apenas estabeleço verdades.
Ela recuou, mas Lorenzo segurou levemente seu braço. Não havia força suficiente para machucá-la, apenas o bastante para impedir que ela se afastasse.
- Não me olhe como se eu fosse um monstro - disse, os olhos fixos nos dela. - Eu faço o que é necessário para manter de pé aquilo que construí.
- E eu? - a voz dela saiu embargada, quase um sussurro. - Onde eu entro nisso, Lorenzo?
Os olhos dele suavizaram por um instante, antes de voltarem a endurecer.
- Você ainda não percebeu? - murmurou, inclinando-se levemente para ela. - Estar perto de você me faz sentir algo que não posso controlar. Isso me torna vulnerável. E vulnerabilidade, no meu mundo, é uma sentença de morte.
O coração dela disparou.
- Então... por que não me deixa ir?
Ele soltou devagar o braço dela. O silêncio se estendeu, pesado, até que ele finalmente respondeu:
- Porque já é tarde demais.
As palavras atingiram Helena como um golpe invisível. Respirou fundo, tentando manter a calma, mas não sabia se tinha mais medo dele... ou do que começava a sentir por ele.
Antes que pudesse falar algo, a campainha soou. Um dos seguranças entrou, trazendo um envelope. Lorenzo rasgou o lacre com pressa, leu e, sem hesitar, rasgou o papel em dois. O olhar escureceu.
- Temos uma reunião. - Ele virou-se para Helena. - E você vai comigo.
Os olhos dela se arregalaram.
- O quê? Eu?
- Precisa ver quem eu sou com seus próprios olhos. - O tom dele não admitia discussão. - Só assim vai entender por que não pode mais voltar atrás.
O coração de Helena batia em disparada, tão alto que ela tinha certeza de que ele poderia ouvir. Parte dela queria gritar, recusar, correr para longe dali. Mas outra parte, talvez a mais perigosa, queria descobrir.
E, naquele instante, Helena compreendeu que estava prestes a atravessar uma linha invisível.
E do outro lado, não havia retorno.
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