Obcecada pelo mafioso
img img Obcecada pelo mafioso img Capítulo 5 Sob o mesmo perigo
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Capítulo 6 Ecos da traição img
Capítulo 7 Refúgio e silêncio img
Capítulo 8 Ecos da violência img
Capítulo 9 Entre o fogo e o silêncio img
Capítulo 10 Ecos do passado img
Capítulo 11 A sombra da verdade img
Capítulo 12 -Corações em Guerra img
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Capítulo 5 Sob o mesmo perigo

O rugido do motor da Ferrari dourada que cortava as ruas de Milão parecia ecoar dentro do peito de Helena. Cada curva, cada aceleração, cada olhar frio de Lorenzo pelo retrovisor a lembrava do abismo onde estava se metendo.

Ela se manteve em silêncio, observando a cidade despertar. As luzes iam se apagando aos poucos, enquanto o sol nascia por trás dos prédios. Havia algo de poético - e perigoso - em estar ali, ao lado de um homem que podia decidir o destino de dezenas de pessoas com uma única palavra.

Lorenzo não disse nada por um longo tempo. Os dedos dele seguravam o volante com firmeza, como se cada movimento fosse calculado. Mas Helena sabia: por trás daquele controle, havia raiva.

- A carta... - ela começou, a voz hesitante. - Era algo grave?

Ele desviou o olhar rapidamente para ela, e voltou para a estrada.

- Era um lembrete - respondeu, seco. - De que, nesse mundo, ninguém está seguro por muito tempo.

Helena se calou. Mas o que ele não disse pesou mais do que qualquer resposta.

Quando o carro finalmente parou, estavam diante de um prédio antigo, de fachada de mármore e portões de ferro retorcido. Dois homens armados abriram passagem assim que reconheceram Lorenzo.

Helena desceu do carro com cuidado, sentindo o chão frio sob os pés.

- Onde estamos? - perguntou.

- Num dos meus escritórios - respondeu ele, sem olhar para trás. - Hoje você vai entender o que significa poder.

O interior do prédio era silencioso, mas cada detalhe denunciava riqueza e autoridade: quadros de artistas renomados, mármore polido, o aroma leve de café recém-passado misturado ao de couro e tabaco.

Lorenzo atravessou o saguão até uma porta de vidro reforçado. Do outro lado, homens em trajes formais discutiam em voz baixa. Quando o viram entrar, o silêncio foi imediato.

- Senhor Vitale - um deles disse, levantando-se rapidamente. - Tivemos um problema com a remessa do porto.

Helena ficou parada próxima à porta, incerta se deveria entrar. Lorenzo, porém, fez um gesto breve com a mão.

- Fique - disse ele, sem olhá-la. - Vai aprender a diferença entre curiosidade e perigo.

Os homens começaram a explicar a situação: um carregamento interceptado, um traidor dentro da própria equipe, alguém vendendo informações para uma organização rival.

O nome do traidor ecoou pela sala - e o rosto de Lorenzo escureceu.

- Enrico - repetiu, quase num sussurro. - Eu o criei. E agora ele morde a mão que o alimentou.

Helena observava em silêncio, o coração acelerado. Havia algo assustador naquela calma que precedia o caos.

Lorenzo levantou-se lentamente.

- Tragam Enrico até mim - ordenou. - Hoje.

O modo como os outros homens se apressaram para cumprir o pedido deixou claro que desobedecê-lo não era uma opção.

Quando a sala esvaziou, ele ficou em silêncio por um momento, olhando para o chão, antes de se virar para Helena.

- Agora entende? - perguntou, a voz rouca. - É por isso que não posso me dar o luxo de confiar em ninguém.

- E por que eu? - Helena perguntou, sentindo o peso das próprias palavras. - Por que me colocar aqui, no meio disso tudo?

Ele se aproximou devagar, os olhos sombrios.

- Porque, de alguma forma que eu não entendo, você me acalma. - Sua voz perdeu a dureza por um instante. - E isso é perigoso pra mim... mas ainda mais pra você.

Helena sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha.

- Então me manda embora, Lorenzo. Antes que seja tarde.

Ele balançou a cabeça, quase com tristeza.

- Tarde já é, bambina.

O silêncio pairou entre eles, denso. Helena o observou de perto - o homem que todos temiam, o chefe de um império sombrio - e, pela primeira vez, percebeu algo humano por trás da frieza. Um cansaço antigo, uma culpa que ele jamais admitiria.

De repente, o som de passos apressados ecoou pelo corredor. Um dos seguranças entrou, ofegante.

- Senhor, localizamos o carro de Enrico. Ele não está sozinho.

Lorenzo trocou um olhar rápido com Helena, e por um instante ela viu o que nunca tinha visto antes: preocupação genuína.

- Mantenham o perímetro - ordenou ele. - Ninguém atira até eu chegar.

- Lorenzo, não vá - Helena pediu, instintivamente.

Ele parou diante dela, a poucos centímetros. O cheiro dele - um misto de couro e perfume amadeirado - a envolveu.

- Você vai ficar aqui, com Marco. - Ele apontou para o segurança à porta. - Se algo acontecer comigo, ele vai tirá-la daqui.

- Eu não quero ficar aqui - ela respondeu, a voz trêmula. - Não quero te ver se machucar.

Lorenzo segurou o rosto dela por um breve instante, o toque surpreendentemente suave para um homem tão duro.

- Eu não posso prometer nada, Helena. Mas quero que saiba... - Ele hesitou, os olhos fixos nos dela. - Você já é parte do que tento proteger.

Antes que ela pudesse responder, ele se afastou e desapareceu pelo corredor, deixando para trás o som pesado das portas se fechando.

Helena ficou parada, o coração batendo descompassado.

Lá fora, o mundo dele estava prestes a desmoronar.

E, no fundo, ela sabia - se Lorenzo caísse, parte dela cairia junto.

                         

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