Helena acompanhava cada detalhe, os dedos inquietos contra a própria saia, tentando controlar a respiração. O coração batia tão rápido que parecia denunciá-la.
- Por que eu? - a pergunta escapou como um sussurro, mas sua voz tremia. - Por que me observar, quando existem tantas outras mulheres?
O olhar dele pousou sobre ela como uma lâmina afiada.
- Justamente por isso. Você não é como as outras.
Ele deu alguns passos, e a penumbra projetada pelas luzes baixas brincava em seus traços austeros, acentuando o perigo que exalava.
- Em você, Helena, eu vi algo raro. Uma chama que o mundo tentou apagar... mas não conseguiu.
Um arrepio atravessou o corpo dela. Os pés queriam recuar, mas estavam colados ao chão.
- Você não sabe nada sobre mim.
- Sei o suficiente. - A voz dele tinha o peso da verdade dita sem hesitação. - Sei da sua mãe, da doença que a consome. Sei que você se mata de trabalhar para sustentar as duas. Sei que a vida colocou fardos demais em seus ombros frágeis.
Ele se aproximou mais, a intensidade do olhar a prendendo.
- E sei que, apesar de tudo, você não quebrou.
O ar escapou dos pulmões dela em um tremor. Como podia aquele homem saber tanto? O medo se misturava a um incômodo mais profundo: a sensação de estar nua diante de alguém que enxergava além das aparências.
- Isso não te dá o direito de me arrastar para o seu mundo - rebateu, erguendo o queixo com esforço. - Eu não quero isso.
O canto da boca dele curvou em um quase-sorriso.
- Às vezes, querer é irrelevante.
Helena recuou, o coração descompassado.
- Você fala como se... como se minha vida fosse sua.
Lorenzo arqueou a sobrancelha, firme.
- E não é? Desde a primeira vez que coloquei os olhos em você, Helena, alguma coisa mudou.
O silêncio se estendeu, denso, pesado, carregado de coisas não ditas. Helena se viu dividida entre a indignação e uma atração que, por mais que tentasse, não conseguia sufocar.
Virou o rosto em direção às janelas.
- A vista é linda... mas não me deixa esquecer que estou presa.
Ele se aproximou até que seus perfumes se misturassem no ar.
- Não está presa. Está protegida.
Uma risada amarga escapou dela.
- Protegida? Parece uma gaiola dourada.
- Talvez seja. - Ele não recuou. - Mas prefiro que me odeie por te manter viva do que chorar por perder você para um mundo que não merece nem a sua respiração.
A confissão inesperada a desarmou. Havia dureza nas palavras, mas também um lampejo de algo que se escondia por trás da máscara implacável.
Antes que ela pudesse reagir, o celular dele vibrou sobre a mesa. Lorenzo atendeu de imediato.
- Fale. - Sua voz mudou de tom, fria como o corte de uma navalha.
Helena não entendeu a conversa, mas observou o maxilar dele se contrair.
- Resolva. - Ele desligou sem esperar resposta, respirando fundo antes de voltar o olhar a ela.
- Vai sair? - Helena arriscou, a voz vacilante.
- Não hoje. - Ele a observou como se tentasse decifrar um enigma. - Mas quero que entenda: no meu mundo, fraqueza não é perdoada. E agora você faz parte dele, queira ou não.
O coração dela apertou.
- Eu não pedi isso! - gritou, incapaz de conter. - Não pedi para você me seguir, nem para me salvar, muito menos para me manter aqui como sua prisioneira!
Por um instante, Lorenzo não respondeu. Apenas a fitou, até dar um passo para trás, como se domasse algo dentro de si.
- Está certa. Não pediu. - A voz veio mais baixa, quase um lamento. - Mas a vida não espera o nosso consentimento.
As lágrimas ardiam nos olhos dela. Helena virou o rosto, envergonhada por não conseguir conter.
Ele não tentou tocá-la. Caminhou até o bar de cristal, serviu uísque e ficou de costas, olhando o próprio reflexo no vidro.
- Você não entende. - A voz soou densa, mas carregada de um peso quase humano. - Eu não escolhi esse caminho. E não existe saída.
Ela o olhou de soslaio, percebendo, pela primeira vez, uma fissura na couraça dele.
- Então por que me arrastar junto?
Ele se virou, os olhos mais escuros que nunca.
- Porque quero que sobreviva nele. E só pode fazer isso ao meu lado.
O coração dela disparou.
- E se eu disser não?
Lorenzo avançou devagar, cada passo ecoando no mármore. Parou diante dela e inclinou-se ligeiramente, sem tocá-la.
- Então vai descobrir que dizer "não" a mim... pode ser mais perigoso que qualquer inimigo lá fora.
As palavras pairaram no ar como uma sentença.
Helena respirava rápido, o peito arfando. Havia nele algo que a aterrorizava... e, ao mesmo tempo, a puxava como uma chama perigosa.
Fechou os olhos, tentando clareza, mas a única certeza era que seu destino já não lhe pertencia.
Lorenzo Vitale não era apenas um homem.
Ele era o prelúdio de uma tempestade da qual ela não poderia escapar.