Ensina-me
img img Ensina-me img Capítulo 5 Troféu
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Capítulo 8 Contrato ! img
Capítulo 9 Uma dança img
Capítulo 10 Boa garota img
Capítulo 11 A zona de conforto img
Capítulo 12 Almoço de noivado img
Capítulo 13 Desculpinha esfarrapada img
Capítulo 14 O que você quer img
Capítulo 15 Surpresinha img
Capítulo 16 Antecipando img
Capítulo 17 Top-model-atrevida-e-de-gosto-duvidoso img
Capítulo 18 Ele não quer img
Capítulo 19 Outro Lado img
Capítulo 20 Mariposa e Lamparina img
Capítulo 21 Vestido de noiva img
Capítulo 22 Chá e comprimido img
Capítulo 23 Atestado de insanidade img
Capítulo 24 Happy hour img
Capítulo 25 Decadente img
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Capítulo 5 Troféu

No fim da tarde, enquanto arrumava o que levaria, Paulina perguntou-se se tomou a decisão certa. Seu pai garantiu que sim; Mirela e seu marido, Fabrício, pareciam tranquilos com a possibilidade do filho ter alguém "ajuizada" por perto; até sua irmã, Paola, suspirou ao imaginar a convivência com Simon.

- Você arrumando a cama, de repente ele aparece só de toalha e...

Balançou a cabeça diante da lembrança das palavras ousadas, as bochechas ficando imediatamente quentes. Nunca imaginou que Paola, cinco anos mais nova, pudesse ter pensamentos tão... Nem conseguia descrever.

- Pronta, Lina?

- Sim, dona Mirela - respondeu, fechando a pequena mala.

Mirela olhou para o objeto diminuto e franziu a testa.

- Só isso?

- Sim... - gaguejou, constrangida.

Decidiu levar poucas roupas. Era possível que pedisse demissão naquele dia.

Sem dizer nada, Mirela a levou até o carro, onde Paulo aguardava para levá-las até o apartamento de Simon. Mesmo ficando cerca de uma hora da mansão, o caminho foi rápido - até demais, na opinião de Paulina.

- Pode se despedir do seu pai, Lina. É provável que só o veja nos fins de semana.

Paulina abraçou o pai, que se surpreendeu com a atitude. Desde o falecimento da esposa - até antes -, não demonstrava carinho por nenhuma das filhas e nem esperava tal atitude delas. O abraço apertado o preocupou, principalmente ao perceber que Paulina se segurava para não chorar. Pôde ler nos olhos dela que queria desistir, o que jamais permitiria. Apesar de não gostar da ideia de sua filha próxima do caçula dos Salvatore - devido à fama de sedutor -, confiava no discernimento e profissionalismo dela, fruto da educação exemplar e rígida que ele e a esposa transmitiram ao longo dos anos.

- Sei que honrará o sobrenome Perez. - Era tudo que precisava dizer para a filha não cometer qualquer desatino.

Paulina encarou Paulo em choque. Conseguia ler nas entrelinhas que, se não passasse o ano todo como governanta de Simon, seria para sempre sinônimo de fracassada para o pai. Sua decisão de aceitar a vaga não tinha volta; era o que estava escrito nos olhos dele.

- Não o desapontarei... - murmurou, insegura, afastando-se de cabeça baixa, a franja espessa cobrindo a fronte, evitando que o pai visse seus olhos marejados.

Como um robô, encaminhou-se para o lado de Mirela e a seguiu rumo ao apartamento de Simon. Mentalmente, repetiu como um mantra: "Papai, Paola, Fabrício e Mirela acreditam que conseguirei, então conseguirei".

~*~

Merecia o troféu de idiota do ano. Por que diabos confiou uma responsabilidade enorme e particular à sua mãe? Deveria ter pensado um milhão de vezes antes de abrir a boca e pedir a ajuda dela. Não! Deveria ter pensado um trilhão de vezes ou mais. Se soubesse quem seria a contratada, tinha escolhido uma das ninfomaníacas entrevistadas.

- Mãe, diga que estou enganado e tendo alucinação.

- Sobre o quê, querido? - quis saber Mirela, segurando a vontade de rir da expressão do filho.

- O que acha?

Com o olhar enviesado para a jovem de cabeça baixa no centro da sala, condenou-se por deixar Mirela contratar quem quisesse sem ver antes de quem se tratava.

- Deveria ter incluído que devia ser uma pessoa menos... Paulina - queixou-se, como se a jovem fosse um padrão a ser evitado.

- Qual o problema? Ela atende todas as suas exigências - retrucou Mirela, recordando em seguida o que o filho pediu: - Discreta, organizada, confiável, e garanto que não tentará te seduzir. Mais fácil o contrário... - insinuou, causando um forte rubor na face da Perez e um olhar enviesado do filho.

Simon concordava em parte com Mirela. A Perez tinha todas as qualidades que pontuou e certamente não tentaria seduzi-lo - tampouco ele a assediaria. Mas, levando em conta sua vida desregrada, não pôde deixar de anunciar o inevitável:

- Não dura uma semana.

- Querido, acredite, vai durar - respondeu Mirela, envolvendo os ombros da Perez com um braço. - Paulina é tudo que precisa.

- No momento, preciso de um whisky bem forte - resmungou, fitando a criatura corada que encarava tudo menos ele. - Tem um escondido com você, Perez?

- Nã-não... - ela respondeu, olhando para o chão.

- Imaginei - declarou, fitando as mãos pequenas, cujas dobras dos dedos se encontravam esbranquiçadas, apertando a alça da pequena mala. Sorriu de lado, disposto a colocar mais tensão na jovem. - Moças como ela não bebem, não fodem e não fazem nada do que considero normal.

- Simon Salvatore! Tenha modos! - repreendeu Mirela, sentindo o leve tremor da Perez. Sabia que o filho assustava Paulina para que desistisse do trabalho, mas não permitiria isso.

Paulina desejava fugir correndo. Era evidente que em nenhum momento Simon a aceitou como governanta. Não sabia por que, mas Mirela mentiu para convencê-la. O que fizera à matriarca Salvatore para merecer tamanho castigo?

- Se ela vai morar aqui, é melhor se acostumar com os meus modos. Não sou como o palerma do Muller, cheio de floreios.

- Dona Mirela, é melhor rasgar o contrato - Paulina praticamente implorou, os lábios doloridos de tanto apertá-los pelo esforço de conter a raiva e a imensa vontade de estapear o Salvatore. - É evidente que o senhor Simon prefere outra pessoa.

- Demorou a notar - retrucou Simon. - De preferência, alguém que, pelo menos, olhe na minha cara - disse, ultrajado. - De todas as empregadas da mansão, tinha que escolher justo ela?

- Paulina nunca foi empregada da mansão. É como se fosse uma filha - declarou Mirela, olhando para Paulina com um sorriso antes de se virar para o filho com a expressão fechada. - Qual o problema, Simon? Por que trata tão mal a Lina? Quando eram crianças...

- Não importa o que aconteceu ou deixou de acontecer na minha infância no que se refere à Perez. Não quero dividir o teto com ela - comunicou categórico.

- Durante um ano, assim será. Está tudo assinado e registrado, e, caso quebre o contrato, terá que pagar uma multa de quinhentos mil à Paulina. Aconselho que a respeite.

- O quê? - perguntaram ao mesmo tempo Simon e Paulina, encarando surpresos a Salvatore, que sorria satisfeita.

- Dona Mirela... Disse que, se eu desistisse, não haveria multa...

- Oh, querida, a multa não se aplica a você - interrompeu Mirela com um sorriso propositalmente doce. - A multa é uma garantia de que Simon não fará nada para que se demita durante esse ano. É lógico que, se você se demitir, é culpa dele, então Simon terá de pagar.

- Isso é sério? - Simon encarou Paulina com um olhar glacial, embora a Perez continuasse com os olhos fixos em Mirela. - Caso se demita, pago pelo luxo de me ver livre da santa sem altar?

- Exato - respondeu Mirela, ainda sorrindo.

- Isso é loucura.

- Encare da forma que preferir, filho. - Com ar displicente, olhou o relógio. - Está tarde, vou embora pra deixar vocês mais à vontade.

Sem esperar uma nova onda de reclamações do filho, Mirela saiu praticamente correndo do apartamento, deixando Paulina e Simon sozinhos, um clima tenso e silencioso no ar.

- Satisfeita, Perez?

- E-eu... Não imaginava... - Paulina balbuciou, olhando para as próprias mãos.

- O que não imaginava? - Simon se aproximou dela, que deu alguns passos para trás até sentir a parede às suas costas. - Que nunca escolheria você como minha governanta ou que receberá muito dinheiro em questão de dias? - Segurou o queixo da Perez e o ergueu, obrigando-a a olhá-lo de frente. - Se acha que mudarei meu modo de ser só porque você e minha mãe armaram pra cima de mim, está completamente enganada.

- Mirela também me enganou - defendeu-se, desejando que Simon largasse seu rosto, mas sem coragem de pedir ou se afastar. Aquela aproximação lhe dava medo. Simon era pelo menos vinte centímetros mais alto, mais forte e parecia muito zangado.

Ele riu. Imaginou que isso ocorrera. Só não conseguia compreender por que Mirela escolheu justo Paulina.

Fixou os olhos negros nos âmbar da Perez, que imediatamente desviou para outra direção. Normalmente, as mulheres o encararam com desejo, luxúria, curiosidade, mas Paulina sempre evitou olhá-lo, e ele odiava quando fazia isso.

- Por quê? - murmurou, deslizando a mão do queixo para a nuca da Perez.

- Eu não sei - ela respondeu, levantando o olhar para encará-lo e demonstrar a sinceridade em suas palavras. Porém, incomodada com a forma como era observada, desviou novamente, vacilando ao declarar: - Ju-juro que nã-não sabia da multa... só queria um tra-trabalho...

Por que continuava tão próximo, minando qualquer pensamento coerente que pudesse ter? Perguntou-se, sentindo a respiração de Simon se misturar à sua. A mão pousada em sua nuca fazia um arrepio esquisito subir por sua espinha. O cheiro agradável que se desprendia dele a envolvia de uma forma inconveniente, despertando aquele desejo insano de inspirar fundo.

Arregalou os olhos quando ele se inclinou em sua direção, os lábios se aproximando dos seus. Faltava pouco para se tocarem quando Simon moveu o rosto para o lado e disse em seu ouvido:

- Já que teremos de conviver, devo avisá-la que sigo certas regras em relação às mulheres que entram nesse apartamento.

            
            

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