O local era uma propriedade isolada em Campos do Jordão, um lugar de beleza natural deslumbrante. Tínhamos tirado nossas próprias fotos de noivado aqui. Elliot - o verdadeiro Elliot - e eu.
Lembrei-me daquele dia. O sol se filtrava pelas folhas de outono, lançando um brilho dourado. Ele me abraçara, sussurrara promessas em meu ouvido e me olhara com olhos que eu pensei estarem cheios de amor. Outra memória perfeita e fabricada.
Afastei o pensamento, focando minha lente no casal de pé perto do antigo carvalho.
"Oi, Claire! Que coincidência te ver aqui."
Eu me virei. Era Cássia, radiante em um vestido de noiva de grife. E ao lado dela, em um terno preto sob medida, estava Elliot.
Meu Elliot. O verdadeiro.
Seus olhos encontraram os meus e, por uma fração de segundo, se arregalaram. Um lampejo de algo - surpresa? culpa? - cruzou seu rosto antes de ser suavizado, substituído por sua habitual indiferença fria. Ele desviou o olhar, seu olhar pousando no horizonte como se eu não fosse nada mais do que uma nuvem passageira.
Cássia sorriu, mostrando o celular.
"Queremos que as fotos tenham esse tipo de vibe", disse ela, mostrando-me uma galeria de fotos. "Apenas use estas como referência."
As fotos eram deles. Em Paris, Roma, Tóquio. Rindo, beijando, envolvidos nos braços um do outro. Eram lindas, íntimas e cheias de uma alegria que ele só fingira sentir comigo.
Então eu vi. No canto de uma foto tirada em frente à Torre Eiffel, um pequeno carimbo de data digital.
Era o mesmo dia em que eu tirei nossas próprias fotos de casamento. Enquanto eu prometia minha vida ao irmão dele, ele estava em Paris com ela.
Minha garganta secou. Meus cílios tremeram, uma tentativa desesperada de conter a queimação.
"Vamos acabar logo com isso", disse Elliot, sua voz impaciente.
Respirei fundo e levantei minha câmera.
"Claro."
Um sorriso amargo tocou meus lábios. Não importava mais. Depois que eu desse entrada nos papéis do divórcio, depois que eu partisse para Londres, nada disso importaria. Eles seriam apenas fantasmas na história de outra pessoa.
A sessão terminou quando o crepúsculo pintou o céu em tons de roxo e laranja. Elliot foi buscar o carro, deixando-me sozinha com Cássia.
Ela se aproximou de mim enquanto eu guardava meu equipamento, seu sorriso afiado e triunfante.
"Sabe, Claire", ela começou, sua voz pingando falsa simpatia, "eu quase sinto pena de você."
Eu não olhei para ela.
"Não sei do que você está falando."
Ela riu, um som agudo e tilintante que me irritou. Ela tirou um cartão de crédito de platina de sua pequena bolsa e o estendeu para mim.
"Não se faça de boba. Elliot trocou de lugar com Kian por mim. Para que ele pudesse ficar comigo sem todo o drama de um divórcio bagunçado. Kian foi apenas... um dano colateral. E você foi o preço que ele teve que pagar para manter o irmão ocupado."
Cada palavra era um golpe calculado.
"Ele estava tão infeliz, tendo que fingir estar com você", ela continuou, sua voz se tornando venenosa. "Mas foi tudo pela minha felicidade. Isto", ela acenou com o cartão de crédito na minha cara, "é sua compensação. Por serviços prestados. Por fazer companhia a Kian."
Ela estava me pagando. Como uma prostituta.
"Nenhum deles nunca te amou, sabe", disse ela, sua voz baixando para um sussurro conspiratório. "Elliot te via como uma irmã. Kian só te via como um troféu a ser ganho de seu irmão. Agora, pegue o dinheiro e desapareça. É o mínimo que você pode fazer."
Minhas unhas cravaram em minhas palmas, a dor aguda uma âncora bem-vinda no vórtice giratório da minha raiva.
Finalmente olhei para ela, meus olhos frios.
"Você quer que eu desapareça? Tudo bem. Mas diga a Elliot - o verdadeiro Elliot - que eu quero que ele apareça no fórum pessoalmente. Quero me divorciar do homem com quem realmente me casei, não do substituto dele."
Virei as costas para o rosto chocado dela e fui embora.
No meio do caminho pela longa e sinuosa entrada, o céu se abriu. A chuva caía em lençóis frios e implacáveis. Protegi meu precioso equipamento de câmera com meu corpo e corri, meu vestido encharcado, meu cabelo colado no rosto.
Quando cheguei ao pé da colina, eu estava tremendo, gelada até os ossos.
Um sedã preto parou ao meu lado. Um homem que eu não reconheci saiu, segurando um guarda-chuva.
"Senhorita? Você parece que precisa de uma carona." Ele era gentil, seus olhos cheios de preocupação. Ele estendeu seu casaco.
Quando estendi a mão para pegá-lo, outra mão se estendeu, agarrando meu pulso.
Eu me virei. Era Kian. Seu rosto estava sombrio, seus olhos tempestuosos com uma emoção que eu não conseguia decifrar.
"Quem diabos é ele?", ele rosnou, sua voz um ronco baixo e furioso. Ele não estava mais interpretando Elliot. Este era o verdadeiro ele.
Eu entendi então. Ele não estava preocupado comigo. Ele estava com ciúmes.
Puxei meu pulso de seu aperto e ri, um som áspero e quebrado.
"Não importa quem ele é, Kian. Ele não é você. E ele não é seu irmão. Neste momento, isso é tudo que me importa."