Capítulo 6 O que temos para hoje

Sophie recobrou os sentidos, com o corpo inteiro tenso. De repente, a realidade a atingiu como um soco: ela estava casada agora.

Era isso que os casais faziam, não era?

As palavras travavam em sua garganta, enquanto ela torcia o lençol entre os dedos. "Eu... eu..."

Adrian percebeu a hesitação dela e a observou com um olhar quase divertido, o canto de seus lábios se erguendo em um leve sorriso.

"Não quer ter intimidade comigo?" Ele se aproximou devagar, com a máscara fria quase tocando a pele dela. "É por causa das cicatrizes?"

"Não é isso!", Sophie exclamou, a voz falhando antes que o silêncio voltasse a dominá-la.

No fundo, ela ainda acreditava que o amor devia vir primeiro e que se entregar a alguém era muito mais do que um simples ato. Todas aquelas histórias de contos de fadas que lera na infância - príncipes, almas gêmeas, finais felizes - haviam enchido sua cabeça de sonhos, mas a vida real era diferente e talvez os contos de fadas fossem, afinal, só para crianças.

David havia destruído sua confiança, e agora ela estava casada com um homem que escondia o rosto do mundo.

Engolindo em seco, Sophie reuniu coragem e se inclinou, envolvendo o pescoço de Adrian com os braços trêmulos.

Ele olhou para o rosto pálido dela, para os cílios que tremiam, e por um momento, seu olhar se tornou indecifrável.

Antes que Sophie pudesse se aproximar mais, Adrian pousou uma mão firme em seu ombro e a conteve com delicadeza.

"Eu não forço ninguém a fazer o que não quer. Vou dormir no sofá", disse ele, com a voz fria e controlada.

Sem dizer mais nada, a soltou e seguiu para a sala.

...

Quando o amanhecer despontou, Adrian já estava acordado, esfregando a testa, imerso em pensamentos.

Do outro lado do cômodo, Sophie arrumava a mesa do café em silêncio.

Quando ele enfim se levantou, ela fitou-o com incerteza ao ver que o sofá mal acomodaria alguém do tamanho dele, mas a preocupação desvaneceu logo que ela se lembrou de que fora ele próprio a escolher.

"Você acordou. Venha comer antes que esfrie", disse Sophie, apontando para o terno perfeitamente passado. "Cuidei das suas roupas."

Adrian agradeceu em voz baixa e afastou o cobertor, começando a se aprontar para o dia ali mesmo.

Sophie desviou o olhar depressa, se perguntando por que ele não trocava de roupa no banheiro.

Tentando quebrar o silêncio, ela comentou: "Só para avisar, não arrisquei lavar seu terno na máquina. Levei na lavanderia para lavar a seco."

Ela sabia muito bem que roupas de grife exigiam cuidados especiais.

Enquanto abotoava a camisa, Adrian hesitou por um instante, incomodado com a ideia de sua roupa sendo lavada junto com as de estranhos. Em sua casa, profissionais especializados cuidavam de cada detalhe com precisão.

Ainda assim, após uma breve pausa, ele continuou abotoando a camisa em silêncio.

"O que temos para hoje?", perguntou ele, com a voz ainda rouca depois de uma noite no sofá.

O aroma que vinha da cozinha lhe despertou o apetite.

"Massa!", respondeu Sophie, sorrindo e se virando com um prato nas mãos.

O sorriso durou pouco: o prato escorregou, caiu com um estrondo e a massa com o molho foram direto em cima de Adrian - que, sem que ela percebesse, já se aproximara em silêncio absoluto.

Por um instante, Sophie se perguntou se Adrian tinha asas. Como podia se mover tão silenciosamente?

"Ai, meu Deus, me desculpa!", exclamou ela, pegando um guardanapo e tentando limpar o molho que sujava o paletó dele.

Que falta de sorte! O terno estava impecável minutos atrás, e agora estava um desastre.

Passando um pano com cuidado no corpo do marido, Sophie notou pequenas gotas alaranjadas no pescoço e na máscara preta que ele nunca tirava - o molho o havia atingido em cheio no peito e no queixo, escorrendo-lhe pela face coberta.

"Se quiser, posso te ajudar a tirar a máscara para limpar direitinho", disse ela, em um tom cheio de culpa e preocupação.