Coração amaldiçoado
img img Coração amaldiçoado img Capítulo 3 É Meu Aniversário
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Capítulo 6 Fuga img
Capítulo 7 Me aceite ou morra img
Capítulo 8 Uma boa amiga img
Capítulo 9 Confronto indesejado img
Capítulo 10 Greve de fome img
Capítulo 11 O primeiro gesto img
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Capítulo 3 É Meu Aniversário

Eulália estava no seu quarto, concentrada em se arrumar para o festival. Ela vestia o vestido de sua mãe, um traje simples, porém encantador, com um corpete que apertava suavemente a sua cintura e realçava seus seios de forma discreta. O decote, elegante e sutil, deixava transparecer uma feminilidade delicada, sem ser ousado demais. O tom rosa claro do tecido contrastava lindamente com seus cabelos negros, que estavam semi presos e adornados com flores frescas. Seus sapatos, simples e confortáveis, completavam o conjunto, enquanto a saia esvoaçante acompanhava cada movimento com graça.

Enquanto ajustava os detalhes do vestido, Eulália passava os dedos pela renda bordada à mão, sentindo a textura familiar que sempre lhe lembrava da ternura de sua mãe. Na única joia que usava, o colar com pingente de lua presenteado por seu pai, repousava a memória e a proteção daquela figura tão querida.

De repente, ouviu uma voz suave do corredor:

"Eulália, você está pronta?"

Ela virou a cabeça e viu seu pai parado na porta, com os olhos brilhando de emoção. Ele segurava, com delicadeza, o retrato da sua mãe, Anabel, o único registro que ela tinha da mulher que tanto amava. O quadro, pintado pela própria Eulália seguindo as orientações do pai, exalava carinho e lembranças.

"Papai, estou quase pronta..." respondeu ela, ajeitando um fio solto de cabelo.

Seu pai aproximou-se e, com um sorriso emocionado, disse:

"Minha querida, hoje você está deslumbrante. Olhe só para você... você se parece tanto com sua mãe."

Eulália olhou para o retrato e, por um breve instante, seus olhos se encheram de saudade e ternura. Sem perder tempo, ela respondeu:

"Eu também sinto falta dela, papai. Mas é bom saber que ela vive em mim de alguma forma."

Seu pai, ainda sorrindo, colocou o retrato sobre a penteadeira e estendeu os braços:

"Venha, Lália. Vamos aproveitar este dia. Hoje é seu aniversário, finalmente está completando 18 anos e o festival vai ser maravilhoso! Quero que você se divirta e que, pelo menos, dê uma chance para alguém, entendeu?"

Ela hesitou por um instante, mas o carinho no olhar do pai a encorajou. Com um leve suspiro e um sorriso tímido, ela respondeu:

"Está bem, papai. Prometo que tentarei aproveitar."

O pai então lhe deu um beijo suave na testa e acrescentou:

"Isso mesmo, ao menos tente se divertir e se enturmar, tenho certeza que vai gostar!"

Com essas palavras, Eulália deixou o quarto, levando consigo a emoção e a lembrança da mãe. Ao atravessar o corredor, o ambiente familiar se misturava com o som distante das preparações para o festival. Ela sentia o coração bater rápido, não só pela ansiedade do evento, mas também pela expectativa de um novo capítulo em sua vida.

Logo na entrada da casa, conseguia ouvir os sons do festival, pessoas conversando, música, muito burburinho acompanhando o anoitecer. Era uma noite feliz para todos.

"Vamos, Lália, a festa já começou!" exclamou seu pai, segurando seu braço com carinho.

Caminhando juntos pelas ruas de Sunlake, os dois se dirigiram para o centro da vila. O caminho era repleto de decorações simples, mas cheias de encanto: lanternas penduradas nas janelas, guirlandas feitas com flores locais e fitas que dançavam ao vento. O aroma de pães e frutas, misturado com o cheiro do campo, deixava o ar leve e cheio de promessas.

Ao chegarem à praça central, Eulália avistou a festa já em pleno andamento. Havia mesas repletas de comida, barracas decoradas com cores vivas e uma banda que tocava canções alegres, embalando a celebração. Homens e mulheres, jovens e idosos, estavam bem arrumados, cada um contribuindo para aquele clima de festa e união.

No meio da multidão, duas vozes se destacaram. Sussi e Blair, as únicas amigas próximas de Eulália, correram para abraçá-la com entusiasmo.

"Feliz aniversário, Lália!" exclamaram em uníssono, os rostos iluminados de alegria.

Eulália riu, abraçou as duas com força e respondeu:

"Obrigada, meninas! Vocês sempre sabem como me fazer sorrir!"

As três olharam umas para as outras, admirando seus vestidos que, mesmo simples, eram lindíssimos. Sussi foi a primeira a falar, passando as mãos pelo corpete do vestido de Eulália:

"Você está perfeita! Tenho certeza que os nobres se vestem assim, Lália!"

Eulália corou e respondeu, brincando:

"Não exagera, vocês estão perfeitas também!"

Os moradores conversavam animadamente, trocando cumprimentos e histórias enquanto a banda aumentava o ritmo, convidando todos a dançar. O ambiente era vibrante e acolhedor, repleto de sorrisos e vozes que se misturavam num coro harmonioso.

Enquanto Eulália dançava com Sussi e Blair, logo uma figura jovem e simpática aproximou-se dela. Era Tom, irmão de Sussi, que estava de olho nela desde o começo da festa. Com um sorriso tímido e sincero, ele a chamou:

"Eulália, que tal dançarmos um pouco?"

Ela olhou para Tom, surpresa. Pensou em recusar, mas, de longe, viu seu pai os olhando esperançoso, então, para agradá-lo, respondeu:

"Claro, Tom. Vamos dançar!"

Enquanto se moviam ao som da música, os dois começaram a conversar de forma descontraída:

"Sabe, eu já te observei durante a festa e..." começou Tom, hesitante, tentando encontrar as palavras certas.

"Acho melhor... Er... Deixarmos a dança falar por nós agora!", interrompeu Eulália, com um sorriso suave, desviando-o com delicadeza.

"Queria dizer algo a você, é importante", insistiu ele, tentando retomar o fio da conversa.

"Se é tão importante, melhor falar depois, não?", Eulália continuou o interrompendo, sabia o que ela provavelmente iria dizer, mas não sabia se ser pedida em casamento por Tom seria uma ideia tão boa. .

De repente, antes que Tom continuasse, um uivo profundo e inconfundível ecoou vindo de dentro da floresta que circundava a vila. Foi um som tão alto e claro que fez os passos de todos pararem e a música se interromper.

Os sorrisos se desvaneceram e as conversas cessaram num misto de surpresa e temor. Eulália e Tom pararam de dançar, seus rostos se transformando em expressões de preocupação. Ao redor, os convidados se entreolhavam, e um murmúrio inquieto começou a se espalhar.

"O que foi aquilo?", perguntou uma voz nervosa entre os presentes.

"Não foi nada, só animais da floresta" um homem disse, tentando acalmar a todos.

Nunca haviam sido atacados por nada a floresta, ao mesmo tempo que parecia puro perigo, funcionava como uma redoma os isolando do mundo.

O pai de Eulália, que até então sorrira orgulhosamente, aproximou-se rapidamente para ouvir o que estava acontecendo. Seu olhar, antes de afetuoso, agora demonstrava seriedade.

"Fiquem calmos, todos. São apenas os lobos que habitam a floresta, eles nunca vieram aqui, não vão vir hoje", afirmou ele, mas sua voz traía uma leve tensão.

Enquanto o uivo ecoava novamente, mais alto desta vez, e a atmosfera festiva se transformava num cenário de suspense, Tom segurou a mão de Eulália e a olhou com intensidade:

"Fique comigo, Lália. Se algo acontecer, vou proteger você..."

Eulália, com os olhos grandes e o coração acelerado, apenas assentiu silenciosamente.

            
            

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