Coração amaldiçoado
img img Coração amaldiçoado img Capítulo 4 Finalmente a encontrei
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Capítulo 6 Fuga img
Capítulo 7 Me aceite ou morra img
Capítulo 8 Uma boa amiga img
Capítulo 9 Confronto indesejado img
Capítulo 10 Greve de fome img
Capítulo 11 O primeiro gesto img
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Capítulo 4 Finalmente a encontrei

A manhã chegou com o frio cortante na alcateia Lobos Sangrentos. Alaric acordou cedo, antes mesmo do sol se erguer por completo. Dormindo enroladas em seu corpo estavam Bella e uma outra mulher que ele sequer se lembrava o nome, sentia o calor do corpo delas no seu. Apesar do silencio em que o quarto estava mergulhado, o alfa podia ainda sentir o cheiro de sexo que estava por toda parte, o lembrando de tudo o que as duas mulheres fizeram para agradá-lo na noite anterior.

Alaric levantou-se com passos firmes e dirigiu-se até a janela do grande castelo da alcateia, puxando a cortina pesada, ele observou enquanto o céu começava a clarear. Dali, podia ver toda a alcateia como uma vila no meio da floresta, o castelo era o centro, construido sobre um pequeno monte ao redor dele, diversas casas, algumas mais elegantes e outras menores. Era um reduto escondido na mata no qual ninguém tinha coragem para ir.

Ele apoiou a mão no peito, o gesto repetido tantas vezes, e inspirou profundamente, não havia batimentos, mas como haveria?

"Minha maldição..." murmurou, com a voz baixa, mas carregada de amargura.

Sabia que faltava apenas um ano para que a maldição se concretizasse por completo e ele fosse condenado a viver sem um coração, sem sua companheira, solitário vagando pelo mundo até morrer.

Enquanto refletia sobre esse destino, fruto de ações que ele mesmo plantou, algo inesperado interrompeu seus pensamentos. Um aroma doce, misturado com o perfume de rosas e o cheiro suave de frutas maduras, invadiu seus sentidos. O cheiro era tão intenso que, num instante, fez seu corpo estremecer e o deixou com a sensação de que iria sufocar.

"Esse cheiro..." Alaric falou com voz tensa, quase inaudível, enquanto seus olhos se arregalavam.

Ele soube, naquele exato momento, que finalmente havia encontrado o sinal que tanto procurava.

A raiva surgiu instantaneamente quando ele virou, encarando as lobas que começavam a acordar, manhosas.

"Amor... Volta para a cama", Bella sussurrou, mordendo o lábio tentando soar sedutora. Seus cabelos longos e loiros estavam caídos pelos ombros, lhe dando uma aparência ainda mais irresistível.

Mas aquilo não afetou Alaric em nada, na verdade o deixou ainda mais irritado.

"Bella, saia agora! E você, vá embora também!"

As duas arregalaram os olhos e, rapidamente se levantaram, completamente nuas, correndo para fora. Quem ousaria desafiar uma ordem do alfa cruel? Alaric já havia matado outros por muito menos.

O alfa se sentou em sua cama, ainda sufocado pelo cheiro doce que não o deixava em paz um segundo sequer.

"Mika! Venha aqui, agora mesmo!"

Em instantes, Mika apareceu, sua postura firme e os olhos atentos demonstravam que estava pronto para obedecer a qualquer ordem. Era o beta de Alaric há muitos anos, não foi o primeiro, afinal, poucos lobos viviam tanto quanto seu alfa, mas tinha o privilegio, como ele mesmo gostava de dizer de ser o mais próximo. Com os anos, ele e Alaric se tornaram grandes amigos.

"Alfa, estou aqui. Diga o que precisa" respondeu Mika, com a voz controlada.

"Senti um cheiro doce de rosas e frutas. É o perfume dela, tenho certeza! Finalmente ela apareceu, a mulher que pode salvar o que resta do meu coração. Reúna os lobos e parta imediatamente."

Mika assentiu sem hesitar e, juntos, eles organizaram alguns dos melhores guerreiros da alcateia. Os lobos se reuniram, seus olhares determinados e focados, enquanto Alaric liderava o grupo com a autoridade inabalável de um alfa.

A jornada começou com o primeiro brilho do amanhecer, e à medida que os lobos avançavam pela trilha que os conduzia à floresta, o aroma se tornava cada vez mais intenso. Os sentidos aguçados de Alaric guiavam cada passo.

"Estamos no caminho certo!", o som da voz do alfa ecoou na mente de todos os lobos, que aceleraram ainda mais a corrida frenética.

A trilha se tornava cada vez mais densa, caçaram por todo o dia e a luz do dia dava lugar ao crepúsculo. O bando de lobos movia-se com agilidade e precisão, guiado pelo instinto e pelo desejo de cumprir a missão que seu alfa ordenou.

Finalmente, após horas de caminhada em meio à floresta, o cheiro os conduziu até os arredores de uma pequena vila. Lá, o som de risos e celebrações se misturava ao farfalhar das folhas. Era a vila próxima à floresta, onde, naquele exato momento, acontecia uma festa.

A noite já havia caído e a atmosfera festiva dominava a praça central. Lanternas penduradas nas casas, música e vozes animadas compunham um cenário de paz e alegria que contrastava fortemente com a ameaça que se aproximava.

Mika parou e olhou ao redor, avaliando a situação.

"Alfa, é apenas uma vila de humanos, tem certeza que é aqui?", o beta perguntou com cuidado para não irritar ainda mais o lobo negro ao seu lado.

Alaric assentiu, os olhos fixos no horizonte, onde as luzes da festa brilhavam timidamente.

"SE ALINHEM! VAMOS INVADIR!", sua voz ecoou na mente dos lobos como um rugido e seu uivo foi ouvido por toda a mata como um sinal para que eles avançassem.

Sem misericordia, sem recuar, aquele era o lema deles, o lema de seu alfa.

Num instante, os membros da alcateia se posicionaram, formando um círculo impenetrável ao redor da vila, invadindo e prendendo todos na praça. O som da festa foi subitamente interrompido por gritos e passos apressados, os aldeões, que há poucos minutos celebravam, agora se encontravam cercados e sem saída.

No meio do tumulto, Eulália observava, atônita, a confusão que se instalava. De repente, seus olhos se fixaram em algo que a fez estremecer: um grande lobo negro caminhava em sua direção, farejando o ar com determinação.

Os outros lobos reprimiram qualquer movimento dos moradores com rosnados e ameaças de ataque, fazendo o grupo encolher-se no meio da praça, como presas em exibição.

"O que está acontecendo?" exclamou uma Sussi, chorosa, mas seus gritos se perderam na agitação crescente.

Tom posicionou-se imediatamente na frente de Eulália, tentando protegê-la.

"Fique atrás de mim, Eulália!", ordenou Tom, a voz firme, mas carregada de medo.

Queria ser corajoso para ela e mostrar que podia defendê-la, custe o que custar.

O grande lobo negro continuava sua aproximação, seus passos lentos e calculados. Os olhos vermelhos do animal brilhavam sob a luz trêmula das tochas e, a cada passo, o ar parecia ficar mais pesado. Era maior do que qualquer lobo comum maior do que uma pessoa, na verdade, monstruoso e aterrorizante.

O lobo parou a poucos metros de Eulália e, por um instante, o tempo pareceu congelar. Então, lentamente, algo inacreditável começou a acontecer: o lobo começou a assumir uma forma diferente. Suas patas se alongaram, sua postura mudou, e o corpo de um homem surgiu gradualmente da silhueta animal.

Tom, com os olhos arregalados, tentou reagir, mas não teve tempo. O homem, com um olhar frio e cruel, tomou forma completa diante de Eulália, completamente nu. Mas isso não o incomodava, na verdade mostrar sua forma forte e grande era algo que acariciava o orgulho de Alaric.

Não havia ninguém melhor ou mais forte que ele naquela vila.

Sem demonstrar hesitação, ele empurrou Tom com força, fazendo-o cair pesadamente no chão. Tom gemia enquanto tentava se levantar, mas o homem não lhe deu chance.

Com a voz ríspida e sem espaço para discussões, ele se dirigiu a Eulália:

"Você precisa vir comigo, agora!"

Eulália, tremendo, tentou recuar, mas não havia para onde correr, afinal, um simples passo que deu para trás, fez os lobos rosnarem para todos.

"Eu... Eu não vou com você! Nem sei quem você é!", gaguejou ela, com o rosto empalidecido pelo pânico.

O homem, com o olhar fixo e a expressão dura, insistiu:

"Eu nunca disse que você precisava aceitar ou não", a voz dele era fria, sem qualquer vestígio de compaixão ou dúvida. "Você virá comigo!"

Enquanto Eulália tentava se afastar, Alaric tomou a dianteira, dominando o espaço com sua presença ameaçadora.

Os lobos se aproximaram, lentamente encurralando os aldeões num espaço menor, rosnando e ameaçando atacar. Eulália viu tudo aquilo com o coração apertado e olhou novamente para o homem a sua frente, que sorria com crueldade.

"Pode vir comigo por bem, ou pode vir depois que eu matar cada alma viva neste lugar... De um jeito ou de outro, você virá!"

Tom, tentando se levantar, balbuciou, tentando mostrar coragem, mas falando como um ratinho assustado:

"Você não pode fazer isso! Ela é minha noiva!", aquela era uma mentira que ele queria que fosse real, afinal, era o que Tom desejava falar com Eulália naquela noite, pedi-la em casamento.

Alaric olhou para o jovem caido como quem olha para um verme em sua bota, os lábios erguendo-se em puro nojo e desdém. Aquela coisinha ousava acreditar que sua companheira o pertencia? Sempre achou humanos idiotas, mas aquele em especial o divertiu.

"E quem me impedirá? Você? Quebro você ao meio se tentar humano!"

Eulália sentiu o coração disparar. Os rostos dos aldeões se transformaram em expressões de desespero e medo, enquanto a sensação de impotência a dominava.

"Por favor, não machuque ninguém!", implorou ela, a voz fraca, mas cheia de um terror genuíno que fazia ecoar por toda a praça.

Alaric a olhou com um pequeno sorriso de escárnio, inclinando o corpo para baixo para ficar bem próximo a ela, segurando o queixo de sua companheira com certa força:

"A decisão é sua, só os machucaria se resistir."

A ordem era clara e Eulália sabia que ele cumpriria sua ameaça caso ela tentasse revidar. Seu coração estava apertado e a jovem viu seu pai, encurralado por um lobo, a olhando com desespero. Não queria perder sua menina.

Enquanto a confusão dominava a praça e os aldeões buscavam desesperadamente uma rota de fuga, a figura de Alaric se destacava com autoridade. Sua voz, fria e intransigente, soava como o toque final de um destino implacável.

Eulália, com os olhos marejados de lágrimas e medo, ela disse:

"Pelo bem de todos, irei com você!"

            
            

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