Ponto de Vista: Sofia
Passei as duas semanas seguintes no hospital. Dante nunca veio.
Nenhuma vez.
Ele mandou flores. Lírios, brancos e fúnebres, que enchiam o quarto com um cheiro enjoativo que eu não suportava. Ele mandou presentes através de um associado - cobertores de caxemira, chocolates caros, livros que eu nunca leria. Eu doei cada um deles.
Eram gestos de dever, não de afeto. Pagamentos de uma dívida inconveniente.
Eu não precisava dos presentes dele. Eu tinha meu celular.
O Instagram da Isabella era uma obra-prima curada da devoção do meu marido. Uma foto de suas mãos entrelaçadas em uma praia ensolarada, o polegar dele acariciando os nós dos dedos dela. Um vídeo dele cozinhando para ela em uma casa de praia rústica - aquela que ele uma vez me prometeu. Uma selfie deles enrolados em um cobertor perto de uma fogueira, a legenda dela uma ode enjoativamente doce ao "amor verdadeiro" e "curando com minha alma gêmea".
Eu não senti nada. A dor tinha sido tão aguda, por tanto tempo, que finalmente esculpiu um pedaço de mim, deixando um vazio limpo e entorpecido. Eu olhava para as imagens do homem com quem me casei mimando outra mulher, e era como assistir a um filme sobre estranhos.
Quando recebi alta, voltei para o silêncio ecoante da mansão. Eu estava sentada no terraço, uma brisa fresca no rosto, quando ouvi vozes do jardim abaixo. Marco, o Capo mais confiável de Dante, e outro de seus homens.
"Ele levou o ex-marido dela à falência", disse o homem, sua voz um murmúrio baixo. "Usou os advogados da Família para uma vingança pessoal. O Don não está nada feliz."
Marco suspirou, um som pesado e cansado. "Ele sempre foi obcecado. Desde que eram crianças."
"Eu sei, mas ontem à noite foi diferente", contrapôs o homem. Eu me inclinei para frente, prendendo a respiração. "Ele estava bêbado, fora de si. Ficava chamando um nome. Não era o da Isabella."
Meu coração deu um salto tolo e doloroso.
"Ele estava chamando por Sofia."
Eu o encontrei desmaiado no sofá de seu escritório, o quarto fedendo a uísque caro. Garrafas vazias espalhadas pelo chão como soldados caídos. Sua gravata estava frouxa, seu cabelo uma bagunça. Ele parecia... quebrado.
Uma parte traiçoeira de mim, uma parte que eu pensei estar morta há muito tempo, quis cobri-lo com um cobertor.
Ele murmurou algo durante o sono, a testa franzida de dor. Eu me aproximei, me esforçando para ouvir.
"Isabella", ele sussurrou, o nome um fantasma em seus lábios. "Me desculpe... desculpe por cinco anos perdidos."
As palavras do homem tinham sido uma mentira. Ou um engano. Não importava.
"Ela é a esposa perfeita", a voz do homem ecoou em minha memória. "A Regina perfeita. Por que ele não consegue ver o que está bem na frente dele?"
Dante se mexeu, seus lábios se movendo novamente, um julgamento final e arrastado das profundezas de seu subconsciente.
"Ela não é a pessoa certa."
As palavras não pareceram uma facada. Pareceram uma chave girando em uma fechadura. Eu não tinha sido apenas uma esposa; eu tinha sido um tapa-buraco. Eu tinha desperdiçado três anos da minha vida tentando ganhar o coração de um homem que me via como nada mais.
Uma onda de alívio profundo me invadiu, tão pura e absoluta que me deixou tonta. A verdade cruel e inegável finalmente, completamente, me libertou.