Capítulo 3 Salvando o pai

Nesse momento, uma crise de tosse surgiu.

Jordy, que Daniela havia chamado de pai moribundo, se apoiou no batente de uma porta e arrastou os pés para fora, se esforçando para não cair.

"Você é Nadine?", ele perguntou com a voz trêmula, mas seus olhos brilhavam com uma frágil esperança ao olhar para a garota.

Um calor estranho surgiu no peito de Nadine, a deixando comovida de uma forma que ela não conseguia explicar.

Será que todas aquelas histórias sobre laços familiares eram verdadeiras?

"Sou eu", ela respondeu, em um tom firme.

Ao ouvi-la, a compostura de Jordy se desfez, e as lágrimas escorreram por seu rosto. "Você voltou para casa. Isso era tudo o que eu sempre queria. Só de te ter aqui já é o suficiente."

Enquanto isso, Stacey surgiu silenciosamente em meio ao alvoroço, carregando uma caixa de madeira antiga nos braços. "Naddie, venha ver... tudo o que está aqui é para você."

Quando Nadine olhou dentro da caixa, encontrou um tesouro de recordações - um vestido rosa desbotado digno de uma pequena princesa, suéteres que foram tricotados com carinho e vários grampos de cabelo ainda embrulhados e intactos.

Em um tom suave e com os olhos vermelhos, Jacob parou ao lado dela e explicou: "Nadine, guardamos esses presentes para cada aniversário que você perdeu depois que se foi. Mamãe, papai e todos nós os guardamos para você todos os anos. Finalmente, podemos te entregar."

Trêmula, Nadine estendeu a mão para o vestido de princesa, passando os dedos pelo tecido áspero.

A textura do tecido lhe trouxe uma emoção tão profunda que ela quase se esqueceu de como respirar.

Todo esse tempo, ela não foi esquecida. Eles sempre estavam esperando que ela voltasse para casa!

"Nadine... Nadine, minha filhinha." Jordy apertou o peito com a mão quando uma tosse violenta o dominou, fazendo o sangue escorrer por seus lábios e manchar o chão.

Mesmo com a dor distorcendo suas feições, um sorriso estampou seu rosto. "Você voltou para mim, Nadine. Isso era tudo o que eu precisava. Agora posso ir em paz."

"Pai!", Jacob gritou, avançando para segurar o pai no momento em que ele cambaleou, com o pânico tomando conta de sua voz. "Não desista! Fique conosco, pai! Vou pedir ajuda! Brad e Kaden nem chegaram em casa ainda. Precisamos de você!"

Seguindo seu instinto, Nadine se abaixou e passou os dedos no sangue no chão.

Depois, ela ergueu a mão e a aproximou do nariz para cheirá-lo rapidamente.

"Toxina do Sono Profundo", ela pensou.

Poucas pessoas no mundo reconheceriam a toxina, e ela era uma delas. Jordy havia chegado ao fim, pois a toxina era letal e paciente, quase impossível de curar quando se instalava.

Alguém havia esperado anos por esse momento. Mas quem odiava tanto a família Clark assim?

No entanto, esse não era o momento de procurar respostas.

Com os olhos endurecidos pela determinação, Nadine deitou Jordy de barriga para cima e, sem hesitar, pegou um bisturi de um bolso escondido em sua cintura.

Desesperado, Jacob tentou intervir: "Nadine! Você enlouqueceu de vez? O que está fazendo?"

Balançando a cabeça, ela respondeu: "Se você quer que ele viva, confie em mim. Não vou deixar que ele morra aqui."

De jeito nenhum ela perderia a família que acabara de reencontrar!

Nadine se ajoelhou e cortou a camisa de Jordy em um único movimento ágil.

Seu bisturi dançava com precisão, sem se aproximar de nenhum órgão vital, abrindo a pele e os músculos até revelar o coração que lutava para continuar batendo.

Com mãos ágeis e experientes, ela pressionou a ponta do bisturi em uma série de pontos precisos ao redor do coração do homem.

Imediatamente, um sangue espesso e escuro começou a brotar e escorrer lentamente.

Cada gota que saía do corpo dele parecia deixar sua respiração um pouco mais tranquila, e a tensão em seu peito foi se dissipando aos poucos.

Após limpar a lâmina, ela ergueu o pai no colo e o levou até o quarto mais arrumado que encontrou, se movendo tão rapidamente que todo o resgate durou menos de um minuto.

Por um instante, Jacob ficou parado, de boca aberta, sem conseguir processar o que acabara de ver.

Será que isso estava acontecendo mesmo? Nadine acabara de salvar o pai da beira da morte?

Os especialistas de toda a cidade Sheftol haviam dito que não havia mais esperança. No entanto, lá estava ela, antes desaparecida há duas décadas, salvando a vida dele como se não fosse nada mais do que um procedimento comum.

Como isso era possível?

"Como você... Nadine, você... é incrível!", Jacob gaguejou, sua voz trêmula de espanto.

Assim que Jordy foi acomodado e estabilizado, Nadine se virou, com o cansaço estampado em seu rosto. "Jacob, preciso de um lugar para me deitar. Estou exausta."

Jacob saiu de seu torpor e respondeu: "Claro! Agora mesmo!"

Então, ele a levou pelo corredor e abriu a porta de um quarto iluminado e bem cuidado. "Este sempre era seu quarto, Nadine. Fizemos questão de mantê-lo sempre limpo todos os dias. Agora, descanse. Preciso ligar para Brad e Kaden. Eles vão ficar muito felizes em saber disso!"

Stacey permanecia parada na porta, com os olhos cheios de emoção.

Nadine sorriu e acenou para ela: "Mãe, venha. Vamos dividir a cama."

...

Enquanto isso, em um canto sombrio de um clube de luxo em Sheftol, Rhys Bailey estava sentado em silêncio, com um olhar frio e distante.

Uma mulher vestida para chamar a atenção se aproximou, a voz cheia de ousadia: "Senhor Bailey, você parece um pouco perdido aí sozinho. Quer uma companhia e uma bebida?"

Rhys lhe lançou um olhar severo e disparou: "Vá incomodar outra pessoa."

Do outro lado da mesa, seu amigo, Nicholas Howard, soltou uma risada baixa e disse: "Rhys, você deveria aprender um pouco sobre como ser charmoso. Está tão dedicado à sua noiva misteriosa, Nadine Clark? Você nem a conhece, cara."

Só de ouvir o nome dela, Rhys ficou tenso, e a irritação se estampou em seu rosto. "Esse noivado termina amanhã. Estou farto disso."

Nicholas arqueou uma sobrancelha, com um sorriso brincalhão. "Vai desistir, é?! Acha que seu velho vai simplesmente sorrir e te deixar ir embora?"

"Vou escolher meu próprio caminho quando se trata de casamento", Rhys disse com a voz fria, se recostando no sofá. Sua mão foi até a cicatriz em seu peito, perdido em lembranças.

Três anos atrás, tudo havia dado errado na fronteira de Urygan. Cercado pelos inimigos e sangrando por causa dos ferimentos de bala, ele tinha certeza de que não veria outro amanhecer.

Em meio à dor, ele se lembrou das mãos firmes de uma mulher e um bisturi brilhando na luz fraca, o salvando da morte.

Ele lutou para se concentrar, conseguindo apenas vislumbrar o rosto dela antes que a escuridão o tomasse.

Quando ele acordou, ela havia desaparecido como se nunca tivesse existido.

Desde então, Rhys mobilizou todos os recursos que os Bailey possuíam, procurando em cada canto de Urygan, mas a mulher que salvou sua vida e conquistou seu coração permanecia um mistério.

Independente do acordo que sua família fez com a família Clark, ele sabia o que queria - sua esposa só poderia ser a mulher que o salvou da morte!