Eles me forçaram a usar um vestido com as costas altas para esconder as bandagens.
Pegamos o comboio. Três SUVs pretas.
Dante e Isabela estavam no carro da frente. Meus pais estavam no segundo. Fui relegada ao terceiro, flanqueada por dois guarda-costas que me olhavam como se eu fosse contagiosa.
O comboio abriu caminho em direção a uma churrascaria no centro.
Olhei pela janela. A cidade passava em faixas de cinza e neon.
Fechei os olhos e me permiti um luxo perigoso: esperança.
No sonho, o carro parou. Dante abriu minha porta. Ele viu o sangue vazando pelo meu vestido. Ele me pegou no colo. Ele se desculpou. Ele disse que sabia.
*BOOM.*
O mundo se desintegrou.
Metal gritou. Vidro explodiu para dentro como estilhaços.
Minha cabeça bateu contra a janela.
Nosso SUV girou fora de controle, batendo na mureta central com uma força que abalou os ossos.
Fui jogada contra o cinto de segurança, a alça cravando em minhas feridas recentes. Gritei, mas o som se perdeu no caos.
Tiros.
Estávamos sendo emboscados.
Olhei através do para-brisa estilhaçado, a visão turva.
O carro da frente - o carro de Dante - havia sido abalroado por um caminhão pesado. Estava amassado do lado do passageiro.
Dante chutou a porta para abri-la.
Ele cambaleou para fora, sangue escorrendo pela testa.
Ele correu ao redor do carro.
Ele arrancou a porta do passageiro com as próprias mãos, os músculos se esforçando contra o aço.
Ele puxou Isabela para fora.
Ela estava gritando, se debatendo, perfeitamente viva.
"Eu te peguei!", ele rugiu. "Me cubram!"
Ele a carregou em direção à segurança dos veículos de apoio que chegavam.
Ele passou correndo pelo meu carro.
Minha janela havia sumido. Eu estava pendurada de lado, presa pelo metal esmagado da porta.
Estendi a mão, os dedos tremendo.
"Dante", engasguei.
Ele olhou para mim.
Por um segundo, nossos olhos se encontraram.
Ele me viu presa. Ele viu a fumaça subindo do bloco do motor do meu carro.
Ele olhou para Isabela em seus braços. Ela tinha apenas um arranhão na bochecha.
Ele cerrou a mandíbula, virou a cabeça para frente e continuou correndo.
Ele me deixou.
De novo.
O calor do motor estava se tornando insuportável.
"Peguem a garota!", um guarda-costas gritou de fora.
Não Dante. Apenas um funcionário pago.
O guarda me arrastou para fora segundos antes do tanque de combustível explodir.
A explosão nos jogou no chão.
Deitei no asfalto, observando as chamas lamberem o céu.
Ambulâncias gritavam à distância.
Paramédicos invadiram a cena.
"Esta aqui está em estado crítico!", um paramédico gritou, ajoelhando-se ao meu lado. "Pressão caindo rápido. Hemorragia interna."
"Espere!", a voz do meu pai cortou o barulho.
Ele estava de pé sobre Isabela, que estava sentada em uma maca, chorando histericamente por causa de uma unha quebrada.
"Verifiquem minha filha primeiro", ele ordenou aos paramédicos. "Ela é a noiva. Ela precisa estar perfeita."
"Senhor, esta mulher está morrendo", argumentou o paramédico.
"Eu disse para verificar a Isabela!", Dante latiu. "Faça o que ele diz."
O paramédico hesitou, depois se levantou e se afastou de mim.
Observei-os cuidarem de Isabela.
Observei Dante acariciar o cabelo dela.
A escuridão se aproximou nas bordas da minha visão.
Foi pacífico desta vez.
Acolhi o vazio.