Ele Escolheu a Amante, Eu Fiquei com Tudo
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Capítulo 3

Ponto de Vista: Helena Vitti

O café era à prova de som, um luxo necessário para pessoas do nosso ramo.

Era território da Família, um lugar onde acordos eram fechados com café expresso e o sangue era esfregado dos nós dos dedos nos banheiros.

Lúcia Rossi sentou-se à minha frente.

Ela era a única pessoa no mundo em quem eu confiava.

Ela também era a mente jurídica mais afiada da organização, uma Consigliere de saltos de quinze centímetros.

Ela mexeu seu café, seus olhos vasculhando a sala em busca de dispositivos de escuta por puro hábito.

"Você parece que não dorme há uma semana", disse ela.

"Faz doze horas", respondi.

Empurrei meus óculos de sol para cima do nariz.

Não queria que ela visse o inchaço ao redor dos meus olhos, a evidência do meu desmoronamento.

"Ele mantinha um santuário, Lúcia. Um santuário digital."

Lúcia parou de mexer.

Sua colher tilintou contra a porcelana, um som agudo na sala silenciosa.

"Sofia Ricci", ela afirmou.

Ela não formulou como uma pergunta.

"Você sabia?"

"Eu suspeitava", disse ela, sua voz fria e distante. "Dante sempre teve uma fraqueza por coisas que não pode ter. Faz parte do seu narcisismo."

"Ele planeja ir embora", eu disse, inclinando-me. "Ele escreveu. Ele quer pegar o dinheiro do projeto do Porto e fugir com ela."

Lúcia soltou uma risada curta e sem humor.

"Ele não vai embora, Helena. Homens como Dante não abrem mão do poder. Ele apenas gosta da fantasia. E ele gosta de ter você lá para garantir que o poder permaneça intacto enquanto ele sonha acordado."

Ela estendeu a mão sobre a mesa e pegou a minha.

Seu aperto era firme, me ancorando.

"Mas esse não é o problema. O problema é que a Fantasma está de volta."

"Ela está na cidade?"

"Ela está no ouvido dele", disse Lúcia. "E isso a torna perigosa. Se o Chefe descobrir que Dante está conspirando com uma Ricci, ele mandará matá-lo. E como você é a esposa dele, será um dano colateral."

Senti um arrepio que não tinha nada a ver com o ar condicionado.

"Eu quero sair", eu disse.

As palavras tinham gosto de cinzas na minha língua.

"Eu quero uma separação."

Lúcia puxou a mão de volta.

Ela me olhou com pena, e isso doeu mais do que a indiferença de Dante.

"Helena, você é casada com um Capo. Você não consegue uma separação. Você consegue um funeral."

"Tem que haver um jeito", insisti, o desespero subindo pela minha garganta. "Você conhece as leis melhor do que ninguém."

"Má-fé", ela murmurou, batendo a unha bem-feita na mesa ritmicamente. "Se pudermos provar que ele entrou no casamento de má-fé... que sua lealdade estava comprometida desde o início..."

Ela olhou para mim, seus olhos escuros.

"É uma guerra, Helena. Ele verá isso como uma perda de território. Ele vai queimar a cidade inteira antes de deixar você ir. Não porque ele te ama, mas porque ele te possui."

A porta do café se abriu.

Marcos, o noivo de Lúcia, entrou.

Ele não era da Família.

Ele era um civil. Um pediatra. Um homem de mãos limpas.

Seu rosto se iluminou quando viu Lúcia.

Ele se aproximou e beijou sua testa, a mão repousando suavemente em seu ombro.

"Pronta para ir?", ele perguntou a ela. "Fiz reservas naquele restaurante tailandês que você gosta."

Lúcia sorriu.

Era um sorriso de verdade.

Alcançou seus olhos, suavizando as arestas da Consigliere.

"Me dê cinco minutos", ela disse a ele.

Ele assentiu e foi esperar perto do balcão.

Eu os observei.

Observei o jeito como ele a olhava como se ela fosse a única pessoa na sala.

Observei o jeito como ela relaxava sob seu toque, despindo sua armadura.

Eu nunca tive isso.

Eu tinha joias caras e um complexo de alta segurança.

Eu tinha um marido que olhava para mim e via um item em uma planilha.

"Ele me trata como um ativo", eu disse baixinho. "Como um hotel que ele possui."

Lúcia se virou para mim.

Seu rosto estava duro novamente.

"Então pare de ser um ativo", disse ela. "Comece a ser um problema."

Ela deslizou um guardanapo pela mesa.

Ela havia escrito um número nele.

"Ligue para este número se as coisas ficarem feias hoje à noite. Conecta diretamente ao meu celular descartável."

"Por que as coisas ficariam feias hoje à noite?", perguntei, meu estômago se revirando.

Lúcia hesitou.

"Porque Dante vai te buscar. E ouvi dizer que ele não vem sozinho."

            
            

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