Ele prometeu para sempre e me deixou
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Capítulo 2

No dia seguinte, o corredor da escola zumbia como uma colmeia, um contraste gritante com o silêncio oco no meu peito. A "Competição de Murais da Semana Cultural" anual estava em andamento, uma explosão caótica de tinta e criatividade. Eu havia derramado meu coração na minha inscrição, uma representação vibrante de uma fênix renascendo das cinzas – uma expressão crua e simbólica da minha própria jornada. Passei inúmeras horas na sala de arte, a tela minha única confidente, cada pincelada um grito silencioso, uma esperança sussurrada.

O anúncio estava a momentos de distância. Eu estava no meio da multidão, sem realmente ver os outros alunos, a conversa animada deles apenas um rugido abafado. Meu olhar estava fixo no mural, na minha fênix, já sentindo um estranho distanciamento dele. Era meu, mas não precisava mais ser validado por este lugar, ou por essas pessoas.

Josias estava lá, é claro, encostado na parede com sua comitiva de sempre. Alessandra estava elegantemente pendurada em seu braço, seu cabelo loiro perfeito capturando as luzes fluorescentes. O mural dela, uma paisagem brega e excessivamente doce do mascote da escola segurando um troféu, parecia exatamente com o que ela havia copiado de um tutorial online. Eu a vi trabalhando nele, muitas vezes rindo com Josias, enquanto eu meticulosamente misturava tons, criando profundidade e sombra na minha própria peça.

A professora de arte, a Professora Alice, correu para a frente, radiante. "Muito bem, pessoal! Obrigada pela incrível participação de todos!" Sua voz era brilhante, mas meu sangue gelou com um mal-estar familiar.

Ela ergueu dois cartões. "Foi incrivelmente acirrado este ano! Um empate, na verdade, entre Graça Foster e Alessandra Menezes!"

Um suspiro percorreu a multidão. Minha cabeça se ergueu, um lampejo de surpresa perfurando minha calma cuidadosamente construída. Um empate? Depois de tudo, eu ainda seria medida contra ela?

"Infelizmente", continuou a Professora Alice, uma carranca brevemente marcando seu rosto alegre, "o Diretor Dantas, que deveria dar o voto de desempate, foi chamado inesperadamente esta manhã. Algo sobre uma reunião do distrito."

Um gemido coletivo. Senti uma estranha sensação de alívio. Um adiamento. Mas também, um nó de pavor. Isso não tinha acabado.

"Então", disse a Professora Alice, tentando recuperar o controle. "Teremos que esperar até amanhã de manhã pela decisão final dele. Até lá, ambos os murais permanecerão expostos!"

A multidão se dispersou, murmurando sobre o empate. Observei Josias e Alessandra. Ela já estava fazendo beicinho, claramente irritada por não ter vencido de cara. Josias, sempre o pacificador encantador, sussurrou algo em seu ouvido, fazendo-a rir. Ele olhou na minha direção, um olhar rápido e indecifrável, depois se virou para ela, envolvendo-a com um braço pela cintura.

Era um eco doloroso. Eu costumava me importar assim. Eu costumava me agarrar a cada olhar compartilhado, cada toque fugaz, acreditando que significava algo mais. Agora, era apenas uma performance, uma exibição pública para sua audiência.

Na manhã seguinte, a tensão era palpável. Os alunos lotavam o corredor de arte, esperando. O Diretor Dantas, um homem alto e imponente, finalmente chegou, parecendo apressado. Alessandra imediatamente se soltou de Josias, correndo para o lado dele. "Diretor Dantas! Estávamos esperando por você!", ela chilreou, uma mão tocando gentilmente seu braço, seu sorriso deslumbrante e falso. "Espero que sua reunião tenha corrido bem."

O Diretor Dantas deu a ela um sorriso cansado. "Obrigado, Alessandra. Sim, foi... produtiva." Ele deu um tapinha na mão dela, um gesto de afeto paternal.

Meu estômago se contraiu. Os pais de Alessandra eram grandes doadores da escola. Todo mundo sabia disso.

Josias, agora sozinho, encontrou meu olhar. Ele me deu um pequeno aceno quase imperceptível, um fantasma de uma antiga segurança. Meu coração, contra minha vontade, palpitou. Uma brasa tola e moribunda de esperança. Ele não os deixaria tirar isso de mim. Deixaria? Ele sabia o quanto minha arte significava. Ele sabia.

"Tudo bem, alunos", anunciou o Diretor Dantas, limpando a garganta. "Após cuidadosa consideração, e uma decisão muito difícil, eu fiz minha escolha para o vencedor da Competição de Murais da Semana Cultural." Ele fez uma pausa, examinando os rostos. Minha respiração ficou presa na garganta.

Ele olhou para Alessandra, depois para o mural dela. Seu olhar demorou por um momento. Então, ele se virou para a minha fênix, um flash de algo indecifrável em seus olhos.

"A vencedora é... Alessandra Menezes!"

O corredor explodiu em aplausos, principalmente dos amigos de Alessandra. Meu mundo pareceu inclinar novamente. Um solavanco lento e enjoativo.

Alessandra gritou, jogando os braços ao redor do Diretor Dantas. "Meu Deus! Obrigada, obrigada, obrigada!"

Josias aplaudiu, um som lento e deliberado. Ele estava sorrindo. Não um sorriso forçado, mas um sorriso genuíno e orgulhoso direcionado a Alessandra.

"O mural de Alessandra", continuou o Diretor Dantas, sobre os aplausos que diminuíam, "realmente captura o espírito da nossa escola. É brilhante, é alegre, é... edificante. Uma representação perfeita dos valores da nossa comunidade." Ele sorriu para ela. "O trabalho de Graça, embora tecnicamente proficiente, era talvez um pouco... intenso demais para o nosso ambiente escolar."

Intenso. Era isso que minha dor era. Demais para o mundo alegre e superficial deles.

Alessandra, radiante, virou-se para Josias, que lhe deu um beijo rápido e triunfante na bochecha. Ela então olhou para mim, um sorriso de escárnio brincando em seus lábios. "Eu te disse, Jô", ela articulou sem som, seus olhos brilhando com alegria maliciosa.

Uma risada amarga e seca me escapou. Era um som que eu não fazia há anos, um ruído enferrujado e quebrado. Assustou até a mim. Mas era real. Tão real.

Meu olhar varreu a cena. Josias, com o braço ao redor de Alessandra, banhando-se em sua glória refletida. O Diretor Dantas, dando tapinhas nas costas da filha do doador. Os rostos indiferentes da multidão. Eu era uma estranha, uma verdade inconveniente em sua narrativa perfeita.

Alessandra, vendo minha reação, soltou-se de Josias e se aproximou de mim. Sua voz, geralmente perfeitamente modulada, estava agora um pouco mais alta, um pouco doce demais. "Ah, Graça, eu sinto muito! Foi tão perto! Mas sabe, o Diretor Dantas simplesmente amou minhas cores alegres. Ele disse que o seu era um pouco... sombrio. Talvez da próxima vez, tente algo um pouco menos... sabe." Ela gesticulou vagamente para o meu mural. "Menos... você."

Ela fez uma pausa, depois baixou a voz, embora eu ainda pudesse ouvir cada palavra. "E honestamente, você tentando competir comigo? Pela atenção do Josias? É patético. Ele está comigo, Graça. Enfia isso na sua cabeça dura. Ele está de saco cheio de ser seu cachorrinho."

Minha boca se abriu, mas nenhuma palavra saiu. Meu peito arfava.

"É que... é um pouco estranho", ela continuou, inclinando-se conspiratoriamente, seu hálito doce de menta. "Você não consegue falar, não é? É difícil para ele. Então ele precisa de alguém que consiga. Alguém que possa realmente se comunicar." Ela deu um tapinha no meu ombro, um gesto condescendente. "Não se preocupe, porém. Ele ainda vai ser legal com você. Ele é uma pessoa boa demais para abandonar completamente a garota muda."

Eu finalmente encontrei minha voz, um sussurro rouco, quase inaudível. "Ele escolheu", consegui coaxar, as palavras cruas e dolorosas. "Ele escolheu você."

O sorriso de Alessandra vacilou por um segundo, surpresa por eu ter falado. Então ele voltou, mais largo. "Sim, ele escolheu, não é? E ele vai continuar me escolhendo. Porque eu posso realmente ser uma namorada. Você é só... um projeto de caridade."

Josias, que estava nos observando, de repente pareceu desconfortável. Ele limpou a garganta. "Alê, já chega." Suas palavras foram fracas, um mero sussurro contra a crueldade afiada dela.

Eu olhei para ele, olhei de verdade. O garoto que prometeu ser minha voz. O garoto que agora estava deixando outra garota me destruir, defendendo-a com um apelo patético e sem convicção. Meu último resquício de esperança murchou e morreu. Não era apenas a Alê. Era ele. Ele era cúmplice.

Uma calma estranha se instalou sobre mim. A calma quieta e vazia da perda absoluta. Eu me afastei de Alessandra, de Josias, da cena que estava me despedaçando. Eu não precisava da pena deles, de suas desculpas falsas ou de suas desculpas fracas. Eu só precisava ir embora. Abri caminho pela multidão, meu mural da fênix se tornando um borrão atrás de mim. Era intenso, sim. E era meu.

            
            

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