Ele prometeu para sempre e me deixou
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Capítulo 3

A voz de Josias, áspera e urgente, cortou o barulho do corredor. "Graça! Espera!"

Eu não parei. Minhas pernas me impulsionavam para frente, um desejo desesperado de escapar deste lugar, desta humilhação, desta realidade esmagadora. Ele rapidamente me alcançou, agarrando meu braço. Seu toque, antes um conforto, agora parecia uma marca de ferro em brasa.

"Graça, o que foi aquilo?", ele perguntou, seus olhos arregalados, um lampejo de genuína confusão neles. "Por que você simplesmente foi embora? E... você falou. Você realmente falou!"

Puxei meu braço, meu olhar fixo em algum ponto além de seu ombro. Minha garganta estava apertada novamente, as palavras que eu havia dito antes, aquelas que Alessandra usara contra mim, agora pareciam cinzas na minha boca.

"Por que você está me ignorando?", ele insistiu, sua voz tingida de uma mágoa que eu sabia ser fingida. "A Alessandra não quis dizer nada com aquilo. Você sabe como ela é. Ela fica com ciúmes."

Ciúmes. De mim. A garota muda, a tragédia. O absurdo daquilo era quase risível.

Eu permaneci em silêncio, meu peito arfando. Cada terminação nervosa gritava para eu correr, me esconder, desaparecer.

"Olha, eu sei que é uma droga", ele continuou, gesticulando vagamente. "O diretor, sabe... ele tem que manter a escola feliz. Os pais da Alê doam muito dinheiro." Ele passou a mão pelo cabelo, um hábito nervoso. "Mas isso não significa que sua arte não seja boa. É incrível, Graça. De verdade. Só... talvez um pouco demais para um corredor de colégio."

Suas palavras me atingiram como pedras. Ele estava tentando explicar, justificar, diminuir. Ele estava tentando fazer com que a culpa fosse minha, que minha "intensidade" fosse o problema. Ele não estava vendo minha dor, apenas seu próprio desconforto.

Lembrei-me das inúmeras horas que passei naquele mural. As noites em claro, as costas doloridas, a tinta manchada nas minhas roupas. Cada pincelada, cada escolha de cor, era um testemunho da minha luta, da minha jornada, da minha batalha silenciosa para ser vista. Eu tinha feito por mim mesma, sim, mas também, de certa forma, por ele. Para mostrar a ele que eu não era apenas uma garota muda em um canto. Para mostrar a ele que eu era forte, capaz, merecedora.

E ele tinha acabado de descartar tudo. "Um pouco demais."

O silêncio se estendeu entre nós, denso e sufocante. Ele mudou de peso, claramente desconfortável. Olhou ao redor, como se esperasse que alguém o resgatasse deste encontro constrangedor.

"Então", ele finalmente disse, sua voz mais leve, quase forçada. "Sobre este fim de semana, o acampamento? Ainda está de pé, certo? Vai ser divertido. Como nos velhos tempos. Você, eu, a Alê, o Marcos..."

Meus olhos se fixaram na pulseira em seu pulso. Uma simples pulseira de couro trançado. Não era a que eu tinha feito para ele, uma peça pequena e intrincada tecida com fios de azul e prata, combinando com a que eu usava. Aquela, a que eu criei meticulosamente para o aniversário dele, havia desaparecido meses atrás. Mas Alessandra usava uma parecida agora, uma pulseira de berloques vermelha e brilhante, tilintando alegremente em seu pulso delicado, um presente dele, sem dúvida. Ele havia substituído meu símbolo silencioso pela declaração chamativa dela.

Era um pequeno detalhe, mas continha um universo de significado. Ele havia escolhido seletivamente quem amar, quem valorizar, quem reconhecer. E não era eu. Nunca tinha sido.

Uma onda súbita e avassaladora de luto me invadiu. Não era do tipo que me fazia soluçar, mas uma dor interna e silenciosa que parecia que minha alma estava encolhendo. Uma única lágrima, quente e pesada, escapou e desceu pela minha bochecha. Foi a última lágrima que eu derramaria por ele. Eu prometi a mim mesma.

Cerrei os punhos, uma resolução feroz endurecendo em meu peito. Eu não o amaria mais. Eu não o amaria. Ele não valia a pena. Nada daquilo valia a pena.

Eu precisava cortar todos os laços. Completamente. E o acampamento, o símbolo dos nossos "velhos tempos", seria o último fio. Eu iria. Eu enfrentaria. E então, eu o cortaria para sempre.

            
            

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