Ele prometeu para sempre e me deixou
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Capítulo 5

As palavras pareciam veneno na minha boca, mas foram forçadas para fora, ásperas e quebradas. "Eu... sinto muito." Minha voz era quase um sussurro, um fantasma de som, mas foi o suficiente. O suficiente para satisfazê-los. O suficiente para me quebrar.

Lágrimas quentes e humilhantes escorriam pelo meu rosto, borrando o sorriso triunfante nos lábios de Alessandra. Ela olhou para mim de cima, seus olhos desprovidos de qualquer dor real, apenas uma satisfação arrepiante. "Está tudo bem, Graça", ela arrulhou, sua voz doentiamente doce. "Eu aceito seu pedido de desculpas. Apenas tente ser mais cuidadosa da próxima vez, ok?"

Ela estendeu a mão, um gesto de falso perdão. Eu recuei, virando a cabeça. Não suportaria seu toque. Não agora. Nunca mais.

Levantei-me desajeitadamente, meus joelhos doendo, meu corpo inteiro tremendo. Olhei para Josias, seu rosto ainda marcado pela raiva, seu braço ainda protetoramente em volta de Alessandra. Naquele momento, ele era um estranho. Um estranho cruel e sem coração que eu um dia amei.

Virei-me e corri. Não sabia para onde estava indo, apenas que precisava escapar. As zombarias e risadas me seguiram, farpas afiadas perfurando meu coração já estilhaçado. Corri até meus pulmões arderem, até o acampamento desaparecer atrás de mim, até estar no fundo da floresta, cercada pelo abraço frio e indiferente das árvores.

Caí contra um carvalho grosso, ofegante, os soluços finalmente rasgando meu peito. Meu celular vibrou no bolso. Meus pais. Meu único consolo. Digitei uma mensagem desesperada, meus dedos trêmulos. Mãe, pai, preciso ir para casa. Por favor. Agora.

Então, uma percepção súbita e arrepiante. A floresta estava escurecendo. O ar estava pesado, prenunciando uma tempestade. Trovões ribombavam à distância, um rosnado baixo e sinistro. O pânico me dominou. Eu estava sozinha. No fundo de uma floresta desconhecida, com uma tempestade se formando, e meus aparelhos auditivos, essenciais para navegar neste mundo, ainda estavam na minha mochila, de volta ao acampamento miserável. Eu os deixei na pressa.

Levantei-me cambaleando, minha mente a mil. Eu tinha que voltar. Eu tinha que voltar.

Refiz meus passos, a floresta agora um labirinto de sombras e vento crescente. O trovão ficou mais alto, mais próximo. A chuva começou a cair, fina e fria no início, depois rapidamente se transformando em um dilúvio.

Finalmente saí da linha das árvores, de volta à clareira do acampamento. Josias e Alessandra estavam perto da cabana principal, amontoados sob um pequeno toldo, discutindo. O rosto dele estava vermelho, o dela manchado de lágrimas.

"Onde você estava?", Josias exigiu, sua voz tensa de frustração, ao me ver. "Eu estava morrendo de preocupação! Você simplesmente saiu correndo!"

"Eu... fui procurar meus aparelhos auditivos", eu grasnei, a chuva colando meu cabelo no rosto. Minha voz estava fraca, quase inaudível sobre o vento.

"Seus aparelhos auditivos?", ele zombou. "Você correu para a floresta, numa tempestade, por causa dos seus aparelhos auditivos? Graça, qual é o seu problema? Você nunca pensa?"

"Eu não consigo ouvir sem eles", afirmei, minha voz ganhando um tom desesperado. "Eu precisava deles. Não posso ficar... sozinha assim."

"Você não é uma criança, Graça!", ele gritou, sua frustração transbordando. "Você tem dezessete anos! Não pode sair correndo toda vez que fica chateada. Você me mata de susto!"

"Você não se importa comigo!", gritei de volta, as palavras rasgando minha garganta, cruas e dolorosas. "Você só se importa com ela! Com a sua reputação!"

Seu rosto endureceu. "Isso não é justo, Graça! Eu estava preocupado com você! Assim como estou preocupado com a Alê! Você acha que eu gosto disso? Desse drama? Desse constante... fardo?"

A palavra, "fardo", ecoou as coisas vis que eu tinha ouvido ontem. Me atingiu mais forte do que qualquer golpe físico.

"Josias, manda ela me deixar em paz!", Alessandra choramingou, agarrando-se ao braço dele, tremendo dramaticamente. "Ela é sempre assim! Tão grudenta!"

"Alê, agora não", Josias murmurou, mas seus olhos ainda estavam em mim, cheios de uma mistura de raiva e exasperação.

A chuva se intensificou. O vento uivava, chicoteando as árvores. O mundo ao nosso redor parecia espelhar a tempestade em meu coração. Nós três ficamos ali, encharcados e miseráveis, o abismo entre nós se alargando a cada momento que passava.

De repente, um clarão de relâmpago cegante cortou o céu, seguido por um trovão que fez a terra tremer. Alessandra, com um grito agudo, tropeçou para trás, puxando Josias com ela. Seu pé escorregou no chão lamacento e escorregadio. Eu estendi a mão instintivamente para firmá-la, para ele, mas ela se torceu em um movimento frenético. Seu braço descontrolado me atingiu, com força, no peito.

Perdi o equilíbrio. Meus pés deslizaram sob mim na lama traiçoeira. Eu caí, rolando por um pequeno e íngreme barranco, a terra áspera rasgando minha pele. Uma dor aguda atravessou minha cabeça quando bati em algo duro. Minha visão turvou. E então, o mundo ficou silencioso. Totalmente, terrivelmente silencioso. Meus aparelhos auditivos, minha preciosa conexão com o som, devem ter voado longe.

O pânico, frio e absoluto, me agarrou. Eu estava sozinha. De novo. No escuro, na tempestade, no silêncio. Era pior que o acidente de carro. Era pior que qualquer coisa.

"Josias!", gritei, minha voz crua, desesperada, mas eu não conseguia ouvi-la. Eu não conseguia ouvir nada. O silêncio aterrorizante me pressionava, me sufocando. "Josias! Não me deixe! Por favor!"

Eu o vi acima de mim, um contorno vago na chuva torrencial. Ele estava olhando para baixo, seu rosto uma máscara contorcida de medo e indecisão. Alessandra estava agarrada a ele, soluçando, apontando para mim.

"Josias! Ela está machucada! Temos que ir!", Alessandra chorou, sua voz um movimento embaçado e silencioso de seus lábios.

A boca de Josias se moveu. Seu corpo balançou. Ele estava falando, gritando talvez, mas eu não conseguia ouvir uma única palavra. O silêncio era absoluto. O vazio era completo.

"Josias!", gritei novamente, meus braços estendidos, implorando. "Não me abandone! Por favor! De novo não!" Os ecos do acidente de carro, de ser deixada sozinha, presa e indefesa, rugiam em minha mente. Ele havia prometido. Ele havia jurado.

Eu o vi hesitar, seu olhar fixo no meu rosto, depois no de Alessandra. Seu medo, sua covardia, era uma coisa palpável.

Então, Alessandra o puxou. Com força. Ele tropeçou, depois se virou. Ele olhou para mim uma última vez, um olhar breve e assombrado, e então ele se foi. Desaparecendo na chuva torrencial, me deixando sozinha no silêncio aterrorizante e ensurdecedor.

                         

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