Seu Projeto Para Me Apagar
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Capítulo 5

Aurora POV:

A campainha tocou, um som alegre que parecia profundamente deslocado no meu estado atual de ansiedade. Meu coração saltou para a garganta. Eu não tinha pedido nada, não estava esperando ninguém. Minha mão instintivamente foi para a minha barriga, um gesto protetor. Espiei pelo olho mágico.

Karina.

Ela estava lá, irradiando uma inocência artificial. Seu cabelo, uma cascata perfeita de cachos dourados, emoldurava um rosto cuidadosamente sem maquiagem, dando-lhe uma aparência angelical e frágil. Ela segurava um pote térmico de comida, um sorriso doentio estampado nos lábios. Parecia um anjo benevolente, pronto para oferecer conforto. Mas eu conhecia a víbora por baixo do véu.

Abri a porta apenas uma fresta, deixando a corrente de segurança no lugar. "O que você quer, Karina?" Minha voz era monótona, desprovida de boas-vindas.

"Aurora, querida! Eu estava tão preocupada com você!" Sua voz era um ronronar teatral, pingando falsa preocupação. Ela tentou passar o pote de comida pela fresta. "Ricardo me disse que você não estava comendo direito. Eu fiz uma sopa de galinha caseira para você. É tão nutritiva para o bebê." Seus olhos correram por mim, tentando vislumbrar o apartamento.

Empurrei o pote de volta, com firmeza. "Eu não quero sua sopa, Karina. E não quero você aqui. Vá embora."

Seu beicinho perfeito vacilou por uma fração de segundo, um flash de irritação substituindo a doçura açucarada. Então ela recuperou a compostura, seus olhos se enchendo de lágrimas perfeitamente cronometradas. "Aurora, como você pode ser tão cruel? Eu só estou tentando ajudar. Somos irmãs, afinal. E este bebê... é do Ricardo, da nossa família. Estamos todos tão preocupados."

"Você perdeu o direito de se chamar de minha irmã há muito tempo", retruquei, minha paciência se esgotando. "E a família do Ricardo? Essa é boa. Estou me divorciando do Ricardo."

Um lampejo de triunfo, rápido e quase imperceptível, cruzou seu rosto antes que ela rearranjasse suas feições em uma máscara de tristeza fingida. "Ah, Aurora. Eu sei que você está chateada. Ricardo está tão angustiado. Ele só quer o que é melhor para todos. Especialmente para o bebê." Sua voz baixou para um sussurro conspiratório. "Ele realmente quer que você tenha este bebê, sabe. Ele está tão animado para ser pai."

Minha cabeça se ergueu. Meus olhos, estreitos e afiados, fixaram-se nos dela. "Ele quer que eu tenha este bebê?" As palavras eram um sussurro perigoso. "Por quê? Para você poder brincar de mãe? É isso, Karina? Você quer criar meu filho?"

Sua fachada frágil rachou, só um pouco. Ela gaguejou, seus olhos se desviando. "N-não, claro que não! Como você pôde pensar isso? É só... o bebê. Ele merece uma família. Uma família completa. Não é culpa do bebê que vocês dois não consigam se entender." Ela torceu as mãos, um retrato de inocência aflita. "E o Ricardo... ele sente falta de ter crianças por perto. Quer dizer, filhos. Ele realmente só quer experimentar a paternidade." Ela parou, seu olhar caindo para a minha barriga.

Então ela sussurrou, sua voz quase inaudível: "E você sabe... eu não posso. Eu não posso dar isso a ele. Meu... meu corpo não me permite."

As palavras pairaram no ar, pesadas e venenosas. Eu não posso dar isso a ele.

As peças se encaixaram, formando um quadro monstruoso e horripilante. O pacto pós-nupcial secreto, as transferências de ativos, a presença constante de Karina na vida de Ricardo, sua estranha obsessão em ter um filho agora, depois de anos de indiferença. A maneira como ele me descartou, o recipiente, enquanto cobiçava o produto. A verdade foi um golpe físico, pior do que qualquer soco.

Eu não era apenas uma esposa substituta. Eu era uma barriga de aluguel. Uma máquina de procriação. Ele queria meu filho, não para nós, mas para eles. Para Ricardo e Karina, para completar sua fantasia distorcida de uma família perfeita. Eu não era nada mais do que um útero conveniente e fértil, um meio para um fim para uma criança que ele pretendia moldar à imagem de Karina, a criança que ela mesma não podia gerar.

Um som gutural escapou de mim, uma mistura de incredulidade, raiva e nojo profundo. "Você quer o meu bebê?", cuspi, minha voz tremendo de veneno. "Você quer criar meu filho para o Ricardo, porque você não pode ter um? É isso? Foi por isso que ele se casou comigo? Porque eu pareço o suficiente com você para enganá-lo, e eu posso te dar o filho que você é incapaz de carregar?"

O absurdo puro e grotesco de tudo aquilo me atingiu com tanta força que minha visão turvou. Meu estômago se revirou, minha bile subindo. Senti um grito primal se formando no meu peito, uma necessidade desesperada de me purificar da verdade doentia.

Sem pensar, minha mão disparou. Arranquei o pote térmico da mão trêmula de Karina. A cerâmica parecia fria, pesada. Com um rugido furioso, alimentado por anos de traição e por esta revelação final e doentia, eu o arremessei. Ele voou passando por sua cabeça, errando por centímetros, e se espatifou contra a parede do corredor com um baque úmido e repugnante. A sopa de galinha, antes destinada como um gesto de falsa bondade, espirrou pela tinta branca imaculada, deixando uma mancha grotesca e gordurosa.

Karina gritou, um som agudo e genuíno de terror. Ela tropeçou para trás, agarrando o peito, sua fachada cuidadosamente construída completamente destruída. Seus olhos, arregalados de medo, me encaravam, não mais vendo uma vítima gentil, mas uma mulher levada ao limite.

"Saia!", gritei, minha voz crua, rouca. "Saia da minha frente! Saia da minha vida, sua cobra manipuladora e nojenta! E nunca, nunca mais chegue perto do meu filho!" Bati a porta, a corrente frágil balançando, cortando seu grito no meio.

Do outro lado da porta, ouvi sua voz furiosa e venenosa. "Você vai se arrepender disso, Aurora! Você não vai vencer! Você vai ter este bebê, e o Ricardo vai garantir que a gente o pegue!" Ela bateu na porta uma, duas vezes, depois seus passos se afastaram rapidamente.

Deslizei pela porta, minhas pernas cedendo, desabando no chão. Meu corpo tremia violentamente, minha respiração saindo em arquejos irregulares. O medo, frio e insidioso, envolveu meu coração com seus tentáculos. Eles não me deixariam ir. Eles não deixariam meu filho ir. O poder de Ricardo, sua riqueza, sua determinação implacável em conseguir o que queria - era uma força aterrorizante. Karina, com seus desejos distorcidos e astúcia manipuladora, era igualmente perigosa.

Eles queriam o meu bebê. Não o nosso bebê, não o meu bebê, mas o bebê deles. Uma boneca viva e respirante para completar seu retrato de família grotesco.

Não. Eu não os deixaria. Eu não deixaria. Esta criança, esta vida inocente se agitando dentro de mim, era minha. Minha única esperança, meu único futuro, a única coisa pura que restava em um mundo manchado por mentiras. Eu os protegeria, ferozmente, com cada fibra do meu ser. Coloquei minhas mãos na minha barriga inchada, sentindo um leve tremor, um lembrete gentil da vida que eu carregava.

"Somos só você e eu, pequeno", sussurrei, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. "Só você e eu. E eu prometo, eles nunca, jamais, vão te pegar."

Um pensamento selvagem e desesperado surgiu em minha mente, uma ideia aterrorizante e estimulante nascida do puro desespero. Se eles queriam tanto meu filho, se acreditavam que este bebê era deles... e se o bebê, e eu, simplesmente deixássemos de existir? E se desaparecêssemos sem deixar vestígios, deixando-os com nada além de ecos e perguntas sem resposta? Era insano. Era perigoso. Mas era o único jeito. O único jeito de escapar de verdade, de proteger meu filho de verdade.

            
            

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