Tarde Demais para o Arrependimento do Rei da Máfia
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Capítulo 2

Nora POV

Na noite seguinte, o ar no terraço privado estava pesado, denso de umidade e mentiras não ditas.

Lucien sentou-se à minha frente, girando uma taça de vinho tinto com facilidade praticada. Ele parecia relaxado, a imagem perfeita de um marido devotado. Ele havia limpado sua agenda para o nosso jantar de aniversário. Sem guardas, sem negócios, apenas nós.

Era uma farsa lindamente orquestrada.

"Você está quieta esta noite", ele disse, cortando seu filé com precisão cirúrgica. "Ainda com dor de cabeça?"

"Ouvi sobre o divórcio dos Rossetti", eu disse. Era uma mentira que eu havia fabricado horas atrás, uma isca cuidadosamente colocada na armadilha. "Vinte anos de casamento, e ele a deixou por uma dançarina."

Lucien zombou, balançando a cabeça com desdém. "Rossetti é um tolo. Um homem sem honra."

"Honra", repeti, testando a palavra na minha língua. "É isso que mantém um homem fiel? Honra?"

"Lealdade", Lucien corrigiu. Ele largou o garfo e me olhou com aqueles olhos intensos e escuros que costumavam me deixar de pernas bambas. "Um Dom nunca trai sua Rainha. Isso enfraquece a fundação da casa."

"Então é sobre estratégia", eu disse, mantendo minha voz neutra. "Não amor."

Ele estendeu a mão sobre a mesa e pegou a minha. Seu aperto era firme, quente. Uma semana atrás, esse toque teria me acalmado. Agora, eu sentia vontade de puxar minha mão e esfregá-la com água sanitária até a pele ficar em carne viva.

"É ambos, Nora", ele disse seriamente, sua voz baixando uma oitava. "Eu juro pela honra da família Marino. Juro pelo meu sangue. Eu nunca te trairia. Você é a única mulher que importa."

Ele me olhou diretamente nos olhos. Ele não piscou. Ele não vacilou.

Ele era um sociopata.

Ele realmente acreditava em suas próprias mentiras. Ou talvez ele pensasse que, como Sophia era apenas uma "distração", não contava como traição. Ele havia compartimentalizado sua vida tão perfeitamente que podia dormir com minha irmã e ainda acreditar que era um bom marido.

"É bom saber", eu disse suavemente.

Eu estava mentalmente calculando as horas. Faltavam quarenta e oito horas.

"Vem aqui", ele disse, levantando-se.

Ele me puxou da cadeira. Envolveu seus braços em volta da minha cintura, me pressionando contra seu corpo duro. Eu enrijeci instintivamente, depois me forcei a me derreter nele. Eu não podia levantar suspeitas. Ainda não.

"Tenho algo para você", ele sussurrou contra meu ouvido.

"Lucien, eu-"

"Shhh."

Ele tirou uma venda de seda do bolso.

"Confie em mim", ele disse.

A ironia tinha gosto de bile na minha garganta.

Ele amarrou a venda sobre meus olhos. Meu mundo ficou escuro. O pânico explodiu no meu peito. Estar cega para ele era perigoso. Mas eu o deixei me guiar.

Andamos por alguns minutos. Eu podia sentir o cheiro do sal do oceano e da madeira úmida do píer. Estávamos indo em direção às docas privadas.

"Pare aqui", ele disse.

Ele ficou atrás de mim, suas mãos repousando possessivamente em meus ombros.

"Abra os olhos."

Ele puxou a seda.

Pisquei contra a brisa repentina. Estávamos na beira do porto. A água estava preta e parada.

De repente, um zumbido mecânico encheu o ar. Centenas de luzes dispararam da escuridão. Drones.

Eles enxamearam no céu, dançando como vaga-lumes sintéticos. Eles formaram formas - um coração, uma coroa, o número sete.

Então, eles soletraram um nome.

ELEONORA.

Abrangia todo o horizonte. Era massivo, ostensivo e incrivelmente caro. Uma exibição de riqueza e poder que gritava para o mundo: Ela é minha.

"Lindo", Lucien sussurrou, seu queixo apoiado no meu ombro. "Como você."

Eu encarei meu nome no céu. Parecia uma lápide de neon.

"É... muita coisa", eu disse, minha voz mal um sussurro.

"Você merece o mundo", ele disse. Ele me virou para encará-lo. "Eu te amo, Nora. Você é minha vida."

Ele se inclinou. Seus lábios estavam a centímetros dos meus. Eu podia sentir sua respiração.

Buzz.

Seu bolso vibrou contra meu quadril.

Ele congelou. Eu vi a irritação brilhar em seus olhos, seguida por outra coisa. Algo culpado.

Ele se afastou, pegando o celular. Não era seu telefone de negócios. Era o descartável que ele mantinha no bolso interno.

Eu vi a tela antes que ele pudesse incliná-la.

Minha Canarinha.

Sophia.

Meu estômago despencou. Canarinha. Porque ela cantava para ele? Ou porque era apenas mais um animal de estimação em uma gaiola?

O rosto de Lucien mudou instantaneamente. O marido romântico desapareceu. O Dom apareceu. Mas havia uma ponta de desespero em seus olhos.

"Preciso atender", ele disse, dando um passo para trás. "É... uma emergência de família. Uma situação com os carregamentos."

"Esta noite?", perguntei, deixando a mágoa transparecer na minha voz. Não foi difícil. "No nosso aniversário?"

"Me desculpe, tesoro", ele disse, já caminhando em direção ao SUV que havia parado silenciosamente nas sombras. "A Família vem primeiro. Você sabe disso."

"Sim", eu disse. "Eu sei."

Ele nem mesmo me beijou de despedida. Ele entrou no SUV. Vincenzo, seu chefe de segurança, bateu a porta.

O comboio partiu em alta velocidade, os pneus cantando no asfalto.

Fiquei sozinha no cais. Acima de mim, os drones ainda soletravam meu nome, piscando zombeteiramente no céu noturno.

A Família vem primeiro.

"Vincenzo pegou o carro da frente", sussurrei para mim mesma, minha voz fria. "Lucien está no segundo."

Virei-me e corri de volta para casa. Não para chorar. Não para esperar.

Corri para a garagem. Eu tinha meu próprio carro, um sedã modesto que usava para trabalhos de caridade. Não tinha o rastreador que os carros de luxo tinham.

Eu não era mais a esposa obediente. Eu era a mulher que ia queimar o reino dele até o chão.

Liguei o motor.

Eu ia ver a verdade com meus próprios olhos.

            
            

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