Vendida Ao Don Da Máfia
img img Vendida Ao Don Da Máfia img Capítulo 5 Cicatrizes Invisíveis
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Capítulo 6 A Linha que Não Existe img
Capítulo 7 As Regras da Guerra img
Capítulo 8 Onde arde, eu nego img
Capítulo 9 E eu... img
Capítulo 10 Enlouquecendo img
Capítulo 11 Febre img
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Capítulo 5 Cicatrizes Invisíveis

Valentina

O silêncio depois da porta se fechar era mais alto do que qualquer grito. Eu estava ali, deitada na cama, o vestido ainda amarrotado, a respiração curta, o corpo trêmulo. O cheiro dele preso na minha pele, o gosto dele ainda na minha boca.

Dante Vitale tinha me deixado. Sem uma palavra a mais. Sem um olhar. E, mesmo assim, eu não conseguia parar de sentir.

Passei as mãos pelo rosto, tentando apagar a memória do que acabou de acontecer. Mas não havia como apagar. Porque não tinha sido só um toque. Não tinha sido só desejo. Tinha sido algo que eu nunca tinha vivido.

Ainda deitada na cama, um nome veio à minha mente.

Giovanni...

Com Giovanni eu sempre me contive. Sempre. Ele nunca insistiu. Nunca me tomou nos braços como se o mundo pudesse acabar. Nunca me fez perder o fôlego. Eu o entregava pedaços, mas guardava um pedaço de mim que acreditava ser intocável.

E, mesmo assim, Giovanni me vendeu. Por que isso ainda dói? Talvez porque ainda esteja quente...

Mas, mesmo com Giovanni ainda fervendo em minha mente, outro nome surgiu.

Dante...

Ele entrou sem pedir licença. Me incendiou sem promessa. E meu corpo... meu corpo traiu cada palavra de ódio que eu tinha preparado.

A forma como ele me olhou, como me tocou, como sussurrou no meu ouvido... era perturbadora. Era cruel. Mas também era maravilhosa. Uma violência de sensações. Uma confusão de tudo o que eu achava que sabia sobre mim.

Meu corpo respondeu a ele. Respondeu de um jeito único, intenso, avassalador. Eu nunca tinha sentido aquilo antes. Nunca.

Fechei os olhos e me vi arqueando sob ele, sentindo a onda vir, o calor subir, o prazer me romper em pedaços que eu não sabia que existiam. Eu tive o primeiro orgasmo da minha vida com ele. Com Dante Vitale. O homem que eu deveria odiar.

As lágrimas queimaram meus olhos, mas não caíram. Ainda não.

Levantei devagar. As pernas pareciam feitas de cera. Segurei o vestido, puxei-o para baixo, tentando recuperar alguma dignidade que não existia mais.

Dante havia ido embora. Simplesmente se afastado. Como se eu fosse nada. Como se o que aconteceu não tivesse significado. E isso doeu mais do que tudo.

Não era só o toque. Era a ausência. O frio que ele deixou quando saiu do quarto.

Passei os dedos pelos lábios, lembrando do beijo dele. Um beijo impositivo, mas também... algo que eu não queria nomear. Respirei fundo, caminhei até a porta. Queria sair dali. Precisava sair dali.

Atravessei o corredor em silêncio. Meus passos ecoavam no mármore, cada um deles um esforço para não desmoronar. Entrei no quarto que agora chamava de "meu".

Mas não era meu. Não era nada. Era só uma prisão luxuosa com lençóis brancos e cheiro de sabonete caro. Fechei a porta atrás de mim e fui direto para o banheiro. Liguei o chuveiro no máximo.

A água quente caiu sobre mim, mas não lavou nada. O cheiro dele ainda estava na minha pele. O gosto dele ainda estava na minha boca. Comecei a me esfregar para apagá-lo, se eu era um nada para ele, não permitiria que ele fosse algo para mim.

- AAAAAAH - gritei enquanto me esfregava com força, queria tentar arrancar Dante Vitale de mim, mas era impossível... ele já estava grudado em mim. Deixei a bucha cair, encostei na parede de azulejo, e escorreguei meu corpo até o chão. Abracei meus joelhos e, pela primeira vez desde que cheguei à Mansão Vitale, eu chorei.

Não foram lágrimas de medo. Nem de tristeza. Foram lágrimas de frustração. De raiva. De sentir algo por quem eu deveria odiar.

O som do choro se misturava ao barulho da água. Eu não era só um corpo vendido. Não era só uma barriga para carregar um herdeiro. Eu ainda era eu. E isso doía mais do que qualquer humilhação.

Quando cansei de sentir raiva dele, e pena de mim mesma, desliguei o chuveiro. Me olhei no espelho do banheiro. O rosto inchado, os olhos vermelhos. Mas ainda havia fogo no meu olhar. Enrolei-me na toalha, respirei fundo, voltei para o quarto.

Teresa estava lá. Ela olhou para mim e, pela primeira vez, vi algo diferente no rosto dela. Não era frieza. Era... preocupação.

- Valentina... - ela disse, num tom quase suave. - Você chorou?

Eu não respondi. Apenas caminhei até a cama, sentei-me, a toalha ainda presa ao corpo.

- Não precisa fingir comigo - Teresa continuou, aproximando-se. - Eu sei que não é fácil.

Olhei para ela, surpresa.

- Você não faz ideia. - Minha voz saiu baixa. - Eu não sei mais quem sou aqui dentro.

Ela se sentou na beira da cama.

- Eu sei que parece impossível. Mas sobreviver também é uma forma de lutar.

Fechei os olhos.

- Eu não quero sobreviver assim. - murmurei. - Eu não quero ser só... um objeto.

Teresa hesitou, depois colocou a mão sobre a minha, num gesto que me pegou de surpresa. Era uma mão quente, firme, com um carinho que eu não lembrava de sentir desde que meu tio morreu.

- Ninguém é só um objeto, Valentina. Nem aqui. - ela disse.

Um nó apertou minha garganta. Era a primeira vez que eu sentia algo parecido com cuidado desde que cheguei aqui. Teresa me olhou mais uma vez, depois se levantou.

- Vista-se. Penteie o cabelo. Eu volto depois para buscá-la. - Assenti. Ela saiu, fechando a porta com cuidado.

Fiquei alguns minutos sentada, só respirando. Depois levantei. Escolhi um vestido discreto, o mais próximo possível de algo que eu poderia chamar de meu. Penteei os cabelos devagar, como quem tenta alinhar os próprios pensamentos.

Quando Teresa voltou, eu estava pronta. Ela me avaliou com um olhar rápido, depois abriu a porta.

- O senhor Vitale a espera para o almoço.

Caminhei atrás dela pelos corredores. Cada passo me lembrava que eu ainda estava aqui. Que ainda respirava. Mas também que algo dentro de mim estava mudando.

Chegamos ao salão de almoço. Duas funcionárias estavam organizando a mesa. Dante estava de pé, ao lado da cabeceira, com um copo de uísque na mão.

Quando entrei, ele ergueu os olhos. Por um instante, o homem frio desapareceu. Ele viu meus olhos inchados. E, sem pensar, deu um passo na minha direção.

- O que houve? - a voz dele saiu baixa, quase... carinhosa.

Eu travei. Teresa também. As funcionárias pararam. Era como se o tempo tivesse dado um nó. Ele nunca tinha falado comigo assim antes, e pela forma como o restante do salão reagiu... acho que com ninguém.

Meus olhos permaneceram nos dele, a mão dele foi até meu rosto. Eu ameacei responder, mas então ele parou. Como se percebesse o que estava fazendo. Sua mão desceu rapidamente como se eu o tivesse queimado.

O olhar frio voltou. A máscara voltou. Ele recuou um passo, ergueu o queixo e endureceu a voz.

- Sente-se. O almoço vai ser servido.

Ele não foi cavalheiro, então eu mesma puxei minha cadeira e sentei, sem dizer nada.

Por dentro, algo se partiu. Por um instante, achei que as coisas tinham mudado, ou pudessem começar a mudar. Parece que me enganei. Ele não se importa. Eu sou só um objeto. Uma "barriga" para carregar seu herdeiro.

Mas, mesmo assim, quando nossos olhares se cruzaram de novo, senti o mesmo arrepio de antes. E percebi que, talvez, o problema maior não fosse ele. Era eu mesma.

Tentei desviar o olhar, mas não consegui. Havia algo no jeito como ele me observava, um silêncio denso, uma força que me puxava e me assustava ao mesmo tempo. Por um segundo, juro que vi o homem por trás do Don, não o monstro que todos conhecem, mas o homem que se escondia entre as sombras.

E isso me confundiu ainda mais.

Abaixei a cabeça, tentando escapar do olhar dele, mas o som grave da voz dele quebrou o silêncio:

- Coma. - Ele mandou, simples, frio, como se nada tivesse acontecido.

Mas, dentro de mim, tudo estava em ruínas.

- Não estou com fome. - tentei manter meu tom firme.

- Eu não perguntei se estava, eu mandei comer.

Levantei a cabeça para encará-lo, mas ele nem sequer me olhou. Naquele momento tentei deixar a raiva tomar conta de mim, tentando me convencer de que o que aconteceu horas atrás foi só um impulso. E que tudo que sinto por ele era ódio. Isso, eu o odiava.

Mas no instante em que levei a mão na travessa a minha frente ele fez o mesmo, sentir sua mão na minha me despertou. Meu corpo se lembrou. Claro que lembrou.

Puxei a mão rápido, e ele me ignorou.

Enquanto ele se servia com calma, como se nada o afetasse, eu percebi que precisava entender quem era o homem por trás daquele controle. E, talvez, o próximo passo fosse descobrir o que o torna tão frio e perigoso.

Porque Dante Vitale podia dominar meu corpo... Mas eu juro que um dia entenderei o que há dentro dele.

Nem que para isso eu precise me aproximar do inferno.

                         

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